Aracaju, 12 de maio de 2024
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Injeção de R$ 9,5 milhões no Baixo São Francisco impulsiona produção de mel, arroz e turismo

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Após visita, FIDA avalia positivamente o Dom Távora, executado pelo governo de Sergipe

“O que nós queremos é melhorar nossa qualidade de vida e ter um dinheirinho todo mês. Aqui, a gente vive basicamente da pesca. A expectativa da comunidade é grande, porque esse projeto vai ser uma complementação da nossa renda”, disse Maria Izaltina Silva Santos, presidente da Associação Remanescente de Quilombo da Comunidade Brejão dos Negros, no município de Brejo Grande. A associação protagoniza um dos três projetos escolhidos para receber a visita da missão do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) em Sergipe, nesta semana.

Além de Brejo Grande, o coordenador técnico do Fida, Emmanuel Bayle, esteve em Ilha das Flores e Japoatã, acompanhado dos técnicos do Projeto Dom Távora, da secretária de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri) e da Empresa de Desenvolvimento Agrário de Sergipe (Emdagro). Nos três municípios do Baixo São Francisco, Bayle pôde conhecer os empreendimentos que, a partir de um financiamento de R$ 715.573,07 beneficia diretamente 138 famílias do campo. Bayle avaliou e considerou satisfatório o andamento das proposituras.

Em Brejão dos Negros, o plano de negócios está em fase inicial de implantação e se diferencia por beneficiar uma comunidade tradicional, ter maior participação de mulheres e por ser um projeto que inclui inovação, ao montar um empório voltado ao turismo. Além da implantação de tanques para criação de camarão, gerando renda para 59 famílias; se planeja que mais 23 associados vendam e produzam o artesanato e a culinária local aos visitantes atraídos pela foz do São Francisco e as reservas de Mata Atlântica – atividades em que alguns moradores já atuam como guias.

Para tanto, um aporte de recursos da ordem de R$ 438.539,88 está sendo destinado pelo Projeto Dom Távora, para reforma predial e aquisição de equipamentos para a instalação do empório; montagem de cozinha industrial; escavação e aparelhagem dos tanques de criação de camarão. O processo licitatório do projeto está em andamento, e a parte da carcinicultura aguarda liberação de licença ambiental. “Tem alguns produtos que a gente já vem trabalhando. O óleo de coco, o extraído a frio e o extraído a quente. Temos pessoas que fazem crochê para vender e pessoas que atuam na culinária, fazendo preparos para quem chega na nossa comunidade. Temos turismo aqui, uma área de mata, o manguezal; e nós temos a nossa roça, as nossas plantações”, complementa Izaltina.

Só no Baixo São Francisco, cerca de R$ 9,5 milhões estão sendo destinados pelo Dom Távora para financiar 36 iniciativas em Pacatuba, Santana do São Francisco, Neópolis, Ilha das Flores, Brejo Grande, Japoatã e Canhoba. Nestes municípios, 1.248 famílias receberão o investimento para a produção agrícola ou inovação no meio rural, gerando renda familiar através do trabalho e reduzindo a pobreza na região. Em todo o Estado, o Projeto destina quase R$ 41,5 milhões para a ampliação ou início de novos negócios coletivos. Ao todo o Dom Távora está orçado em US$ 28 milhões, sendo de US$ 12,6 milhões a contrapartida do governo do Estado. Até agora, o projeto tem alcançado 5.291 famílias.

Clélio Vilanova Lemos e Silva, especialista em Negócios Rurais do Dom Távora, explica que foi a missão do Fida que determinou os projetos que pretendia visitar nesta segunda-feira, para fazer uma amostragem de avaliação, conforme o estágio de andamento do projeto, tipo de negócio proposto, participação de gênero, das comunidades tradicionais, e em diferentes municípios. “O objetivo está sendo, principalmente, dar conhecimento ao Fida do nível e execução desses planos que eles escolheram visitar. São três níveis de execução, um está no estágio já avançado, outro médio e outro começando. Estamos prestando contas da execução e mostrando que os recursos estão sendo aplicados”, esclareceu.

