Aracaju, 25 de abril de 2024
Search

COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE OUVE DEPOIMENTO DE GAMA

COMISSAO

A Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa de Araújo” iniciou nesta segunda-feira, 18, mais uma etapa das oitivas de vítimas da Ditadura Militar, implantada no país através do golpe de 1964. Neste primeiro dia, a audiência pública contou com o testemunho do Secretário de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, João Augusto Gama da Silva. No decorrer da semana, ainda serão ouvidos, no auditório do Museu da Gente Sergipana, Faustino Alves Menezes e Francisco Carlos Do Nascimento Varella, na terça e quarta-feira, respectivamente.

João Augusto Gama, que foi presidente do Diretório Central da Universidade Federal de Sergipe na década de 60, além de ter militado no movimento secundarista, sendo preso durante o Congresso da União Nacional de Estudantes em Ibiúna (68), expôs à Comissão relatos desse período, que classificou como crítico e doloroso.

“No dia 12 de outubro de 68, o Congresso de Ibiúna cai e todos fomos remetidos para São Paulo, aonde permanecemos durante 10 ou 12 dias. Depois retornamos para Sergipe, sempre com ameaças de sermos ouvidos, de sermos infortunados pelos órgãos da repressão, até que fui avisado pelo Coronel Fontes Lima que seria ouvido na Polícia Federal. Mas os assuntos se precipitaram e em 13 de dezembro, quando foi editado o Ato Institucional nº 5, eu e meus companheiros fomos presos e passamos a ter outro processo acumulado com o processo de Ibiúna. Passamos exatamente 35 dias presos e, só no início de 1969, fomos liberados”, revelou.

De acordo com o Secretário, é só a partir do recolhimento dos fatos ocorridos nos “anos de chumbo” que eles podem se tornar acessíveis para a população. “Se não houver uma divulgação, se esses fatos não se tornarem conhecidos pela população, principalmente pelas novas gerações, quem sabe se não haverá uma repetição? A Comissão da Verdade tem um trabalho importante na divulgação de todos esses fatos ocorridos, principalmente quando tivemos um período doloroso com a Operação Cajueiro em Sergipe”, pontuou Gama.

Para Antônio Bittencourt, Coordenador dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh) – responsável por estabelecer a interlocução entre o Governo de Sergipe e os membros da Comissão – tanto o Secretário como os demais depoentes da semana irão oferecer importantes contribuições. “Todos eles têm memórias importantes para revelar fatos. Revelar violações dos direitos humanos sofridos nessa época, agentes públicos que participaram dessas violações, bem como outros nomes de vítimas, para que assim possamos construir esse quebra cabeça, na perspectiva de mais adiante a Comissão emitir um relatório consistente, apresentando os problemas que aconteceram nesse período em Sergipe”.

Ainda segundo ele, na medida em que os depoimentos vão acontecendo, outras possibilidades de nomes para as oitivas podem ser colocadas. “Além dos que foram vítimas, a Comissão vai convidar também aqueles que colaboraram com a Ditadura Militar. Nós temos ouvido durante as audiências, por exemplo, pessoas sendo denunciadas por terem favorecido ações da ditadura, então essas pessoas também serão convidadas a vir aqui prestar esclarecimentos”, disse Bittencourt.

As audiências públicas, que continuam nesta terça e quarta-feira, 19 e 20, ainda se estenderão pelo menos até o próximo mês, como conta o presidente da Comissão da Verdade, Josué Modesto dos Passos Subrinho. “No próximo mês nós temos uma previsão de mais três depoentes e, provavelmente, posteriormente iremos avaliar a continuidade ou uma pausa para consolidar esses depoimentos e analisarmos o que já foi dito. Será uma etapa de trabalhos mais internos para finalmente fazermos outra rodada de oitivas”, finalizou.

Texto: Catarina Soares

Edição: Rebecca Melo

Leia também