Aracaju, 9 de julho de 2025
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Roda de conversa discute “Racismo, Mulher Negra e a Assistência Social”

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Em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana, comemorado nesta quinta-feira, 25, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Diretoria de Direitos Humanos (DDH) da Secretaria Municipal da Assistência Social, realizou uma roda de conversa com o tema “Racismo Institucional, a Mulher Negra e a Assistência Social”. Na oportunidade, profissionais de diversas áreas da gestão municipal se reuniram para um diálogo em torno da quebra de paradigmas, focado na discussão a respeito do racismo ainda vigente nas instituições.

O tom ameno da conversa não ofuscou ou amenizou o que, de fato, esteve por trás do bate-papo. Na data de hoje, quando, no Brasil, também foi instituído o Dia Nacional de Tereza Benguela, em homenagem à mulher que foi líder quilombola no século XVIII e que se tornou figura de referência na resistência negra no Brasil Colônia, ainda se faz necessário falar sobre o peso histórico carregado pela mulher negra e, sem fechar os olhos para o papel do serviço público, é preciso, também, tocar no cerne do racismo institucional.

Mediada pela professora de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Tereza Cristina Martins, a roda de conversa serviu como um alerta para o serviço voltado à população. Segundo Tereza, a questão do racismo diz respeito aos profissionais de Serviço Social, mas, não exclusivamente.

“Quando nos voltamos para o serviço público, essa pauta é ainda mais forte. Porque, na verdade, nós trabalhamos com as expressões das questões sociais e, hoje, no Brasil, todos os indicadores sociais, todas as pesquisas, indicam que a população negra é quem está nas principais expressões das questões sociais”, explicou.

Para exemplificar, Tereza Cristina ressaltou que, quando se observa a pobreza são os negros e as mulheres negras que estão em situação de pobreza, as mulheres negras são as mais violentadas, a juventude negra está entre as maiores vítimas de homicídio em nosso país. “Quando nos voltamos, especificamente, para a mulher negra isso é ainda mais forte porque, por exemplo, assim como as mulheres de uma maneira geral sofrem o machismo, a mulher negra sofre o machismo envolto em questões de cunho racial. Portanto, o olhar precisa ser aprofundado”, esclareceu.

Para a mediadora, é preciso disseminar as discussões para combater a reprodução do racismo institucional. De acordo com a professora Tereza Cristina, todas as relações sociais no Brasil são estruturadas com base no racismo e a compreensão disso já é um ponto fundamental.

“Assim, podemos trabalhar no próprio planejamento de políticas públicas e políticas sociais. Não dá pra gente pensar num planejamento que só vê a mulher como um sujeito genérico porque as mulheres negras têm uma trajetória e todo o processo de colonização, de escravidão, que faz a história dessas mulheres uma história diferenciada. A mulher negra traz toda essa carga, por isso, é preciso pensar na mulher não só na opressão de gênero, mas também na opressão étnico-racial que é fundamental para que façamos a diferença e tenhamos resultados efetivos”, destacou.

Essas discussões, contudo, fazem parte do Planejamento Estratégico da gestão, um trabalho realizado no âmbito dos Direitos Humanos e, mais especificamente, no campo da promoção da Igualdade Racial.

De acordo com a Coordenadora de Equidade, ligada à Diretoria de Direitos Humanos, Laila Oliveira, a Prefeitura de Aracaju trabalha para promover ações constantes de conscientização e fomento da quebra de preconceitos e, mais especificamente, do racismo, com o desenvolvimento de ações como essa roda de conversa.

“Temos, por exemplo, o Projeto Benguela, que trabalha o combate ao racismo nas escolas municipais e, durante todo o ano, nos voltamos para discutir a mulher negra, não somente no 8 de março ou no 25 de julho. A mulher negra acumula marcadores sociais como o racismo, que faz com que o machismo que essa mulher vivencia, por exemplo, seja diferenciado porque recai o peso da história do negro no Brasil, ela vai sofrer mais com a hipersexualização, vai sofrer mais com a mão de obra, a mesma coisa em relação à moradia, à violência. Não podemos entender como avanços se ainda existem mulheres que continuam sofrendo esse tipo de violência, esse tipo de descriminalização, por isso, momentos como essa roda de conversa são importantes. Precisamos olhar como é que esses fenômenos acontecem”, frisou Leila.

Também integrando a Diretoria de Direitos Humanos, a Coordenadoria de Políticas para as Mulheres se somou aos trabalhos desta manhã. “Às vezes, olhamos muito para fora e nos esquecemos de aguçar o olhar para dentro. Dentro da instituição também acontece racismo, descriminação, violência. Não se concebe chegar em qualquer lugar da rede municipal e encontrar algum tipo de ação dessa natureza. Imagine, pregar que isso é errado, que isso não deve acontecer, que deve ser combatido, e de repente, a gente estar fazendo isso dentro dos nossos serviços. Essas ações, como a roda de conversa, são tarefas que não podemos deixar de fazer nunca, é rotativo”, considerou a coordenadora da pasta, Ana Márcia de Oliveira.

Presente na roda de conversa, a técnica da rede de programas municipais da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Kátia Gonçalves, que também faz parte do recém criado Conselho Municipal de Participação e Promoção da Igualdade Racial (CMPPIR), acredita que o empoderamento do feminino negro não está só na ideia de se igualar ao universo masculino, mas também da mulher construir laços de identidade e pertencimento com o seu feminino negro.

“Esse dia é muito importante porque vamos colocar na roda e na mesa como está constituída a ideia da mulher negra na sociedade. Devemos também entender que a mulher negra, por conta de todos os recortes já vividos, não só por ela, mas por seus troncos na ancestralidade, também se sente acuada e, na maioria das vezes, principalmente aquela que não teve uma robustez na educação, ainda trabalha com muita singeleza, como muito ‘sim, senhor’, ‘não, senhor'”, reforçou Kátia.

Para a assistente social Márcia Martins é preciso analisar o histórico da mulher, sobretudo da mulher negra, para agregar aos serviços executados pela gestão pública. “Se pegarmos a linha histórica, partindo do período escravocrata, as mulheres foram, por muito tempo, provedora de suas famílias, criou os filhos sozinha, portanto, é parte da construção das riquezas da sociedade. No entanto, há uma invisibilidade providencial e intencional, justamente para negar essa construção histórica, para negar a existência dessa mulher, mulher negra. Essas rodas de conversa são uma forma de mostrar o quanto é importante debater para orientar e construir ações, de fato, relevantes para o bem estar das mulheres negras”, completou.

Foto: Sérgio Silva

 

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