Aracaju, 19 de abril de 2024
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Mulheres vão ao Ocupe a Praça e dizem basta ao assédio

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Pesquisa divulgada pela organização internacional de combate à pobreza ActionAid, em 2016, mostra que 86% das mulheres brasileiras já sofreram assédio em espaços públicos. Parece irreal, mas uma simples saída à rua é o desafio de grande parte das mulheres que vivem no Brasil. Com o intuito de “fugir” do espectro do silêncio, na noite desta quarta-feira, dia 12, em Aracaju, muitas mulheres foram à rua, mais especificamente à Praça General Valadão. Unidas pelo mesmo motivo: ampliar a discussão ao expor a intersecção entre racismo, machismo, sexismo e transfobia que cada uma delas vive diariamente.

O ponto de encontro difusor para esse diálogo foi o ‘Ocupe a Praça’, projeto do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD), unidade vinculada à Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju). A iniciativa com essa temática foi organizada objetivando fortalecer o empoderamento feminino. Intitulado ‘Ocupe a Praça Chega de Fiu Fiu’, o evento reuniu mais de cem pessoas, dentre mulheres e homens, no Centro Cultural de Aracaju, localizado na Praça General Valadão, marco zero da capital.

O ‘Ocupe a Praça’ tem o intuito de oferecer a população aracajuana, uma vida cultural coletiva por meio da ocupação do centro histórico da cidade, sendo palco de programações artístico-culturais, tendo o audiovisual como eixo-central. “A gente costuma dizer que esse projeto extrapola a questão do entretenimento, pois é mais do que uma festa. A gente inicia discutindo temáticas da contemporaneidade da nossa cidade. E, especialmente, hoje, estamos refletindo o feminismo, o papel da mulher na sociedade. Foi um evento dialogado por mulheres, mas feito não só para as mulheres, para os homens também, para toda a sociedade”, ressaltou a coordenadora do NPD, Graziele Ferreira.

O quadro ‘Liquidifica Diálogos’ trouxe um momento de provocação e reflexão relacionado à arte e ao feminismo, sob a orientação da artista multimídia (BA), Andrea May; da advogada e coordenadora do Grupo de Trabalho da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, Bruna Menezes; da professora mestre do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe, Maíra Ezequiel; da coordenadora do projeto da ‘Patrulha Maria da Penha’, Vaneide Oliveira, e da educadora social e ativista da Unegro Sergipe, Thaty Meneses.

Para Thaty, mediadora do diálogo, a discussão sobre o feminismo é importante para emponderar às mulheres, conscientizando sobre a luta pelos seus direitos, como a total igualdade entre os gêneros. “Essa questão do assédio está na vida de toda a mulher, seja trans, negra, pobre etc. De alguma forma ele acontece. Vim trazer a minha fala sob a visão de uma mulher negra. É interessante a gente colocar essas diferenças, porque precisamos tentar entender para resolver essas questões pensando em cada caso específico”, explicou a educadora social.

Após o diálogo, permeado de desabafos, foi exibido o longa metragem ‘Chega de Fiu Fiu’, dirigido por Amanda Kamancheck Lemos e Fernanda Frazão. O documentário coloca luz sob o espectro do assédio sexual nas ruas das cidades brasileiras, expondo questões como a participação das mulheres no espaço público. O intuito das diretoras é que ele seja visto como uma ferramenta não só de denúncia, mas de educação e combate à violência contra a mulher.

Diferente do que acontece em edições anteriores do ‘Ocupe a Praça’, o evento não finalizou com tom de comemoração. Ao invés de melodia apenas dançante, teve arte sonora a céu aberto, pela primeira vez, na Praça General Valadão. O público foi convidado a participar da oficina de “Radiocolagem”, um laboratório de criação sonora e visual coordenado pela artista multimídia, Andrea May (BA), que traz em seu currículo diversas realizações no âmbito da Street Art, Art Toy, música eletrônica, incluindo vivências no Canadá e Alemanha.

“A Radiocolagem é uma perfomance de arte sonora. No caso, a gente faz hibridação de música e imagens visuais, em formato rádio ao vivo, buscando promover o encontro de ideias em torno de um tema. Hoje, especificamente, a gente está conectando com dez artistas locais que transita por várias linguagens. E o resultado são inspirações que permeiam esse universo feminino. Estou super feliz de estar aqui. É muito importante que estejamos unidas fortalecendo esse conceito de trabalharmos a equidade de gênero. A expressão através da arte transmuta qualquer movimento”, detalhou Andrea May.

A jornalista Anne Samâra Torres, que frequenta assiduamente o ‘Ocupe a Praça’, parabenizou a escolha da temática desta edição e desejou vida longa ao projeto. “O fato da antiga alfândega da cidade ter virado um Centro Cultural é de extrema importância. Tendo ainda aqui um Núcleo de Produção Digital que tem a chance de movimentar essa praça que tem um valor histórico, que traz pessoas de diferentes pontos da cidade para ocupar o centro da cidade e assistir cultural, exposição, música, filmes. Essa iniciativa nunca pode acabar porque faz bem para a cultura da cidade e para nós aracajuanos”, concluiu.

Foto Edinah Mary

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