Aracaju, 19 de abril de 2024
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Já deu bom dia ao Superman?, escreve Marco Carvalho

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Por: Marco (Kako) Carvalho

Enfim, falamos do primeiro turno das eleições no passado, e feliz ou infelizmente teremos mais um pouco disto em alguns dias. Ainda não consigo enxergar o tal “agora vai” que tantos apregoam, mas estou animado com a perspectiva de ter menos gente berrando frases feitas em minha orelha. Uma ou outra surpresa bacana (que porrada, hein delegado?), mas apenas mais do mesmo.

O que vi do meio dia da sexta feira até as 23h00 horas deste último final de semana foi impressionante. Não é segredo que sou um orgulhoso Oficial da Polícia Militar. Passei os últimos quarenta dias me preparando mental e fisicamente para coordenar as forças públicas nas cidades de São Cristóvão, Itaporanga d’Ajuda e Salgado. Dormi três da últimas noventa e seis horas, que passei trabalhando. Vi coisas impressionantes.

Poucos são os que percebem que existem seres humanos dentro daqueles uniformes verdes que a tradição identifica como “azul-petróleo”. Que quando chegam nas festas, nos eventos, nas eleições, eles estão lá. Menos ainda reconhecem que são os mesmos rostos quando vão embora. E eles ficam muitas horas mais.

No fim de um dia de serviço, é muito provável que qualquer um que tropece em policiais não entenda o olhar distante. O que estes homens e mulheres veem todos os dias vai quilômetros além da compreensão do cidadão mediano. Eles presenciam o que de melhor e de pior pode produzir a humanidade, são expostos cotidianamente aos mais diversos esforços, a jornadas de trabalho que fariam os que se dizem “workaholics” abaixarem os olhares em respeito. Há um bocado de gente boa emulando papagaios, acreditando que “policiais militares devem ser extintos, já que não estamos em guerra”, gritando palavras de ordens em protestos cuja segurança é feita talvez pelo Jimmy Hendrix. Gostaria que me explicassem qual o plano deles, e seria fantástico se fosse em tom de voz normal, se isto não for contra seus princípios.

Nestas eleições, eles estavam lá. Em todos os lugares. Nas madrugadas, os semáforos pareciam extensões de quartéis. Amigos se cruzavam por acaso, longo tempo sem se ver. A caminho dos embarques, lembranças ã família.

Dificilmente se vê tanta gente tão determinada junta. Poucas recompensas, enormes exigências. Um tapinha nas costas – sempre bem-vindo, aliás – desta ou daquela autoridade. Segundo pesquisas, policiais militares são pouco confiáveis. Bem, se pensarmos nos resultados nas urnas e no que diziam as pesquisas, quem sabe encontremos um padrão. De quando em vez, escalados naquelas passeatas ouvimos:

“Näo acabou

Tem que acabar

Eu quero o fim da Polícia Militar”

Pois é. Hoje é o dia seguinte. Vejo comentários sobre quem ganhou, quem perdeu. Me divirto com as explicações, deitado com as pernas para cima. Mal consigo andar, e sei que nem de perto sou exceção. Estive entre estes profissionais que quase me estouram o peito de tanto orgulho, vendo a vovó sendo levada pela mão para o seu local de votação, o papo com o bêbado chato, com os cheios de razões, com os desarrazoados, os humildes, os metidos, personagens das mais diversas matizes incluindo gente que adora as leis eleitorais para aproveitar e “tomar umas liberdades”, se é que me faço entender.

Gostaria de dizer algo bonito a estes heróis anônimos, que suportaram esta carga toda com uma tenacidade poucas vezes vista. Desses negócios de “nos ombros de gigantes”, e por aí vai, mas creio que me falte a verve. Não, talvez não seja, inspiração não falta, exemplos se espancam na minha cabeça. É que não há palavras para descrever estes seres humanos. Só consigo reproduzir o que disse a um bom amigo esta manha, quando falava sobre suas impressões sobre o trabalho da PM:

– Kako, era impressionante… Os caras parece que são sobre-humanos! Qual é o segredo?

– Eles são. E se eu te contar, deixa de ser segredo.

Muito obrigado, meus amigos. Desta missão, só vitória temos a contar. Minha mais respeitosa continência a todos vocês, pela fidelidade, justeza de caráter, proficiência, lealdade, profissionalismo e muito, mas muito obrigado mesmo pela confiança. Vocês são o exemplo que me arrasta.

Aracaju, 08 de outubro de 2018

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