Aracaju, 18 de abril de 2024
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SERGIPE É O TERCEIRO ESTADO A APRESENTAR INVENTÁRIO FLORESTAL

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Um ato histórico. Assim pode ser sintetizada a apresentação do primeiro Inventário Florestal Nacional em Sergipe (INF-SE), uma ação coordenada pelo Serviço Florestal Brasileiro, em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), que visa à produção de informações estratégicas sobre a quantidade e qualidade das florestas.

A solenidade de apresentação aconteceu na manhã desta sexta-feira, 3, no auditório da Codise, em Aracaju, e contou com a participação do gestor da Semarh, Olivier Chagas, de representes dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, do diretor-presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), Gilvan Dias, além de professores, pesquisadores, estudantes e secretários municipais de meio ambiente.

Para a realização do Inventário, o Serviço Florestal Brasileiro, órgão do Ministério do Meio Ambiente, firmou acordo de cooperação com a Semarh, no qual, por meio do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Funerh), custeou atividades no valor de R$1,6 milhão, ficando a cargo do Serviço Florestal a coordenação do trabalho de coleta de dados em campo, a complicação e análise das informações e publicação dos resultados.

Por serem provenientes de dados coletados diretamente em campo, em larga escala e de forma sistemática, as informações geradas no âmbito do IFN representam uma oportunidade de conhecimento a respeito de estoques e da diversidade dos recursos florestais e de sua importância para as comunidades rurais. Orientando os governos e a sociedade no desenvolvimento e implementação de políticas de manejo e conservação das florestas.

“Inventariar é tomar conhecimento. É saber o que se tem. E conhecimento é o instrumento mais importante para se ter encaminhamentos para soluções. O fato concreto é que nós estamos aqui conhecendo, de forma técnica e coordenada, o que ainda há de mata atlântica, de caatinga. Sabendo isso, nós temos um instrumento importante para que se viabilize políticas públicas, para que a sociedade possa compreender e possa agir, como colaboradora, junto ao poder público. A situação é preocupante e temos muito a fazer, a reflorestar, a reparar a degradação ambiental que aconteceu”, destacou o secretário Olivier Chagas.

Ainda segundo Olivier, o Estado de Sergipe tem agido intensamente para frear o desmatamento. “O Governo, recentemente, deu ordem de serviço para ação de reflorestamento na bacia do Rio Sergipe, num investimento de R$15 milhões. O objetivo é plantar 600 mil mudas em áreas de rios, nascentes, barragens, para que a gente comece a fazer um restabelecimento da mata atlântica. Também estamos com ações na área da caatinga, com intervenções por meio das Unidades Recuperação de Áreas Degradadas (Urads), conversando com a comunidade. Então, temos a missão de cuidar do meio ambiente para que a gente possa viver com mais tranquilidade em nosso planeta”, observou.

A procuradora da República do Ministério Público Federal, Lívia Tinôco, afirmou que a realização do Inventário é a forma de conhecer melhor os biomas, pensar formas de manejo entre os agricultores, no momento da utilização das florestas, e também sobre o processo de desertificação que vem ocorrendo nos municípios. “Ter o inventário nos permite fazer o acompanhamento da supressão e dos riscos que nós, como sociedade, estamos impondo à manutenção das florestas”.

A opinião de Lívia também foi compartilhada pela promotora Alana Rachel, do Ministério Público Estadual. Para ela, em meio à crise da água, as pessoas esquecem que só haverá água se a vegetação estiver preservada. “Fazer o inventário das florestas de Sergipe é saber qual recurso nós vamos ter para também termos água. É de suma importância esse estudo. O MPE faz um trabalho no rio São Francisco e, ao sobrevoarmos a divisa, nós vemos que o lado de Sergipe é muito mais devastado do que o lado de Alagoas. Fazer esse inventário é um passo para preservar o que ainda resta”, considerou.

O superintendente de Recursos Hídricos da Semarh, Ailton Rocha, asseverou que o desmatamento é um dos maiores problemas de conservação dos recursos hídricos. “Nós estamos na região semiárida e a seca passou a ser um fenômeno mais recorrente, fruto das mudanças climáticas. Se a gente não tiver a cobertura vegetal, os nossos mananciais vão se transformar em canais de drenagem. É importante que haja cobertura vegetal, principalmente nas áreas de recarga e preservação permanente. O Estado de Sergipe está, praticamente, ocupado por gramíneas, como pastagens, cana-de-açúcar, milho. Está havendo um processo muito avançado de degradação e existe um indicador que diz que mais da metade das nossas terras estão entrando em processo de desertificação. Os estudos do Inventário têm muita relevância para o estado, para que se tenha um diagnóstico da situação”, alertou.

Resultados

Com o inventário, foi possível atestar que apenas 13% do Estado de Sergipe é coberto por florestas, totalizando cerca de 286 mil hectares, distribuídos entre os biomas caatinga e mata atlântica. Essa cobertura ocorre de forma desigual: 56% dos municípios apresentam entre 1% e 10% de cobertura florestal enquanto apenas 10 dos 75 municípios sergipanos abrigam metade de toda a área de floresta do estado.

O levantamento identificou também que 20% das florestas de Sergipe estão nas 23 Unidades de Conservação (UCs) existentes no estado. A área protegida total é de 119 mil hectares, o que corresponde a 5% do território do estado, mas pouco menos da metade das UCs – cerca de 57 mil hectares – contém floresta.

Foram levantados 177 pontos amostrais em Sergipe e, apesar da baixa cobertura vegetal, o Estado apresentou 535 espécies, entre árvores, palmeiras, cactos, herbáceas e ervas, sendo que, dessas, 57 foram identificadas pela primeira vez, e 5 árvores estão na lista de extinção.

Outro dado interessante é que apenas 10 municípios detêm metade dos 13% de cobertura vegetal, sedo que o município de Areia Branca, na região de mata atlântica, tem a maior cobertura vegetal do Estado, 42%; e Canindé de São Francisco a segunda maior área, 19%.

Políticas Públicas

O superintendente de Biodiversidade e Floresta da Semarh, Elísio Marinho, que na ocasião fez a apresentação do Inventário, fez questão de salientar que, agora, o Governo terá mais facilidade em colocar em práticas as políticas públicas voltadas para o meio ambiente. “Com o Inventário, já começamos a pensar em políticas públicas, como a aprovação da Lei Estadual de Florestas, que será enviado para a Assembleia Legislativa. Aprovando essa Lei, teremos um plano de recuperação dessas áreas. Em 30 anos, temos a pretensão de alcançar 20% de cobertura florestal. Outra política importante que provém do inventário é a criação de novas unidades de conservação, além da recuperação de mananciais”, revelou.

A professora e chefe do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Sergipe, Anabel Aparecida de Melo, também esteve presente ao lançamento do Inventário, classificado por ela como “fundamental”. “Vai nos ajudar na questão de montar uma política voltada para as florestas do Estado. A população precisa desse conhecimento, do que possamos extrair, dos benefícios que a floresta traz para a população mais carente. Com o Inventário, temos a ideia da cobertura vegetal, o tipo de floresta e, partir daí, termos subsídios para estudos. Participei desde o início desse inventário e estou muito feliz em estar aqui e saber que Sergipe está entre os primeiros”, elogiou.

Foto: Lucas Noronha/Semarh

Por Lara Aguiar

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