Aracaju, 25 de abril de 2024
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Iluminação especial garante a preservação de tartarugas marinhas em Sergipe

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As luminárias que estão sendo instaladas seguem o padrão orientado pelo Projeto Tamar e possui uma capa protetora em cada poste, fazendo com que a luz seja direcionada ao solo, evitando que os animais se confundam

As 155 famílias que residem no conjunto habitacional Pontal da Barra, entre os municípios de Barra dos Coqueiros e Pirambu, caminham lado a lado com uma importante população que também ocorre na região — e que tem as praias do litoral norte como berçário há muitos anos. São as tartarugas-oliva (Lepidochelys olivácea), uma das cinco subespécies que habitam os mares brasileiros, que têm em Sergipe ponto certo para desovar e nascer.

A espécie, que chega a medir 72cm e 42kg, é bastante comum nas praias do estado e, graças a um olhar atento do Governo do Estado que entende a importância da conservação, uma iluminação específica está sendo instalada no conjunto. Garantindo, assim, que as fêmeas adultas continuem se guiando pelo instinto natural e desovando no local adequado. “Quando esses animais nascem, instintivamente seguem para o mar, sendo guiados pela luz do sol ou da lua. Então, se tiver outro tipo de iluminação artificial, eles podem perder a rota que fazem anualmente. A mesma coisa acontece com as fêmeas adultas quando estão prontas para desovar. Se a iluminação não for adequada, elas podem se perder e não achar o local para desovar, assim como os filhotes podem não encontrar o caminho para o mar e, no continente, ficam mais expostos a predadores”, explica a bióloga Milena Nascimento.

Essa interferência citada pela bióloga é chamada de fotopoluição, que se caracteriza pela presença da iluminação artificial no meio ambiente e que afeta, diretamente, as tartarugas marinhas, principalmente em suas áreas de desova.

As luminárias que estão sendo instaladas seguem o padrão orientado pelo Projeto Tamar e possui uma capa protetora em cada poste, fazendo com que a luz seja direcionada ao solo, evitando que os animais se confundam.

Sintonia com o meio ambiente

Adriana Lima é marisqueira e, para ela, é preciso entender a necessidade de viver em sintonia com a natureza. “Essas novas lâmpadas são importantes porque os animais precisam de proteção. Eles já estavam aqui quando a gente chegou, então o espaço é deles. Precisamos viver em harmonia com o meio ambiente porque dependemos dele para tudo, principalmente a gente que trabalha com pesca”, pontua.

O olhar sensível às causas ambientais é passado de avô para neto. Sobretudo para quem vive exclusivamente do mar. O aposentado Wilson de Andrade tem 76 anos e faz questão de ensinar ao neto Guilherme, de 9, a cuidar do meio ambiente. “Um dia desses ele me perguntou porque estavam mudando a iluminação do conjunto e eu expliquei que as tartarugas colocam os ovos aqui e se não tiver lâmpada adequada as bichinhas ficam sem saber para onde ir e acabam parando na estrada”, revelou.

“Essas lâmpadas são boas porque ajudam as tartarugas a colocar os ovos no lugar certo, assim os filhotinhos nascem e voltam para o mar sem nenhum problema e sem ninguém mexer”, completou o garoto que, mesmo pequeno, já aprendeu a lição.

Opinião semelhante da também marisqueira Valquíria dos Santos. “Tem que preservar mesmo. Tem dias que elas aparecem todo dia para colocar os ovos ali perto e, se elas vêm para cá sempre, é porque é o lugar delas mesmo”.

Foco na preservação

Por entender a necessidade de se preservar este importante bioma que circunda o conjunto, o governo investiu em uma série de adequações, seguindo as normativas legais. O serviço especial, com investimento de R$ 260.586,16, compreende a instalação da iluminação específica — com 28 luminárias especiais e 41 do tipo balizador –, conclusão do sistema coletivo de tratamento de esgoto, com a interligação das unidades habitacionais à rede coletora e também inclui a conclusão das 2 estações de bombeamento e implantação da rede para tratamento e descarte adequado de esgoto.

“Além disso, está sendo construído um muro em alvenaria do sistema de tratamento e implementação de rede de iluminação pública com um projeto desenvolvido especificamente para áreas de desova de tartarugas marinhas, com o objetivo de não desorientar esses animais durante o seu nascimento. Este sistema conta com bombas que são importadas e a parte da iluminação foi adquirida em outros estados”, explica o engenheiro civil da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade (Sedurbs), Davi Alvélos.

A medida adotada pelo governo, de acordo com a bióloga Milena, é bastante necessária e garante a continuidade da ocorrência dessa espécie Sergipe. “Esses animais seguem uma rota natural e, instintivamente, voltam à mesma praia para desovar todos os anos. Por isso, é necessário coibir qualquer tipo de interferência artificial neste processo natural deles”, acrescentou.

Dados reprodutivos

Segundo dados do Projeto Tamar, foram identificados 800 pontos de desovas em um trecho de 7km de praia, no município de Barra dos Coqueiros, na última temporada de reprodução (entre os meses de agosto de 2017 e julho de 2018). Destes, 200 ninhos foram encontrados na região do conjunto.

Ao todo, o Tamar registrou o nascimento de aproximadamente 50 mil tartarugas neste trecho no período informado. Sendo 15 mil somente na área do Pontal da Barra.

Foto Mário Souza

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