Aracaju, 23 de abril de 2024
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EDUCADORA DIZ QUE INCLUSÃO NÃO DEPENDE SÓ DE PROFESSORES

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Durante audiência Pública sobre Conceito e Preconceito da Sociedade Referente à Saúde Mental da Infância e da Adolescência realizada pela Frente Parlamentar em Defesa de Direitos da Criança e do Adolescente da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), na última quinta-feira, 19, a professora Margarida Maria Teles, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), destacou a visão da educação quanto à inclusão de crianças e adolescentes com deficiência intelectual e com deficiência mental.

“A saúde e a educação comungam da mesma ideia e uma sem a outra tem dificuldade de desenvolvimento. É preciso se trabalhar na escola com essa parceria porque a maioria dos problemas nas escolas é a segmentação e a segregação com as outras. Há uma confusão no universo escolar e no conhecimento da maioria das pessoas quanto às patologias mentais, aos transtornos mentais. A questão está relacionada na capacidade cognitiva. A deficiência intelectual a gente trata de pessoas que nascem com uma capacidade em desenvolvimento num padrão abaixo das consideradas medidas do padrão normal de inteligência, já as pessoas com deficiência intelectual, são crianças que tem atraso mental e não acompanha o desenvolvimento cronológico. Na escola as crianças e adolescentes devem ser tratadas nas suas singularidades”, explica.

A professora ressaltou que os profissionais da escola em se tratando de inclusão, lidam com uma diversidade de alunos com vários tipos de transtornos.

“E nós não temos nas escolas, domínio de todo o conhecimento teórico que a gente precisa estar embasado para atender à diversidade. E quando eu falo de escola, não falo só de professor, mas de escola num contexto macro, de políticas de educação e de gestores, que não funcionam isoladamente. Com isso, o professor não é que tem que dar conta dessa demanda da educação inclusiva. Precisamos tirar esse peso dos ombros dos profissionais, pois eles precisam ter os recursos de assessoramento, com materiais necessários ao processo de aprendizado. Sem isso, não tem santo, nem milagroso professor”, enfatiza lembrando ainda o papel da comunidade e da família.

“Se não houver essa parceria, essa rede de comunicação e troca de informação, o processo tem comprometimento. As pessoas falam em processo de inclusão, mas esquecem que a educação está capengando pela falta de recursos, de formação e de respeito aos profissionais e da escola com o processo de ensino. Nem os ditos normais, a gente pode assegurar que saiam da escola com uma educação de qualidade”, enfatiza.

Pressão Social

A Doutora em Educação, Neuropsicóloga clínica, psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da Universidade Tiradentes (UNIT),  Angélica Piovesan destacou que a pressão social interfere muito no comportamento, no desenvolvimento.

“Falar sobre saúde mental tem que começar pelo que é saúde, o que está deixando de oferecer para evitar outros problemas como ansiedade, depressão. Quando já tem um diagnóstico de transtorno mental, se dá um direcionamento sobre o trabalho que vai ser feito, mas é claro que faltam ainda muitas coisas. Mas e quando a gente não dá a base necessária para o desenvolvimento humano, como uma boa alimentação, moradia, é muito complicado”. Ressalta.

“As nossas crianças estão cada vez mais com agendas lotadas, pulando etapas, deixam de brincar, de se desenvolver, não há mais o processo criativo. Sou a favor da tecnologia, mas de uma forma moderada. O excesso de ter acaba não tendo o ser. Os pais acabam querendo em virtude da ausência física em casa, complementando com bens materiais que acabam dificultando no comportamento, na afetividade. Precisamos investir na qualidade de vida para a família, que se estiver adoecida, as crianças e os adolescentes terão consequências disso”, acrescenta.

Ela disse ser preciso pensar no que se oferece de alimentação sadia para que as crianças não fiquem obesas e não adquiram algumas doenças, além pensar que a pobreza leva à dificuldade no processo de desenvolvimento humano.

“Muitas coisas básicas precisam ser trabalhadas. Quantas crianças estão sendo tratadas com esses transtornos do neuro-desenvolvimento, mas na verdade é uma questão de base. A menina boazinha que não dá trabalho e vive quietinha no mundo da fantasia, pode ter um diagnóstico de transtorno mental, pode ter uma depressão e ninguém sabe. Vai descobrir lá na adolescência. Muitas vezes a criança que é sadia, que está dando trabalho é que é o foco. Então a gente está vendo algumas inversões de valores, de cuidados nas famílias. Vai muito além do que pensar só na rotulação da saúde mental, fazendo um trabalho multidisciplinar cada vez mais precoce.  Dentro do que a neurociência tem proporcionado, é importante entender que todo mundo aprende, que todos tem um nível de desenvolvimento e que a gente não sabe o limite de ninguém, independente de qual seja o diagnóstico. Dois autistas nunca vão ter o mesmo comportamento, o mesmo desenvolvimento e o resultado do trabalho será diferente por questões familiares, de afetividades, de motivação, de reação às pressões sociais e capitalistas. Cada um tem a sua forma de aprender”, complementa.

Por Aldaci de Souza

Foto: Jadilson Simões

 

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