Aracaju, 24 de abril de 2024
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FALECEU AOS 103 ANOS, O ESTANCIANO ORLANDO DE OLIVEIRA

Segundo seu sobrinho, o professor e ex-secretário de Estado, José Carlos de Oliveira, Orlando de Oliveira, estava há mais de seis meses, internado no Hospital São Lucas, em Aracaju, e faleceu na manhã desta terça-feira, 16, com 103 anos.

Segundo Sônia, filha do falecido, o velório está sendo realizado na Osaf, em Aracaju e o sepultamento, será nesta quarta-feira, ás 10h00, em Estância, terra natal de Orlando, saindo da Osaf, localizada na Praça Sete de Setembro.

HISTÓRICO

Nasceu em Estância, no dia 24 de novembro de 1912, Orlando de Oliveira, filho de Antídio de Souza Oliveira e Ana Rosália de Oliveira. Ele é tio de José Carlos de Oliveira, ex-secretário de Estado da Administração no governo de Antônio Carlos Valadares. “O bom velhinho”, gosta de futebol, forró, samba e é torcedor de carteirinha do Flamengo. “Sou Flamengo até morrer”, pronuncia.

Durante a visita que fizemos na manhã desta quinta-feira, 21, à casa de Orlando, que sempre está acompanhado de sua filha Sônia, bastante alegre com a vida, ele destacou que nunca teve tempo para estudar e nem para brincar porque começou a trabalhar cedo com cinco anos de idade como toda família pobre para ajudar nas despesas de casa. “Trabalhava em tudo, nem estudar direito não conseguia”, destacou Orlando, que toda vez que é questionado como está, apesar da idade, mas responde logo que está tinindo (vibrante).

O pai de Orlando, Antídio, era guarda do Estado, foi alfaite e teve treze filhos, sendo oito mulheres e cinco homens. “Meu pai fazia busca-pé, e para testar os fogos se dirigia até à Praça da Igreja para medir a altura que os fogos subiam. Era meu pai e Jesuíno de Oliva, pai de Dantinhas, que iam testar os busca-pés e as espadas com gente dos Profetas”, contou.

Seu Orlando, que é pai de duas filhas: Sônia e Tônia, disse que seus pais, que eram também estancianos, sempre moraram na Rua Marquês do Herval, antiga Rua da Miranga. Ele já foi motorista e trabalhou no aterro, para a construção do Estádio Fonte Nova, em Salvador/BA.

Na sua cidade natal, exerceu a profissão de motorista e trabalhou da mesma forma nas oficinas das fábricas de tecidos Santa Cruz e Senhor do Bomfim. Como autônomo, foi pedreiro, carpinteiro, funileiro, sapateiro e alfaiate. Fez até uns serviços de eletricista. Era um polivalente. Aliás, essa família foi famosa com sua alfaiataria instalada em Estância. Possuiu um bar na Rua Capitão Salomão, perto de Nozinho do Café Gatão. “Eu aprendi a fabricar bica com o italiano Nicolau Mandarino”, recorda Orlando.

Nas primeiras viagens que fez para fora do Estado, Orlando lembrou que foi a navio, e foi abordo do navio Itatinga, quando seguiu para Salvador e Ilhéus/BA e depois Rio de Janeiro. “Eu conseguir um emprego bom no Rio, já estava familiarizado com os amigos que trabalhavam no navio, contudo, tive que pedi demissão do emprego porque o meu pai teria falecido e eu precisei voltar para ficar com minha mãe, e foi aí que comecei a trabalhar como alfaiate”, informou.

Recordando satisfatoriamente sobre seu pai, Orlando disse que ele era músico da Lira Carlos Gomes, tocava trompa e tinha como colega de banda, Chico Rio, mas no mesmo instante, lembrou que nem ele e nem seus irmãos tocaram na Lira, mas que todos eram trabalhadores. “Minhas irmãs bordavam e costuravam”, disse.

Ele conta ainda com orgulho, que foi chofer do prefeito Dr. Pedro Soares, irmão da professora Ofenísia Freire Soares. Trabalhou na loja do português, José Pinheiro Alvelos (Rua do Pernambuquinho), aprendeu a costurar com seu irmão Oliveira, que morava no Rio de Janeiro.

Como alfaiate, caprichoso e dos bons da Estância, Orlando era procurado por muitos, inclusive pelo próprio Dr. Pedro Soares, Dr. Paulo Amaral, Elisiário Silveira, Raimundo Silveira Souza, Constâncio Vieira e tantos outros que o procuravam. Ele trouxe à memória que eram as pessoas que traziam a fazenda (pano) para ele fazer vestuários como calça, colete, camisa e paletó.

Nem só de trabalho vivia Orlando de Oliveira. Amante do forró e do samba, ele se divertia pra valer. Nas festas que aconteciam nas casas de Dr. Jessé Fontes e de Seu Alípio, Orlando que nunca bebeu e nunca fumou, era o primeiro a ser convidado, porque dançar era com ele mesmo. “Eu só não gostava de dançar valsa porque é muito lento”, afirmou.

Ainda lembrou que nos sábados, ia passear nos barcos da Fábrica Santa Cruz, para vê-los chegar carregados de lenha e descarregar na fábrica, e os barcos paravam nas “Sete Casas”.

Dos cinemas, Orlando relatou que assistiu muitos filmes no Cinema Itatiaia, de propriedade de Conegundes de Melo, onde sua sala de projeção funcionava na ‘Casa Inglesa’, hoje o prédio da agência do Correios, no Largo João Pessoa.

Quando foi para o Rio de janeiro, Orlando narrou, que seu pai lhe deu 20 mil réis, e aí ele comprou duas calças, duas camisas e guardou 8 mil réis. Segundo ele, a mala para colocar suas roupas, foi ele mesmo que fabricou, improvisando num caixote de carregar gás. “Eu tinha dezoito anos à época e fui trabalhar como motorista no Rio de Janeiro”.

Orlando é um homem que soube aproveitar a vida, trabalhou, fez muitos amigos, dançou, mas também curtiu e apreciou a natureza com simplicidade. Na praia do Mangue Seco, teve por muitos anos um casebre, que costumava passar os finais de semana com a família e recebendo a visita de amigos. Para se deslocar até o Mangue Seco, costumava pegar uma canoa na maré do Porto D’ Areia e seguia até lá no remo e na vela.

Mas o que Orlando de Oliveira gostava mesmo era dançar, e ele disse que dançava como ninguém. Fã dos sambas do Jair Rodrigues, “Tinindo” até hoje canta uma das estrofes que marcam sua vida: “Canta , canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá…”.

POR MAGNO DE JESUS – JORNALISTA, RADIALISTA, GRADUADO EM LETRAS (PORTUGUÊS) E PÓS GRADUADO EM COMUNICAÇÃO, MARKETING E ASSESSORIA DE IMPRENSA

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