Aracaju, 28 de março de 2024

Sala de Recursos promove a inclusão em escolas da rede municipal

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Houve um tempo em que a escola era um local que apenas existia para transmitir os conhecimentos formais das disciplinas que  contribuiriam para o futuro profissional. Hoje, com o estímulo à conscientização acerca da multiplicidade humana, a escola passou a ser um ambiente que auxilia na preparação para a vida em sociedade e essa preparação tem muito a ver com inclusão. E é justamente para fomentar a inclusão que as escolas da rede municipal passaram a implementar, há cerca de oito anos, a Sala de Recursos Multifuncionais, um ambiente complementar e/ou suplementar  ao trabalho realizado em sala de aula regular e que oferta aos  alunos público-alvo da educação especial  recursos e estratégias que possibilitem e/ou facilitem a rotina na escola e, sobretudo, em sociedade.

Foi através de um programa do Ministério da Educação (MEC) que a Sala de Recurso surgiu e, a cada dia, promove a quebra de paradigmas, já que trabalha de maneira conjunta com a sala de aula regular e expande os horizontes, não só dos alunos assistidos, mas  dos demais que são igualmente sensibilizados  para lidarem com as especificidades comuns a cada ser humano. Assim, se em um turno o aluno com deficiência está em sala de aula regular em convívio com outros alunos, no outro ele recebe atendimento voltado para sua necessidade especial.

“Temos crianças com deficiência visual, auditiva, casos de autismo, deficiência múltipla, microcefalia, paralisia cerebral e todas elas estão inseridas na educação regular e recebem o auxílio da sala de recurso que, de maneira resumida, é um programa vinculado à noção de atendimento especializado (AEE – Atendimento Educacional Especializado) que tem como objetivo a garantia de que as crianças aproveitem o espaço escolar tendo contempladas as suas necessidades mais específicas. Esse AEE diz justamente sobre as obrigatoriedades do sistema de educação para que todos os recursos sejam ofertados a essas crianças com deficiência e isso vai desde a rampa de acesso à escola até os recursos tecnológicos, toda a adaptação para que essa a criança tenha, dentro da especificidade dela, a possibilidade de adquirir conhecimento”, explicou Thaisa Aragão, coordenadora de Educação Especial (COESP) da Secretaria Municipal da Educação (Semed).

Mais do que garantir o acesso ao conhecimento, a implementação de políticas públicas voltadas para a inclusão, com programas como o das Salas de Recursos, cuida para que, não só a criança com deficiência passe a se enxergar como, de fato, parte da sociedade, mas também que as demais crianças e adultos, como no caso dos pais, entendam que ser diferente é normal, é inerente ao ser humano.

“Se a gente for fazer um histórico, a educação especial começou de uma forma que promovia a integração e não a inclusão. As crianças tinham acesso à educação, mas em instituições que só cuidavam de pessoas com deficiência, ou seja, elas continuavam segregadas, separadas do convívio com as crianças que não tinham deficiência. Foi nesse período que surgiram as instituições exclusivas para crianças com deficiência, cada uma atendendo a uma necessidade específica. Muitos anos depois começou a se aplicar um modelo de inclusão. Por isso temos um documento que é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva que prevê a Educação Especial como modalidade de ensino transversal, ou seja, vai desde a educação infantil até o ensino superior. Isso implica numa mudança de paradigma, e uma mudança de perspectiva das políticas públicas”, reforçou Thaísa Aragão.

Aracaju inclusiva

Atualmente, Aracaju possui 74 escolas da rede municipal, sendo que 22 delas possuem a sala de recursos, número que atende bem à demanda. A rede conta com quase 600 crianças em inclusão, porém, segundo a coordenadora da COESP, nem todas precisam de  atendimento  em Sala de Recurso pois avançam bem com o trabalho realizado em sala regular.

Uma das crianças atendidas, diagnosticada com baixa visão,  frequenta a Sala de Recursos de duas a três vezes por semana, como é o recomendado pela rede municipal. Toda tarde ela tem aulas da educação regular e, pela manhã, conta com o  atendimento voltado exclusivamente para a sua especificidade. Caso ela tenha alguma dificuldade nas aulas regulares por conta da baixa visão, na Sala de Recursos essa dificuldade é  trabalhada pela professora que o atende  através de metodologias específicas.

