Aracaju, 18 de abril de 2024
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José Carlos Teixeira, de mecenas a político de expressão nacional

TARCÍSIO TEIXEIRA

Falar de José Carlos Teixeira e de sua profícua vida é algo que exige entender a história recente do nosso país e da iniciativa de divulgar a cultura, tanto no seu lado erudito quanto na sua feição popular.

Nascido na cidade de Itabaiana em 1936, a partir de 1939 passou a residir em Aracaju, para onde seu pai, Oviedo Teixeira, se mudou com a família para se instalar como um dos mais importantes comerciantes de tecidos da época.

Na juventude, começou a trabalhar com o pai na loja de tecidos da família atendendo todo o povo sergipano. A vida estudantil com participação nos grêmios, fez com que José Carlos fosse convidado a participar da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – SCAS, fundada por Feltre Bezerra, assumindo o cargo de presidente, com menos de 22 anos, passando a produzir, localmente, espetáculos que, até então, só podiam ser assistidos no eixo Rio-São Paulo. Para diminuir os custos de produção, José Carlos hospedava, na casa do seu pai, os artistas que vinham se apresentar aqui. Após seu casamento, em 1958, passou a hospedar estes artistas em sua própria casa e na casa do pai.

Durante este período foram inúmeros os espetáculos de música erudita, contando com quartetos, orquestras e outras formações, além de peças de teatro, que abrilhantavam a cena cultural aracajuana.

Apesar de Oviedo Teixeira desejar que José Carlos assumisse com ele o comando da empresa, a veia política se manifestou de forma muito mais pujante, talvez por uma admiração precoce do seu tio Silvio Teixeira, que foi prefeito de Itabaiana e deputado estadual, tendo assumido a presidência da Assembleia Legislativa.

Esta atuação cultural significativa fez com que fosse convidado pelo senador Júlio Leite, líder do Partido Republicano-PR, para se candidatar a deputado estadual. Quando o líder do Partido Social Democrático-PSD, senador Leite Neto, soube do convite do Partido Republicano, tomou a iniciativa de convidá-lo para concorrer ao cargo de deputado federal. Ambos os partidos atuavam na oposição à UDN, partido do então governador Luiz Garcia.

José Carlos optou por se filiar ao PSD e concorrer a deputado federal, apesar de não conseguir, inicialmente, o apoio de Oviedo Teixeira, que não o queria envolvido na política e sim se preparando para sucedê-lo à frente dos negócios. Quem demoveu seu Oviedo de sua posição fazendo-o apoiar José Carlos foi Luiz Teixeira, irmão de José Carlos. A partir daí, Oviedo Teixeira entrou na campanha pedindo voto para o filho a todos os comerciantes e clientes. Oviedo Teixeira tinha uma penetração muito grande na sociedade sergipana e foi decisivo na eleição de José Carlos, fazendo-o o segundo candidato mais votado na eleição, tendo assumido o mandato em 1962 e sido reeleito em 1966.

Com a eleição, José Carlos mudou-se para Brasília, sem esquecer da SCAS e do projeto que vira frutificar por seu trabalho intenso em prol da divulgação cultural em sua terra natal. Seu sucessor na presidência da SCAS foi o professor João Costa, que passou a contar com a colaboração de José Carlos, agora na condição de deputado federal.

Neste momento surgiu a ideia de construir um prédio que, com o aluguel de salas, possibilitasse a sobrevivência da SCAS. José Carlos foi fundamental neste projeto, fazendo destinações de verba do orçamento da União para bancar as obras. O projeto tornou-se realidade e, ainda hoje pode ser visto na esquina da Rua São Cristóvão com a Av. Rio Branco, no centro da cidade de Aracaju.

Iniciando sua vida política, continuou ligado ao senador Leite Neto, que presidia, no Congresso Nacional, a comissão responsável pela aprovação do Orçamento da União. Desta forma, o prestígio de José Carlos aumentava, sendo-lhe abertas as portas de todos os ministérios e os contatos com políticos de todos os estados da federação, independente de seus matizes político-ideológicas. Com a morte de Leite Neto, José Carlos continuou sua atuação parlamentar com muito empenho e seguindo a linha de ação de seu padrinho político, aumentando ainda mais o seu prestígio no meio político.

Quando Jânio Quadros renunciou e assumiu João Goulart, José Carlos se aliou ao novo presidente mantendo sua atividade parlamentar enquanto diversos companheiros assumiam ministérios. Desta forma seu prestígio aumentou e se consolidou, fazendo com que os políticos locais sempre acorressem ao seu prestígio para conseguir verbas e soluções para os problemas locais.

Com a Revolução de 31 de março de 1964, João Goulart foi deposto e José Carlos foi para a oposição ao governo, arrastando não só Oviêdo Teixeira como todos os irmãos. Em 1966 fundou o MDB em Sergipe. Face às dificuldades para conseguir a adesão de pessoas que se candidatassem pelo MDB, Oviêdo Teixeira foi candidato a senador em 1966, e como a chapa tinha de ter suplente e ninguém aceitava se candidatar pelo partido, a busca da viabilidade da chapa acabou com o convite ao médico Lucilo da Costa Pinto, recém-chegado do Rio de Janeiro na véspera do prazo final do registro. A mesma situação se repetiu na eleição de 1970, porém foi mais fácil de arrumar o suplente pois Humberto Mandarino aceitou compor a chapa com Oviedo Teixeira como candidato ao senado. Mesmo em 1974, quando o médico Gilvan Rocha se candidatou ao senado, houve dificuldade de conseguir um candidato a suplente para compor a chapa sendo chamado o secretário do partido Antônio Cabral Tavares que só aceitou até que se arrumasse quem estivesse disposto a concorrer. Como não apareceu ninguém, ele acabou sendo eleito suplente de Gilvan Rocha na eleição.

