Aracaju, 20 de abril de 2024
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O Crafi que balança o Governo e as chamas que consomem subsídio da PM

Não costumo embarcar em teorias conspiratórias para tentar explicar algumas situações, por mais absurdas e surreais que pareçam. Aliás, quase sempre, a explicação mais simples e objetiva é  a mais válida e confiável  (Navalha de Occam). À primeira vista, a decisão do Crafi parecia decorrer mesmo da sua autonomia e do fato de a questão de ordem jurídica ter sido suscitada pela Procuradora-Geral do Estado, seguida pelos demais conselheiros. É fato notório que as outras leis aprovadas recentemente preveem um gatilho (retorno ao limite prudencial da LRF), por versarem sobre aumento de despesa com pessoal. A da Polícia Civil, embora não possua dispositivo semelhante, deveria, na visão (equivocada) da douta procuradora, ter seus efeitos financeiros condicionados à superveniência do aludido evento contábil.

A segunda explicação – pouco crível – parte da premissa de que o Crafi jamais tomaria uma decisão dessa envergadura à revelia do Chefe do Executivo. Mais ainda: assevera que o governador teria utilizado o Crafi para realizar o “serviço sujo”, sendo ele mesmo o arquiteto da maldade perpetrada contra os delegados, agentes e escrivães de polícia.

Segundo essa linha de raciocínio hollywoodiana, os delegados – leia-se: Polícia Civil de Sergipe – teriam sido escolhidos como cobaias pelo Governo, pois o valor gasto mensalmente com plantões na PC (450 mil reais) corresponde a menos de 10% do impacto mensal a ser gerado em abril de 2018, quando entrará em vigor o subsídio da Polícia Militar, algo em torno de 6 milhões de reais por mês ou 78 milhões de reais por ano (incluído o 13º salário).

Antes de tratar publicamente essa segunda tese, consultei pessoas de dentro e de fora do governo especializadas em conspiracionismo. Todas disseram não acreditar –  ou fingiram não acreditar –  que Sua Excelência esteja por trás de tamanha indignidade praticada contra os delegados. Segundo esses notáveis, o Crafi agiu por conta própria, e o Governador, coitado!, está há uma semana tentando conseguir um bendito parecer da PGE que o autorize a cumprir o que a lei lhe determina, sem incorrer em ato de improbidade administrativa. Lei de sua autoria, diga-se de passagem, aprovada à unanimidade pela Assembleia Legislativa.

Em conversa mantida comigo nos estúdios de uma emissora de rádio, em pleno Feriado de Finados, o deputado Samuel Barreto disse que a nota da Adepol, divulgada na véspera, denunciando a arbitrariedade cometida pelo Crafi, havia incendiado a PM (não sei dizer se as labaredas atingiram o Corpo de Bombeiros), que aguarda esperançosa e ansiosamente a implementação do seu subsidio no dia *1º de abril de 2018.* Eu acalmei o intimorato capitão, garantindo-lhe que o assunto na Polícia Civil havia sido resolvido no dia anterior,  por determinação do governador Jackson Barreto. E estava mesmo, juro que não era mentira. Só que a verdade contada ao secretário de segurança pública no dia anterior, que contou à delegada geral, que contou a mim, que contei ao nobre deputado, morreu ali mesmo, naquele Dia de Finados, longe das nossas vistas, atingida por uma caixa cheia de mentiras, desfaçatez e descompromisso.

Outras versões começam a espocar. Cada uma mais desatinada que a outra. Mas eu continuo achando que se trata apenas de um equívoco que logo, logo será corrigido. A primeira versão a gente nunca esquece.

*Paulo Márcio Ramos Cruz*
*Presidente da Adepol*

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