Aracaju, 4 de julho de 2025
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Sarampo volta a preocupar e médico reforça necessidade da vacina

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Há alguns anos, o Brasil possuía o certificado de livre da circulação do vírus selvagem do sarampo.

O Brasil voltou a sofrer com surtos de sarampo, doença infecciosa causada por um vírus altamente contagioso. A afirmação é do médico Ricardo Gurgel, pesquisador e pediatra do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), filial da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Ele relata que, há alguns anos, o país possuía o certificado de livre da circulação do vírus selvagem do sarampo. No entanto, hoje a realidade é outra. “A doença foi controlada praticamente em todo o mundo desenvolvido e em muitos países de média e baixa renda. No Brasil, foram muitos anos sem aparecer nenhum caso, mas lamentavelmente o vírus voltou a circular. Ainda não se sabe ao certo se foi por falta de adesão voluntária à vacina ou por falta da vacina em alguns postos”, pontua.

“A vacina foi desenvolvida para poder livrar do vírus selvagem, e conseguiu, por muito tempo. Mas agora as pessoas deixam de se vacinar, e isso é uma situação muito ruim, por vários motivos. A procura pela vacina está diminuindo sem um argumento plausível, aceitável. No Brasil tem algumas situações de eventual falta do produto para vacinar, mas também tem um componente importante a ser analisado, que é o fato de as pessoas, por livre iniciativa, deixarem de se vacinar, o que é muito ruim”, detalha o pesquisador.

Cobertura vacinal

Ricardo Gurgel demonstra preocupação com a queda da cobertura vacinal. “O Brasil tinha o certificado de livre do vírus selvagem, mas infelizmente deixou de ter, porque o vírus voltou a circular. Isso é um retrocesso das pessoas ao não reconhecerem o poder da ciência, que pesquisou e desenvolveu a vacina. O Ministério da Saúde está promovendo um inquérito sobre as causas da queda da cobertura vacinal no Brasil, não só da vacina contra o sarampo, mas de outras vacinas”, informa.

O pesquisador afirma que está previsto para o próximo ano um estudo, do qual fará parte, em todas as capitais brasileiras sobre as causas da queda da cobertura vacinal. “Sabemos que existem os problemas estruturais, das pessoas que vão até o posto de saúde e não conseguem se vacinar. Mas também existem as pessoas que simplesmente decidem não se vacinar”, lamenta.

Sintomas

O médico informa que algumas pessoas contraem o vírus do sarampo e lidam com ele sem manifestar sintomas, mas boa parte apresenta sinais como manchas pelo corpo, coceira, febre, tosse persistente e infecção no ouvido, podendo evoluir para quadros de pneumonia, convulsão e até morte.

De acordo com ele, não existe um remédio específico para a doença. A única forma de preveni-la ainda é a vacina. “O vírus ataca a imunidade, propicia a ocorrência de outras infecções. Quem tem um quadro de sarampo pode chegar a uma pneumonia, uma otite, ter infecção respiratória, intestinal, e até uma septicemia, que é a infecção generalizada. Quanto maior a fragilidade do paciente, maior a chance disso acontecer, ou seja, crianças muito pequenas, abaixo de um ano, idosos acima de 65, pessoas que tomam medicação que diminui a imunidade, esses são alvos com um risco muito maior de ter complicações sérias do sarampo”, alerta o pediatra.

Para ele, a doença em si não é o maior problema, mas as complicações posteriores sim. “Existem até complicações neurológicas raras resultantes do sarampo. As infecções secundárias também são preocupantes. Febre, tosse, dificuldade respiratória. O tratamento vai ser das complicações, com o uso de antibióticos, internação, hidratação venosa”, explica o médico.

Conscientização

Ricardo Gurgel chama a atenção para a necessidade de conscientizar a sociedade sobre a importância da vacina. “Precisamos esclarecer melhor as pessoas sobre a necessidade da vacina e temos que ver, dentro dos serviços de saúde, como fazer para que não ocorra o fato de a pessoa querer se vacinar e não conseguir por falta do produto. O sarampo tem uma contagiosidade muito alta, quem tem contato com a pessoa com sarampo tem grandes chances de se contaminar e adoecer, se não for vacinado. Reforço: a única maneira de prevenção é a vacina. A doença é altamente transmissível”, destaca.

A transmissão se dá pelo contato com gotículas do nariz, da boca ou da garganta da pessoa infectada, quando ela tosse, espirra ou respira. Os sintomas começam a aparecer entre dez e 14 dias após a exposição ao vírus, e podem incluir coriza, tosse, infecção nos olhos, erupção cutânea e febre alta. De três a cinco dias após o início dos sintomas, pode surgir uma erupção cutânea, que normalmente começa como manchas vermelhas espalhadas pelo corpo.

“No caso em que houver a doença, quem teve contato com a pessoa doente muitas vezes tem que receber dose extra de vacina. O recomendado é tomar duas doses da vacina tríplice viral, aos 12 e 15 meses. Quem tomou essas duas doses está teoricamente protegido. A princípio, não precisa tomar uma terceira dose. No momento atual, as crianças de 6 a 12 meses devem receber uma dose extra da vacina, para protegê-las mais cedo, mas as pessoas que tiverem comprovação que tomaram as duas doses não precisam tomar nenhuma dose nesse momento”, esclarece.

O pesquisador ressalta que o fundamental é manter o esquema vacinal completo, seja para crianças, adultos, gestantes ou idosos. “Sergipe está com uma cobertura vacinal abaixo do esperado. Temos dois casos recentes comprovados, alguns em investigação, outros descartados. O que temos que fazer agora é garantir o máximo de vacina, para que haja uma proteção mesmo dos que não se vacinaram. Quando você consegue uma vacinação em um percentual alto da população, essas pessoas bloqueiam a circulação do vírus selvagem e não deixam que aquelas que não tomaram a vacina venham a ter a doença”, diz.

“Se a pessoa tem algum questionamento sobre se precisa da vacina novamente ou não, recomendo que pegue a sua carteirinha de vacina e vá até o posto de saúde, onde encontrará pessoal treinado para esclarecer esses e outros pontos”, aconselha.

Sobre a Rede Hospitalar Ebserh

O Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS) faz parte da Rede Hospitalar Ebserh desde outubro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.

Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.

Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.

Foro assessoria

Por Andreza Azevedo

 

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