Em 1974, Oviedo Teixeira foi eleito deputado estadual e José Carlos Teixeira deputado federal. Mas como o seu perfil de Oviedo era da amizade e da conciliação, desistiu de atuar na política como candidato. Mesmo se candidatando à reeleição começou a pedir voto para os candidatos do partido e não para ele.

Durante este período da ditadura militar, José Carlos foi o único parlamentar sergipano a denunciar, no Congresso Nacional, as prisões e as torturas do regime. Entre tantos que tiveram sua defesa enérgica, destaca-se um casal de conterrâneos que participavam de um movimento de guerrilha, tendo sido presos e estavam sendo torturados em Recife. Já era praxe que estas prisões, se não fossem denunciadas publicamente, acabariam em sessões contínuas de tortura e até de assassinato. Um dos parentes do casal, que trabalhava no governo municipal, que era pró-ditadura, não vendo possibilidade de manifestação entre seus pares, recorreu a José Carlos para que ele denunciasse a prisão, de modo a preservar a vida e integridade deste casal. José Carlos viajou às pressas para Brasília, fez a denúncia no Congresso Nacional, sendo registrado o pronunciamento nos anais da casa, e o regime abrandou o tratamento aos presos, tendo, posteriormente, libertado o casal. Inúmeros são os casos onde a coragem e a sua particular vinculação às liberdades democráticas, efetivamente, salvaram vidas, como no caso da Operação Cajueiro.

Com a redemocratização do país José Carlos cerrou fileiras com Tancredo Neves, tendo, inclusive a oportunidade de oferecer um jantar para o candidato a presidente e vice-presidente na residência de seu irmão Tarcísio Teixeira.

Com o falecimento do presidente Tancredo Neves, e o prestígio adquirido nas lutas por democracia, o grupo político o indicou para assumir o mandato de prefeito de Aracaju, por apenas 7 meses, mas de uma administração extremamente transformadora para a capital de seu Estado e reconhecida pela população. Para sucedê-lo, foi eleito Jackson Barreto, correligionário e uma nova liderança que surgia no cenário político do estado.

Em 1986, nas primeiras eleições diretas para governador após o período de exceção, José Carlos resolveu candidatar-se a governador do estado de Sergipe. Naquele momento, as lideranças do PMDB ficaram divididas entre os dois candidatos: José Carlos Teixeira, pelo PMDB, e Antônio Carlos Valadares, pelo PFL. José Carlos Teixeira e Jackson Barreto eram as duas mais importantes lideranças da época. Nesta eleição José Carlos foi derrotado, de modo que Sergipe foi o único estado em que a candidatura do PMDB não saiu vitoriosa. Com o resultado das eleições desfavorável, o presidente José Sarney o nomeou Diretor de Captação da Caixa Econômica Federal.

Na eleição seguinte, José Carlos voltou à cena política sendo candidato a vice-governador na chapa que elegeu João Alves Filho para o período de 1991-1995.

A última participação de José Carlos Teixeira na política aconteceu na nomeação dele, pelo governador João Alves Filho no período de 2003-2007, para a Secretaria da Cultura. Nesta última missão, voltando às origens da sua vida, José Carlos atuou com a energia de um jovem, promovendo várias apresentações artísticas e a viabilização da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Seu envolvimento com a cultura era tão grande que, muitas vezes, ele empregava recursos próprios nas iniciativas da Secretaria de Estado da Cultura, além de solicitar patrocínio aos amigos e irmãos empresários.

Mas José Carlos sempre pôs acima de tudo os interesses de nosso povo e das instituições democráticas, relevando toda e qualquer atuação em momentos de discordância. Quando, em 2015, Jackson Barreto foi eleito governador do estado, José Carlos fez questão de comparecer à posse dele e se congratular pela vitória, desejando um governo que fosse a reafirmação de toda a trajetória política deles.

Na noite de seu velório, uma composição reduzida da Orquestra Sinfônica de Sergipe lhe prestou uma homenagem que jamais será esquecida por seus familiares e amigos presentes.

Em um momento em que se fala tanto em defesa dos direitos humanos, igualdade das mais diversas formas e que se caracteriza por uma liberdade de expressão ampla, é sempre bom recordar que nem sempre foi assim. E, nos momentos em que estas liberdades minguaram, é sempre bom lembrar daqueles que tiveram coragem de se insurgir contra o poder para que o nosso povo pudesse vivenciar o verdadeiro espírito da democracia: a tolerância e o respeito à diversidade como forma de convivência; a discussão pública dos problemas que nos afligem; a expectativa de sempre poder lidar com os problemas, grandes ou pequenos, na esperança da honestidade e da justiça.

 

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