É comum ouvir de meninos que eles desejam ser jogador de futebol quando crescer. Na maior parte das vezes, eles elegem um ídolo e sonham ser tão bons quanto ele. Para algumas pessoas, esse é só um sonho infantil que, com o tempo, passa, mas, para muitos desses que idealizam, o caminho pode ser árduo, mas o sonho segue vivo até se realizar. Incentivar esse sonho também faz parte dos objetivos da Prefeitura de Aracaju que, por intermédio da Secretaria Municipal da Juventude e do Esporte (Sejesp), dá todo o apoio às crianças que veem no futebol o ideal de suas vidas.
Um dos caminhos encontrados pela gestão municipal para dar maior visibilidade a esses pequenos/grandes jogadores se firmou por meio da Taça Cidade de Aracaju, evento anual que reúne diversas equipes e cerca de cinco mil atletas, a partir dos 7 anos de idade.
O diferencial do evento esportivo é que olheiros de grandes times brasileiros acompanham as partidas. “As redes sociais se tornaram, assim, grandes aliadas porque os olheiros acompanham a transmissão que fazemos dos jogos das oitavas, quartas e semifinais da Taça. Durante esse período, eles selecionam alguns garotos, entram em contato com os respectivos pais e, nas finais do evento, esses olheiros vêm a Aracaju ver o desempenho de perto para, assim, oferecerem uma vaga nas escolinhas de seus clubes”, afirmou o coordenador de Esportes de Inclusão da Sejesp, Luiz Carlos Bossa Nova.
Com isso, o que a Prefeitura tem feito é oportunizar uma maior visibilidade a partir das competições e, indiretamente, tem ajudado a transformar vidas por meio do esporte.
“De 2017 para cá, em torno de 25 atletas daqui já mudaram de vida. Alguns, inclusive, depois que completaram 18 anos, foram para Portugal. É uma mudança radical porque, na maioria das vezes, são meninos de periferia descobertos muito jovens. Saem de clubes de Aracaju e vão para o mundo. Muita gente desmerece o ato de jogar bola, mas, para muitos meninos, essa é a única esperança que veem quando têm talento. Incentivar esse sonho é o mínimo que podemos fazer”, frisou Bossa Nova.
Além divisas e fronteiras
Foi no ano passado que João Pedro Araújo, de 16 anos, ganhou mais fôlego para correr atrás do sonho de ser jogador profissional. Até então, apesar de jogar em escolinhas e em times da capital, ele ainda não tinha tido nenhuma oportunidade para sair de Sergipe.
“Eu sou da cidade de São Francisco. Lá, eu morava com minha tia e minha avô desde os meus 8 anos. Ser jogador de futebol sempre foi meu sonho e minha tia me incentivava. Quando apareceu a oportunidade de ir para Aracaju, fui e disputei alguns campeonatos. Durante a Taça Cidade de Aracaju, um olheiro me chamou para sair do estado”, contou o rapaz.
Hoje, João Pedro mora, estuda e treina em Salvador. Por lá, ele está sob os cuidados do Esporte Clube Bahia, que oferece toda a estrutura. “Penso em melhorar cada vez mais como jogador, dar uma vida melhor à minha família. A gente sonha em ser grande, mas, quando começa a crescer, às vezes, é até difícil acreditar. Estou gostando de tudo o que tenho visto e vivido, e quero ter cada dia mais experiência”, disse.
O sonho de Luiz Guilherme Lira dos Santos, de apenas 13 anos, o fez chegar ao outro lado do mundo. Ele começou em escolinhas de futebol da capital sergipana e, desde os 7 anos, já mostrava o talento na arte do pés, como lembrou seu pai.
“Desde muito novinho, ele já demostrava que era bom, mas, achávamos que essa história de jogar futebol era coisa de desejo de menino, mas, a coisa foi ficando séria. Chegamos a receber propostas do Flamengo e, na época, não o deixei ir, mas, com o tempo, fui vendo que era mesmo o sonho dele. Quando o Palmeiras o chamou, não deixei passar a oportunidade”, revelou Gladston dos Santos.
Há um ano, Guilherme mora em São Paulo com a mãe e o irmão e tem todas as despesas cobertas pelo time. O sucesso foi tanto que o jovem jogador já assinou contrato com uma grande empresa americana de artigos e equipamentos esportivos.
“Sempre tive muito orgulho do filho que tenho e, justamente por ele ser muito novo, tomamos todos os cuidados, mas não podemos e nem queremos barrar o sonho dele. Desde que chegou ao Palmeiras, ele já recebeu 10 títulos, três deles individuais, de artilheiro e melhor jogador. Ele até já subiu de categoria e está jogando no Sub-15. Para nós, é uma alegria imensa vê-lo crescer fazendo o que tanto deseja”, ressaltou o pai satisfeito.
O instinto de proteção dos pais é o que, muitas vezes, os leva a acreditar que o sonho dos filhos é coisa da infância. Para dona Mércia Oliveira, mãe do Ainoam Ricardo Oliveira, de 14 anos, havia um misto de proteção e receio do filho ter dificuldades, tanto que, hoje, ela mora com o filho em Salvador.
Contratado pelo Esporte Clube Vitória, Ainoam mora há quase três anos na capital baiana. “A gente sempre tem certo receio do filho tomar um rumo perigoso, mas ele sempre foi muito responsável e, sobretudo, muito decidido, tanto que sempre foi focado em ser jogador de futebol. Hoje, sempre brinco com ele que, pode jogar muito e que continue se dedicando, só não largue os estudos porque precisa falar bonito nas entrevistas”, contou em tom descontraído.
O talento de Ainoam foi notado desde muito cedo. “Com 5 anos ele já estava numa escolinha de futsal e, entre 7 e 8 anos de idade seguiu para uma de futebol. Foi justamente no time que formou na escolinha, durante a Taça Cidade de Aracaju, que ele foi convidado para ir jogar no Vitória. Vejo a alegria que ele sente por jogar e isso é o que nos motiva a incentivar cada vez mais”, frisou Mércia.
Mesmo com a distância, a Sejesp mantém contado com os meninos e seus familiares. “Nosso interesse é somente ter notícias deles, saber que estão bem. De alguma forma, direta ou indiretamente, temos uma ligação com esses meninos porque eles estiveram presentes nos campeonatos que realizamos, então, existe uma preocupação em acompanhar o desenvolvimento. Para nós, o sonho deles é algo muito sério e muita grandeza”, concluiu o coordenador de Esportes de Inclusão da Sejesp, Luiz Carlos Bossa Nova.
Foto: Julia Galvão