Aracaju, 29 de março de 2024

Projeto Lápis de Cor dá continuidade às ações contra o racismo nas escolas

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Enquanto na sala toca a canção Aquarela, de Toquinho, a estudante do 5º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Costa Melo, Helena Messias, vai desenhando e pintando uma delicada garotinha de pele negra e cabelos cacheados azuis, que ela diz ser a representação de si mesma. A atividade faz parte do Projeto Lápis de Cor – Ciclo de Diálogos sobre racismo na infância, uma iniciativa da Secretaria Municipal da Educação (Semed), junto à Secretaria Municipal da Assistência Social, na luta contra o preconceito racial.

O projeto vem sendo executado desde 21 de março, no Dia Internacional de Combate ao Racismo. Durante as ações, representantes da Semed e da Assistência Social mostram vídeos, promovem atividades de pintura e dialogam com os estudantes sobre o que é racismo e atitudes racistas. A coordenadora de Políticas para a Diversidade (Coped/Semed), Maíra Ielena, explica e forma mais detalhada. “O nome do Projeto remete ao filme que debate o que é cor de pele, passado para os alunos durante a ação. As crianças desenham como elas se vêem ou como elas gostariam de ser, e acaba sendo muito surpreendente”, conta.

Maíra relata ainda o que tem observado durante as ações. “Há crianças que se desenham e pela primeira vez usam o lápis de cor marrom para pintar a própria pele, afirmando que é a primeira vez que se desenham assim. Já em outros casos, crianças com a tez mais escura se pintam com o lápis cor de pele, dizendo ‘tia, é assim que eu gostaria de ser’. É aí que percebemos o quanto o racismo impactou na percepção dessa criança, em relação ao olhar sobre o meio social, mas também em relação a si mesma e o quanto isso está causando problemas na sua autoestima”, evidencia.

Boas perspectivas

A diretora da Costa Melo, Itamara Leite, diz que já presenciou atos de racismo entre os alunos. Ela expressa que o Lápis de Cor agrega importância às propostas pedagógicas da Escola por abrir o debate com as crianças para que elas se percebam, se reconheçam e se valorizem como elas são: com o cabelo crespo, cacheado ou liso.

“É ideal que eles percebam que às vezes eles mesmo podem agredir o colega com atos, mesmo sem ser a intenção. Somos diferentes enquanto corpo, mas como essências somos iguais. Seres humanos com muitos potenciais a serem desenvolvidos, e não é a cor da pele ou o tipo de cabelo que define isso. Vamos começar a trabalhar o tema do 6º o 9º ano, a partir de projeto sobre a cultura africana e as temáticas como o racismo e a intolerância religiosa, falando também da gastronomia, danças, roupas e outras questões. Será um projeto longo e que terá sua culminância, provavelmente, no mês de janeiro”, pontua a diretora.

A estudante Helena Messias expressa o que pensa sobre o assunto abordado com ela e sua turma. “Acho que ajuda a todos nós a parar com essas atitudes feias que muitos têm com as pessoas de pele negra, de cabelos cacheados e até mesmo aquelas acima ou abaixo do peso. O mundo ideal para mim seria sem pessoas fazendo chacota dos colegas, e sim com elas sendo legais umas com as outras, fazendo com que a humanidade dure mais. Hoje vou sair daqui e vou me achar mais bonita porque eu sou assim e ajudar outras pessoas a se gostarem também”, afirma.

Mudança de paradigmas

Como membro da Diretoria dos Direitos Humanos da Assistência Social, Paulo Victor Melo explica que se a construção social do racismo foi longa, o processo de desconstrução do racismo também não vai se dá somente por um decreto ou Lei, mas sim por uma série de ações articuladas, que precisam ser feitas no âmbito escolar, nos meios de comunicação, na área da cultura e do debate público. Por isso a aplicação desse projeto Lápis de Cor, ajudando a desconstruir a ideia do racismo no Brasil.

“Trabalhar o tema com crianças e adolescentes nas escolas é fundamental porque eles estão em uma fase de desenvolvimento, na idade em que estão formando seus valores, suas ideias e opiniões sobre o mundo. O racismo é um componente que faz parte da estrutura social brasileira. Isso a gente vê desde a época da colonização, no processo de escravidão. Então já a partir dali a história oficial tem contado que havia uma raça inferior, e essa população era a africana, essa ideia faz com que a população afrodescendente seja vista por alguns como de pessoas inferiores, que não produzem conhecimento, que não tem capacidade de trabalho para determinadas áreas”, conclui Paulo Victor.

Foto: Walter Martins. Ascom/Semed

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