O prazo de execução do Dom Távora termina em setembro, mas existe a possibilidade da implantação de uma fase dois do projeto, em que mais 70 propostas poderão ser atendidas. Para Emmanuel Bayle, que exerce na missão a coordenação técnica de investimentos produtivos e comercialização, o envolvimento do Estado após a conclusão dos projetos, é determinante para que isso ocorra. “Eu acho que vai ser um dos argumentos. É um fator de sustentabilidade, ou seja, de garantir que os agricultores continuem recebendo o apoio do governo do Estado – e, em particular, dos técnicos da Emdagro – uma vez que o Dom Távora seja concluído. Esse envolvimento na implementação e no apoio à sustentabilidade do projeto é algo fundamental para o Fida”, pontuou Bayle.

Armazenamento do arroz

Antes de chegar a Brejão dos Negros, o primeiro ponto de parada da missão do Fida foi na Associação de Rizicultores do Povoado Sertão, em Ilha das Flores. O grupo de 31 produtores precisava de um galpão de armazenagem da safra, podendo ter a vantagem de escolher em que época pode negociar as sacas do grão, obtendo maior autonomia em relação aos atravessadores e otimizando sua geração de renda. A obra prevista no projeto incluía um pátio de secagem em anexo, e já foi concluída, da mesma forma que a aquisição implementos agrícolas para uso compartilhado nas lavouras.

O rizicultor Valter Pereira de Araújo era o presidente da associação quando surgiu o Dom Távora. Ele explica a necessidade de um espaço de estocagem para o grupo. “Às vezes, na hora da comercialização do arroz, o preço está lá embaixo; outras vezes, para mais tarde, a gente consegue fazer um preço melhor. Com esse galpão aqui, a gente pode secar, armazenar e aguardar que o preço melhore, para depois vender”, explicou. Em Ilha das Flores, o investimento totalizou R$ 144.210,39.

Apicultura

Em Japoatã, a missão visitou o projeto empreendido pela Associação dos Apicultores do Projeto Ladeirinhas A, que envolve produtores de diversas localidades do município. São 25 sócios, que possuem um terreno onde está instalado um contêiner equipado para fazer a extração do mel. Como os apiários ficam em áreas diferentes e mais distantes deste ponto de beneficiamento, precisavam de um veículo próprio para transportar os favos. Havia tanto a recusa como a sobretaxa para este tipo de frete terceirizado. A demanda foi proposta ao Dom Távora, assim como a ampliação do número de colmeias, para garantir o aumento da produção e da rentabilidade na atividade.

Parcialmente concluído, o último projeto visitado pela missão do Fida recebeu o aporte, junto ao Dom Távora, de R$ 144.220,00. Com este recurso, uma picape foi adquirida para uso compartilhado entre os apicultores, que agora aguardam a licitação de 150 caixas para criação de abelhas, para somar às 250 que o grupo já possui. Genilson Cupertino Teixeira, presidente da associação, conta que o grupo recebe o apoio da Emdagro desde 2008, o que facilitou o acesso ao benefício. “Eles vêm sempre nos apoiando em tudo. Qualquer coisa, eles estão aqui dando suporte e é disso que a gente precisa. A questão de o transporte veio numa boa hora. Nós não vamos mais precisar contratar terceiros para transportar os produtos. Não ficamos dependendo deles, da hora que quiserem prestar o serviço”, disse.

Reuniões de avaliação

Após as visitas de campo, ele fez um balanço positivo do que viu, a partir da constatação dos avanços na implementação dos planos de negócios, dos benefícios que chegam aos agricultores familiares, parceiros do projeto Dom Távora. “Deu para constatar que o material está chegando e que os investimentos estão sendo realizados dentro do padrão de qualidade, das regras ambientais e sanitárias exigidas. Então isso é muito e muito satisfatório. Visitamos também alguns projetos com algum atraso no prazo de implementação. Vamos estudar com o governo do Estado quais medidas podemos tomar para garantir que o recurso chegue em tempo, para que os beneficiários tenham pleno uso desses investimentos”, avaliou Bayle.

Ao mesmo tempo em que ocorriam as visitas de campo, a outra parte do grupo que compõe a missão do Fida em Sergipe, chefiada pelo oficial de programas para o Brasil Leonardo Bichara Rocha, realizou reuniões avaliativas com as equipes do Dom Távora e o secretário da Agricultura, André Luiz Bomfim Ferreira. Pela tarde, o mesmo grupo foi recebido pelo governador Belivaldo Chagas. A programação culminou nesta sexta, 07, com a assinatura de um Memorando da Missão realizada pelo Fida em Sergipe durante toda a semana.

Foto Pritty Reis

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