Aracaju, 28 de março de 2024

GMA: projeto Anjos Azuis é instrumento para fomentar cidadania

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Jaiminho é um menino em plena descoberta da vida e que, em meio à curiosidade comum a toda criança, acaba sendo induzido por Carlão, um menino não tão bom, a conhecer o caminho das drogas. Mas, no final da história, Jaiminho, com a ajuda de bons guardas, é quem acaba levando Carlão a conhecer o lado bom da vida.

Apesar de poder ser verídico, esse enredo é de uma história criada pela Guarda Municipal de Aracaju (GMA), através do “Anjos Azuis”, projeto pensado e colocado no papel em 2011 e executado a partir do ano de 2013. Por meio dele, sete guardas municipais da capital, deixam momentaneamente as operações nas ruas da cidade para se dedicarem ao ofício de colaboradores na construção dos cidadãos. Assim, por meio de peças teatrais, palestras e rodas de conversa, temas como drogas, bullying, depredação do patrimônio público, violência contra mulher, trânsito e meio ambiente são levados a escolas e outras diversas instituições de Aracaju, e até de outros municípios do estado.

A ideia da implantação do projeto partiu de uma inquietação da guarda municipal Sabrina Smith, coordenadora do Anjos Azuis. “Muitas vezes, quando estava em alguma demanda operacional na rua, via muitas crianças se aproximarem de nós guardas, mas, logo se afastavam porque tinham medo. Isso me incomodava muito, afinal, a Guarda não existe para causar medo, mas para proteger a população. Quando pensei no projeto, foi justamente para que, não só as crianças, mas toda a sociedade pudesse ter esse sentimento de proteção e confiança no trabalho realizado pela GMA”, relatou Sabrina.

Hoje, a principal forma de atuação do projeto são as peças de fantoche. Ao dar vida aos personagens Jaiminho, Mosquito da Dengue, Carlão (Menino Mau), Alice (Menina Esperta), Analú (Empoderada), Guarda Sara, Guarda Josué e o Agente de Saúde, os guardas municipais não somente tentam desmistificar a ideia de que guardas transmitem medo, como também ajudam na disseminação de condutas cidadãs, solidárias, e boas práticas consigo mesmo e com o próximo.

“Criamos temáticas de acordo com os assuntos que mais estão sendo debatidos ou visados e nos reunimos para desenvolver as peças que seguem as diretrizes da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas), órgão do Ministério da Justiça que nos auxilia para que não usemos, por exemplo, algum termo equivocado ou que cause algum tipo de constrangimento. Tudo é cuidadosamente pensado, até porque o nosso maior público é feito de crianças e temos que ter muita atenção ao fazer um trabalho de formação”, explicou a GM Sabrina.

Confecção dos bonecos

O interesse por fantoches fez com que Sabrina e outra colega de corporação, que esteve durante um tempo no projeto, recorressem a vídeos na internet para aprender como confeccionar os bonecos. E não demorou muito para Jaiminho surgir, o primeiro personagem do grupo. “Como não tínhamos muito recurso, fazíamos até bazar para arrecadar dinheiro e poder comprar o material. Depois começamos a assistir vídeos e logo fizemos o primeiro boneco. Muitas vezes, usamos nosso próprio dinheiro na confecção, mas isso é recompensado quando vemos que o nosso trabalho está dando resultado”, afirmou a GM Sabrina.

Para a confecção dos bonecos, o material básico é a espuma que compõe o corpo. Além disso, são usados ainda tecidos para as roupas, os olhos de plástico, e perucas que são feitas de cabelo sintético.

Mudança de visão

Ao longo de quatro anos trabalhando na tentativa de modificar a visão, principalmente das crianças com relação à Guarda, a equipe do Anjos Azuis tem como termômetro o final de cada apresentação. “Quando chegamos nos lugares, as crianças ficam olhando com um certo receio e, ao final de cada apresentação, nós já recebemos um outro tipo de olhar. Muito professores das escolas que fomos nos procuraram para contar sobre a mudança de comportamento dos alunos e isso tudo é muito gratificante”, desabafou Sabrina.

Em uma das ações do grupo, ocorrida em parceria com a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), o pequeno Rafael, de dez anos, encheu os olhos durante a apresentação sobre conscientização no trânsito. “Eu gostei porque agora eu sei que os guardas também nos ajudam a fazer coisas legais”, disse.

A coleguinha de Rafael, Mariana, também de dez anos, dividia as gargalhadas com a atenção para os ensinamentos. “Eles são engraçados e aprendi muito. Antes eu ficava um pouco assustada quando via um guarda, agora, eu já acho bem bacana”, contou.

Mas, a mudança não é unilateral. Se as crianças têm aprendido muito, os guardas também têm passado por um processo de evolução, inclusive pessoal. Foi o que relatou o GM Marcílio Barbosa, que está no Anjos Azuis desde a sua formação. “Percebi que poderíamos reduzir os índices de violência através da prevenção e nas nossas apresentações é isso que objetivamos fazer: prevenir. Porém, notei também que, enquanto eu tentava mudar a postura das crianças, eu também estava mudando. Com o projeto comecei a enxergar através do olhar daqueles que não são guardas. A gente acaba tendo uma visão mais humana das coisas”, destacou o GM.

A mais nova integrante do grupo Anjos Azuis, a GM Aracelly Matos já tem afinidade com a área da educação e o seu TCC do curso de Ciências da Computação tem como foco a criação de um jogo educativo para estimular as crianças a se tornarem verdadeiros cidadãos. Entretanto, ela assume que, mesmo com pouco tempo atuando no projeto, já consegue identificar o seu comportamento diferente. “Se já temos zelo pelas pessoas, acho que passamos a ter mais ainda. Lidar com criança mexe com a gente, ainda mais na nossa profissão. Não só os guardas, mas todos devemos ter na consciência que as crianças são a base para o nosso futuro e temos que cuidar delas enquanto ainda são crianças. Fazemos esse trabalho preventivo nas ruas, mas percebemos que muitos crimes que acontecem poderiam ser evitados se aquela pessoa que cometeu o crime, na infância, tivesse sido tratada”, considerou.

Foto Sérgio Silva

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