Quem o atende é a pedagoga Elissandra Gomes que, apesar de estar na Sala de Recursos há dois meses, além de cursos e formação voltada para  alunos com deficiência, já tem uma vasta experiência em sua própria família. Seu marido, que também é professor da rede municipal, tem baixa visão e, como ela mesma fez questão de citar, é um exemplo de dedicação a ser seguido, já que nunca esmoreceu por conta do problema na visão. “Fiz alguns cursos para lidar com surdez, cegueira, cursos de autismo. Trabalhar com essas crianças me move, me dá vontade de fazer mais. Não é só o trabalhar pelo trabalhar. Me faz querer melhorar como ser humano. Nosso olhar muda. Precisamos entender que os diferentes possuem direitos iguais, ou seja, assim como eu e você, eles precisam ter acesso à qualidade de vida e, para isso, é necessário que se forneçam os meios, que sejam adaptados a eles, para que possam atingir essa qualidade de vida. Mesmo com algum tipo de deficiência, essas crianças são capazes de fazer muita coisa”, afirmou.

Bem como Elissandra, Anatercia Santos também é professora e pedagoga da Sala de Recursos e entende que todo o trabalho deve ser feito de forma conjunta. “Nos reunimos e definimos algumas metas, na sala regular e na de recursos. Sempre temos um diálogo com os professores porque eles vão dizer qual é a dificuldade do aluno para sabermos o que vamos trabalhar com ele. Levamos sempre atividades e ações voltadas para a conscientização dos alunos a respeito da criança com deficiência, justamente para que eles aprendam a lidar com ela e, assim, ocorra a inclusão”, disse.

Durante os três anos em que trabalha na sala, a pedagoga já conviveu com diversas histórias de superação, não somente das crianças com deficiência. “Temos uma aluna que tem deficiência múltipla e os demais alunos já sabem que a aprendizagem dela é muito auditiva, então, todo mundo canta, ela sorri e todos ficam felizes com isso. As outras crianças já entendem até o que pode estar fora do padrão normal das crianças com deficiência e também ficam atentas para ajudar, nem que seja alertando o professor. Isso é o que desejamos quando falamos de inclusão. Vemos muitas crianças  nas escolas hoje em dia e isso não significa que o número de alunos com deficiência aumentou, na verdade, o que aconteceu é que, depois das políticas públicas voltadas para a inclusão, eles estão saindo do casulo porque antes elas eram segregadas ao seu espaço familiar, mas, agora, já conseguem enxergar as possibilidades de uma sociedade que agrega mais”, destacou Anatercia.

Para Thaísa Aragão, a inclusão convoca o lado humano. “A inclusão quebra esse paradigma de educar só para passar no vestibular. Ela educa de uma maneira mais abrangente, é uma maneira mais humanizada. As crianças não são pequenas máquinas, são seres humanos. A gente precisa pegar essas crianças tão curiosas para aprender a como lidar com o outro, conhecer o outro, e isso também faz com que possamos conhecer muito de nós também”, ressaltou.

Família

Um documento produzido pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação que trata sobre educação inclusiva frisa esse modelo de escola que não segrega, mas prolifera a necessidade de promover a inclusão. Nele consta o papel da escola como função social e destaca que “é a instituição responsável pela passagem da vida particular e familiar para o domínio público, tendo assim uma função social reguladora e formativa para os alunos. Ela precisa assumir um compromisso com as mudanças sociais, com o aprimoramento das relações entre os concidadãos”.

Entretanto, em sua missão de agregar, a escola conta com uma participação mais do que fundamental, indispensável. É como parte íntima da vida da criança que a família se insere no reforço daquilo que é passado em sala de aula. Para a coordenadora da COESP, dentro da especificidade da Sala de Recursos, o esforço tem que ser conjunto, e multilateral.

“À medida que a família participa do processo de aprendizado da criança com deficiência, também a ajudamos a lidar com a criança porque sabemos que, muitas vezes até por falta de orientação, os pais não conseguem dar o suporte necessário, por isso precisamos tanto da aproximação deles. A Sala de Recursos trabalha com um plano de atendimento individualizado e precisa da parceria com a família. É um trabalho minucioso das necessidades de cada um, das potencialidades individuais para que  as metas estabelecidas sejam possíveis de alcançar”, concluiu Thaísa.

Foto: Sergio Silva

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