Aracaju, 26 de abril de 2024
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Artesanato sergipano recebe investimento do Projeto Dom Távora

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O projeto realizou oficina para bordadeiras de cinco municípios que trabalham com ponto cruz, richelieu e rendendê e tiveram como inspiração estética o artista sergipano Artur Bispo do Rosário.

Bordadeiras de várias comunidades do interior sergipano estiveram reunidas no Museu da Gente Sergipana, esta terça-feira, dia 5, para apresentar o resultado da “Oficina da Prática Criativa e Integração do Artesanato apoiado pelo Projeto Dom Távora”. O resultado foi de encher os olhos de beleza e criatividade. Como produto final da oficina, as bordadeiras criaram uma bolsa em tecido que reúne ponto cruz, richelieu e rendendê em um só lugar.

A artista plástica e consultora do Projeto Dom Távora que assessora as artesãs, Marlette Menezes, disse que o objetivo foi alcançado. “Nosso propósito não era fazer uma bolsa reunindo as várias técnicas, mas contribuir para a construção do pensamento criativo, a integração social, reflexão crítica, prática criativa nos processos da produção e formação de redes do artesanato de referência cultural sergipana. O produto final demonstrou que é possível ir além, fazer mais”.

Marlette Menezes teve a oportunidade de apresentar a trajetória percorrida no assessoramento aos projetos de artesanato apoiados financeiramente pelo Projeto Dom Távora. “Fiz um diagnóstico de todo artesanato sergipano e me encantei. Fiquei surpresa com a riqueza e diversidade da produção cultural sergipana. O encanto maior foi de saber que o Artur Bispo do Rosário, que admiro tanto, que é artista daqui. Então buscamos inspiração nele.”

A consultora explicou que a primeira etapa aconteceu durante os dias 24 e 25 de maio no Povoado Nova Brasília, Tobias Barreto, e reuniu artesãs de cinco comunidades e técnicas de referência cultural do artesanato praticado em Sergipe envolvendo o rendendê da localidade Félix Cardoso de Sá – povoado Tapuio, município Aquidabã; ponto cruz da localidade Caraíbas em Canhoba; e o richelieu das localidades Nova Brasília, Samambaia e Capitoa em Tobias Barreto. Contou ainda com a participação de experiente artesã que trabalha com tear no povoado Amargos, em Poço Verde, e outra que trabalha com o trançado em palha do Projeto Formiguinha em Neópolis.

As 15 bordadeiras viveram a experiência da construção colaborativa recombinando matérias primas, técnicas e processos do fazer à mão. Elas cortaram o tecido, costuraram e bordaram 45 bolsas com o que tem de melhor na arte sergipana.  “Este encontro abriu espaço para experimentação, troca e novas construções. Tendo como inspiração Bispo do Rosário, como desafio estético para a produção de sacolas, contribuiu pra emendar histórias, trocar saberes, intensificar experiências e aprendizagem. Elas perceberam que podem ousar e inovar na estética, que seu bordado tem valor e que pode viver disso”, avaliou Marlette.

A secretária de Estado da Agricultura, Rose Rodrigues, que tem na sua pasta a coordenação do Projeto Dom Távora, fez a saudação às bordadeiras dizendo da felicidade de ver o resultado do trabalho que reuniu as várias técnicas de bordado e também porque coloca as comunidades no caminho do objetivo do Projeto de reduzir a pobreza rural fortalecendo iniciativas de geração de renda, conforme a proposta do Governo estadual em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). “Fico feliz também porque é mais uma oportunidade de ver as mulheres do campo rompendo preconceitos, ultrapassando barreiras e mostrando suas capacidades”.

Testemunho

“Muitas de nós não acreditávamos que daria certo juntar o rendendê, rechelieu e ponto cruz em um só trabalho, mas aceitamos o desafio da professora Marlette e o resultado foi uma maravilha. Tivemos notícias hoje de que temos até uma encomenda das bolsas para um evento com pessoal de outro estado. Nós de Tobias Barreto, só temos a agradecer por esse Projeto Dom Távora que reuniu as mulheres num só propósito e está ajudando, com essas oficinas e com capital de giro, para melhorar a qualidade e a produção”, expressou a bordadeira Josefa Aparecida.

A presidente da Associação das Bordadeiras das Caraibas, Canhoba, Chifronese Santos, falou dos ganhos com o apoio do projeto e das oficinas. “O mais importante nessa oficina é a troca de conhecimento com as companheiras de outros municípios. Essa troca está enriquecendo nosso artesanato que passa a ganhar mais valor no mercado. Antes do projeto não estávamos organizadas, e uma peça do artesanato era vendida a preço muito baixo. Chegamos a vender a R$ 2,00 a peça para o atravessador. Hoje só vendemos com o preço justo”.

A bordadeira Rosivânia Menezes assegurou que o Projeto Dom Távora chegou para fortalecer o rechelieu. “Essa técnica do bordado já tem 100 anos que foi introduzido aqui em Tobias Barreto. Contam que chegou por meio de religiosas italianas, mas fizemos do nosso jeito e já é uma marca nossa”.

Investimento do Dom Távora

Durante a programação no Museu, o coordenador Geral do Dom Távora, Delmo Naziazeno apresentou alguns resultados e perspectiva para o artesanato: “Desde 2016, quando o Projeto Dom Távora entrou em efetividade até hoje, foram apresentados 15 planos de investimentos para desenvolvimento do bordado em nove municípios, 60% da área de atuação do Projeto. Destes cinco já receberam recursos para as comunidades Tapuio em Aquidabã, comunidade quilombola Caraíbas em Canhoba, Gavião em Graccho Cardoso, Passagem em Neópolis e Amargosa em Poço Verde. A perspectiva é de que até o fim deste ano finalizemos com investimento total em atividades de artesanato no valor de R$ 4.536.056,51 em todos os projetos apresentados”.

Texto: Ednilson Barbosa Santos

Foto: Solange Gomes e Jorielton Santos

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