No ano passado, um dos homens mais estudiosos sobre Filarmônicas, maestro Fred Dantas, professor da Universidade Federal da Bahia, músico, compositor e que lidera a banda Oficina de Frevos e Dobrados, escreveu sobre a situação das filarmônicas na Bahia. Neste espaço, faremos um breve relato sobre a atual situação das bandas Filarmônicas de Sergipe. E aqui nós chamamos a atenção da sociedade, das autoridades constituídas e lideranças culturais para a importância de uma Banda Filarmônica na cidade e ainda sobre o estado das nossas filarmônicas.
Quase em todas as cidades de Sergipe existe Banda Filarmônica. São grupos musicais com estatutos e que atendem gratuitamente crianças e jovens, independente de estarem ou não em situação de risco social, sem impor barreiras de etnia, credo ou nenhum parâmetro que os rotule ou exponha. Tomando a discreta estimativa de 45 ou até 60 participantes por banda, entre músicos, orientadores e alunos iniciantes, todas juntas fazem das filarmônicas o maior projeto de inclusão social atuando com música em Sergipe.
Desconheço a aplicação de um programa de apoio a essas instituições musicais, algumas com mais de cem anos de funcionamento (como é o caso da tradicional Lira Carlos Gomes desta cidade, que no dia 3 de outubro, vai completar 138 anos de fundação), nem mesmo dirigido à manutenção das suas sedes e arquivos musicais manuscritos, cuja preciosidade ainda não foi bem avaliada.
Por que enfim essas bandas devem ser apoiadas pelo Estado? Porque há muitos anos iniciam, integram e profissionalizam milhares de crianças e jovens sem lhes cobrar um ‘tostão’, e ainda lhes disponibiliza instrumento e fardamento para os seus componentes desfilarem nas festas cívicas, sociais ou culturais de suas cidades, e quando às vezes as filarmônicas se deslocam para participarem de algum concurso ou encontro de Bandas Filarmônicas.
Nas bandas militares, grupos populares e orquestras sinfônicas, existentes em Aracaju, a maioria dos instrumentistas de sopro veio de bandas do interior. “As bandas de música estão intimamente ligadas à vida social das suas cidades, presentes em todos os momentos solenes, de cunho religioso ou de pura festa; em seus arquivos brota um notável patrimônio de músicas originais, em maioria compostas nas próprias cidades, por competentes compositores dos quais todos os brasileiros têm o direito de saber o nome, obra e tudo que fizeram pela música. Com sua independência e criatividade, é nas bandas que vemos maior possibilidade de surgir um ímpeto musical renovador e contemporâneo”, (Fred Dantas).
A Banda Filarmônica continua correndo atrás da sua autonomia sobre seus espaços, sua pedagogia e sua variedade musical. Cada filarmônica é regida por uma diretoria eleita soberana e democraticamente e seu trabalho musical tem como base a praxe pedagógica e artística dos nossos ancestrais, um trabalho bem sucedido, pois a média de inclusão de um iniciante, lendo música e tocando um instrumento, é de apenas um ano! Ao invés de erradicar, devemos estudar a metodologia desses abnegados agentes sociais! Cada banda de música é soberana para escolher seu fardamento, sua área de atuação e as músicas que escolheu tocar. O que se deseja é uma política clara de apoio ao trabalho já desenvolvido há quase dois séculos nas mais diversas comunidades, das cidades maiores até as pequeninas, e não sua substituição por uma estrutura piramidal, onde no topo está um líder único e um sistema pedagógico que não agrega experiências locais.
Algumas cidades são felizes, mas raros são os prefeitos conscientes do trabalho da banda em sua cidade. Mais raro ainda é o gestor que o faz de maneira equilibrada, quando há dois grupos locais. “E em geral, políticos costumam se sensibilizar mais com o colorido e movimentação das fanfarras que com o trabalho discreto e profissional das bandas filarmônicas, que usam toda a teoria da música ocidental: claves, pentagrama, figuras musicais, notas, dinâmica e sinais de expressão e por isso deixam o jovem apto ao mercado de trabalho”. (Fred Dantas).
Pergunto aos deputados da nossa Assembléia Legislativa: – o que cada um de Vossas Excelências tem feito pelas bandas de música que estão nesse momento agregando crianças e jovens nas cidades onde estão suas bases eleitorais? Fontes ligadas admitem existir cerca de cinco mil músicos e mais de dois mil e quinhentos iniciantes. Qual o plano do Governo para elas?
Por isso o que se deseja é uma política de apoio dirigida a todas as Bandas Filarmônicas do Estado.
O DIA ESTADUAL DA FILARMÔNICA
Queremos também a instituição no calendário festivo do Estado, do Dia Estadual da Filarmônica.
Mesmo passando por várias dificuldades, as Bandas Filarmônicas de Sergipe, precisam ter seu dia de glória, para celebrarem.
A cidade de Estância “Berço da Cultura de Sergipe” tem realizada anualmente, através do apaixonado por filarmônicas, integrante da diretoria da Associação Musical Lira Carlos Gomes, Magno de Jesus, agente cultural do município e membro da imprensa falada e escrita de Estância, o afamado Encontro de Bandas Filarmônicas, que este ano já vai para a 12ª versão.
O Encontro de Bandas Filarmônicas de Estância é o mais antigo do Estado. Muitas cidades de Sergipe se espelharam no Encontro de Estância, que já estão também difundindo seus trabalhos através de encontros realizados anualmente.
No ano passado, precisamente no último domingo de setembro, o radialista e jornalista Magno de Jesus realizou o 11º Encontro de Bandas Filarmônicas, conseguindo trazer para o município, quinze (11) representações musicais, envolvendo diversas cidades do Estado.
O evento é realizado em praça pública. Primeiro ocorre um bonito desfile das filarmônicas, saindo de uma praça a outra da cidade, para depois acontecer a retreta (concerto). As bandas procuram incluir nos seus repertórios variados ritmos musicais como: samba, dobrado, marcha, valsa, bolero e até mambos.
Após as apresentações das filarmônicas, o organizador entrega a cada uma um certificado de Honra ao Mérito já na moldura; são servidos lanches aos músicos e no final é realizado sorteio de instrumentos musicais.
Por Magno de Jesus