Aracaju, 26 de abril de 2024
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Barragens recuperadas pela Cohidro têm recarga com as chuvas de trovoada

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Edição 2017 do programa devolveu a capacidade e acumular água da chuva para 13 barragens de médio porte, atendendo 12.438 pessoas. Em 2019 serão 300 famílias beneficiadas com a barragem da Barra da Onça

Iniciada em fevereiro de 2017 e as obras durando até o inverno daquele ano, a edição do Programa de Recuperação de Barragens do Governo do Estado executada pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) naquele ano, resultou na grande maioria das 13 barragens tendo acumulado alguma água da chuva no mesmo ano, quase metade chegando ao seu ápice e resistindo para além do período chuvoso, fornecendo água às populações e seus rebanhos. Noutros casos, a irregularidade da precipitação interferiu para que só agora, nas trovoadas de dezembro de 2018, fosse possível que parte dos reservatórios fizessem a sua recarga e até ficassem totalmente cheios.

Maior exemplo deste último caso foi a barragem comunitária recuperada no povoado Queimadas, em Poço Redondo, de população que se utiliza do reservatório para a dessedentação animal estimada em 750 habitantes. No inverno de 2017 o reservatório de terra obteve algum êxito ao acumular em torno de 30% de sua capacidade, isso se for comparado ao seu status hoje, totalmente cheia depois das chuvas ocorridas a partir do dia 1 de dezembro. Resultado oposto ao apresentado na barragem também recuperada na mesma edição do programa na comunidade tradicional da Serra da Guia, no mesmo município e distante 16,8 km em linha reta uma da outra, em que as primeiras precipitações do ano passado foram capazes de acumular água no total da sua capacidade, beneficiando os 700 moradores.

Algo parecido como que se deu em Poço Verde, na barragem do assentamento Francisco José dos Santos. Lá, mesmo depois da retirada de todo sedimento do reservatório de terra, ampliando profundidade e capacidade de reservamento, não houve incidência de chuvas na localidade suficientes para fazer a sua recarga no mesmo ano. Mas o êxito do projeto dos engenheiros da Cohidro foi demonstrado mais de um ano depois. Foram também as chuvas de trovoadas de 2018 às responsáveis por ela chegar ao total de sua capacidade de acúmulo de água, garantindo a reservas para as cerca de 100 famílias de colonos.

Diretor-presidente da Cohidro, Carlos Fernandes de Melo Neto comenta que está cada vez mais difícil prever os resultados das próximas chuvas e que a empresa procura se valer do histórico dos reservatórios e estudo de sua capacidade de recarga. “Muito por causa das alterações climáticas provocadas pela interferência humana no meio ambiente de todo planeta, não se sabe ao certo qual localidade vai chover bem ou se vai repetir o mesmo índice pluviométrico dos anos anteriores. O que temos são boas surpresas, como o resultado positivo das chuvas nas cabeceiras do rio São Francisco, aliviando a situação crítica dos reservatórios nordestinos. Ao mesmo tempo em que nos preocupa muito a situação da nossa barragem do Perímetro Irrigado Jabiberi, em Tobias Barreto, em que essas últimas chuvas em pouco ou nada influíram no nível da água captada pela Cohidro e Deso, hoje em situação crítica”, lamenta.

Valdi Aragão Porto é engenheiro civil na Cohidro e foi quem coordenou a equipe do último programa de recuperação de barragens. Ele salienta a capacidade que as reformas tiveram de prolongar a vida útil das barragens recuperadas. “Para escolhermos uma barragem para ser recuperada, levamos em conta se ela tem os meios para que possa receber recarga pelas chuvas, que ela tem às ‘chamas’, os cursos por onde a chuva possa ser coletada e conduzida até o reservatório. Muitas vezes a obra incide em melhorar essa captação, mas no geral fazemos a escavação dos leitos, retirando os sedimentos depositados ali pela erosão dos solos, aumentados os taludes e construindo os estravasores, componentes importantes e que evitam que a força da água rompa as barreiras das barragens”, ensinou.

Alagadiço

A barragem pública Prefeito Manoel Soares no povoado Alagadiço, em Frei Paulo, foi a primeira a ser recuperada, entregue à comunidade em 10 de março daquele ano, na edição 2017 do Programa e beneficiou 374 famílias que vivem da atividade pecuária e passaram a dispor do reservatório de médio porte para dar de beber aos rebanhos.

Segundo o secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo do município, Wladimir Dantas Souza, a reforma da barragem cumpriu seu papel e foi decisiva para toda microrregião, resistindo sempre com algum nível de água até chegar às chuvas de trovoadas para haver uma nova recarga. Segundo ele, o reservatório abastecia de 40 a 50 carros-pipa nos piores dias de estiagem durante este período.

