Aracaju, 28 de março de 2024

‘Agradeço a Deus tudo que o piano me ofereceu’, diz João Carlos Martins no último concerto como pianista

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“Agradeço a Deus e ao piano tudo que o piano me ofereceu”, disse nesta quarta-feira (19) o maestro João Carlos Martins, de 78 anos, ao se despedir das apresentações como pianista. A afirmação ocorreu durante um concerto em Piracicaba (SP). A partir de agora, o maestro afirma que apresentará exclusivamente como regente.

A despedida foi humorada e emocionante. O maestro deixa explícito que não trata com piedade as questões de saúde que o acometem. Fala com bom humor e tira risadas da plateia ao contar das dificuldades da vida representadas nas 23 cirurgias, nos problemas nas mãos e na doença degenerativa.

“Não gosto de tratar com piedade. Hoje é a última vez que estou tocando, em teatro, piano na minha vida. É claro que é um dia difícil pra mim, a dor é uma coisa violenta que eu tenho nas mãos pelo meu problema degenerativo. Fiz operação até no cérebro e consegui alguns resultados paliativos, mas finalmente vou partir para a vida só de regente.

O concerto, gratuito, lotou o Teatro Municipal Dr. Losso Netto. O maestro participou como convidado na apresentação da Orquestra Sinfônica de Piracicaba (OSP), que tem como regente Jamil Maluf, e marcou o encerramento da temporada da OSP.

Martins tocou o piano em cinco canções e regeu outra. Antes do BIS, agradeceu a plateia e aproveitou para anunciar a despedida. Sempre, no entanto, dando a ênfase à afirmação de que não gosta de tratar problemas com piedade.

“Não acho que a pessoa deva tratar com piedade um problema degenerativo. Quando foi a abertura das Paralimpíadas, que era só um piano no Maracanã, antes teve uma mesa redonda e eu falei para os atletas paraolímpicos que nós temos que tratar com humor os nossos problemas”.

Em seguida, contou que, ao perder o movimento da mão direita, aproveitava as viagens na carreira internacional, para procurar médicos, que sempre disseram que o problema não tinha cura. Com isso, passou a frequentar mais a igreja, mas não houve milagre. Depois foi a um pai de santo, que o garantiu que, em um ano, a mão direita estaria semelhante à esquerda.

“Ele falou ‘meu filho, não se preocupe, em um ano sua mão está igualzinha a outra’. Um ano depois fechou a esquerda”, concluiu ao fazer o público rir. Em seguida, continuou as histórias engraçadas ao revelar que, certa vez, uma repórter pediu uma foto e, ao conseguir, comemorou.

“E ela disse: ‘Finalmente consegui uma foto com o Pavarotti’. Ai eu vi como estava com a corda toda”, disse. Luciano Pavarotti é um famoso tenor italiano.

A descontração só deu lugar à voz embargada quando disse a última frase antes de voltar ao piano e continuar o espetáculo.

“Há três meses eu comecei um Instagram chamado Maestro João Carlos Martins que conta a minha vida desde os 10 anos tocando piano para que muitas pessoas da sua geração [aponta para a plateia], por a caso o Jamil acompanhou a minha carreira de pianista, saibam como que esse velho maestro conseguia tocar piano naquela época e hoje, mesmo assim, eu agradeço a Deus e ao piano tudo que o piano me ofereceu”.

BIS em forma de agradecimento

O concerto teve sete peças. Martins tocou piano em cinco. “Concerto para piano”, do Mozart; “Yesterday” e “Love of My Life”, dos Beattles e Queens; Gabriel’s Oboe, de Enio Morricone; e Libertango, de Astor Piazzolla.

O BIS foi escolhido para o momento. Martins fez da sua última canção ao piano em apresentações um agradecimento ao interpretar “Thank You”, de Dave Brubeck.

Pneumonia e regência com os olhos

O maestro revelou que está se recuperando de uma pneumonia e que voltará a um hospital na capital paulista. Ele contou à plateia que deixou a unidade de saúde para fazer uma série de cinco concertos.

Antes de se apresentar em Piracicaba, Martins esteve em Santa Bárbara d’Oeste, onde afirmou que regeria, pela primeira vez, uma orquestra com os olhos.

Nascido em São Paulo, em 25 de junho de 1940, Martins é considerado um dos maiores intérpretes do compositor alemão Johann Sebastian Bach no século 20. Ele registrou a obra completa do compositor para teclado.

Por G1 Piracicaba e Região

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