Barragem do Algodão

Na antiga Barragem do Algodão, povoado Poço dos Bois em Cedro de São João, a castigante seca de 2016 esgotou totalmente as reservas de água. No ano seguinte, após passar pelas obras do Programa do Governo de Sergipe, foi limpa dos seus sedimentos e teve a capacidade ampliada, para que nas chuvas seguintes, ainda em 2017, juntasse água em sua capacidade completa. Manoel Vieira Alves, 74 anos, aposentado e morador da localidade, na época lamentou o açude ter secado, mas tinha esperança de que a obra e as próximas chuvas poderiam reverter esse quadro.

“Aqui era o lazer da gente, para dar água ao animal, para tomar banho, pescar, pegar um peixinho. Tudo aqui servia para gente, servia e serve, quando tiver de novo, né? Aqui nasci e me criei, nunca vi uma seca dessa não. Nasci e já tinha a barragem e nunca vi secar. Tem que fazer uma benfeitoria dessa, né? Mas aí agora com essa benfeitoria que tão fazendo, os nossos netos é que vão morrer e ela ainda não vai secar, com o poder de Deus”, confiou seu Manoel.

E o morador estava bem certo. Em 2018, ano em que muitos consideraram a estiagem ainda pior que a de 2016, o reservatório em terra e de múltiplo uso resistiu. E mesmo aquela região não tendo sido contemplada com as últimas chuvas de trovoada de dezembro, se comparada a outros municípios até do Alto Sertão, a sua ampliação de capacidade ainda conservou reservas para abastecer o gado e oferecer alento aos pescadores artesanais durante todo ano.

Outras barragens

Em Carira, no povoado Mansinha, a barragem comunitária serve de reforço aos criadores de gado da redondeza, para quando as suas reservas particulares secarem, chegando há uma população de 2.100 habitantes assistidos. Reformada em 2017, voltou a ter recarga na última chuva de trovoada, acumulando até mais água agora do que no primeiro ano, estando em cerca de 80% de sua capacidade máxima.

Novamente a irregularidade das chuvas em 2018 marcou presença, desta vez na barragem recuperada no povoado Aningas, em Nossa Senhora da Glória. A obra foi entregue debaixo de chuva, pelo então governador Jackson Barreto, em 22 de maio de 2017, e com o reservatório praticamente cheio, para atender os 525 moradores. Mas o mesmo êxito não se repetiu no ano seguinte, quando as chuvas de inverno pouco influenciaram no nível d’água do reservatório de médio porte, restando para novamente as trovoadas do começo de dezembro resguardarem o acúmulo de cerca de 30% de sua capacidade.

Grandes, médias e pequenas barragens em Tobias Barreto sofrem com a falta de incidência de chuvas para recuperarem os níveis de reservas, forçando o Governo do Estado a procurar alternativas até no Estado da Bahia para garantir o abastecimento da população urbana e a Cohidro, a perfurar poços para também permitir a subsidência do rebanho leiteiro dos irrigantes atendidos pelo seu perímetro Jabiberi. No povoado Montes Coelho, embora não tenha secado durante as estiagens de 2017 até 2018, as reservas acumuladas nas chuvas nesse período, incluindo depois das trovoadas, mantêm o estoque de água em cerca de 40% da capacidade do reservatório também reformado pela empresa pública.

Novos projetos

Segundo o diretor de Infraestrutura Hídrica e Mecanização Agrícola da Cohidro, Paulo Henrique Machado Sobral, foram R$ 1470341,64 do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Funcep), empregados no programa de recuperação em 2017, incluindo ainda barragens reformadas em Canindé de São Francisco, Porto da Folha, Gararu, Ribeirópolis e Nossa Senhora de Lourdes.

“Estamos executando o programa desde 2012, com mais de R$ 5 milhões empregados na reforma de quase 2 mil pequenas e médias barragens, atendendo uma população rural de mais de 70 mil pessoas. Não por outro motivo, senão o resultado satisfatório das ações de nossas equipes de engenharia, garantimos mais R$ 780 mil do Funcep para em 2019 licitarmos empresa para reformar, sobre nosso projeto e planejamento, a grande barragem Chapéu de Couro, no assentamento Barra da Onça, em Poço Redondo”, informou Paulo Sobral.

“É um projeto ousado, em se tratar de uma barragem de alvenaria e que deixou de atender centenas de famílias depois que a força das enxurradas foi capaz de romper o paredão de concreto, vulnerabilidade a ser corrigida no novo projeto. Um acaso infeliz, mas prova que, mesmo no Alto Sertão seco de Sergipe, existe água das chuvas suficientes para justificar a manutenção dessa e de outras barragens, dando esperança e motivos ao sertanejo ali ficar resistindo bravamente eu sua terra de origem”, acrescentou o presidente da Cohidro Carlos Melo, reforçando que, como nas outras edições do programa, o critério principal para a escolha das localidades atendidas é o município ter decretado emergência devido à seca.

Da assessoria

Foto Fernando augusto

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