Aracaju, 26 de abril de 2024
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Suspeito de assassinar Marielle entra em condomínio e diz que vai à casa de Bolsonaro

O Jornal Nacional, exibido nesta terça-feira pela TV Globo, revelou com exclusividade que registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde mora o principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa, mostram que horas antes do assassinato, no dia 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, ex-policial militar Élcio de Queiroz, expulso da corporação em 2015, entrou no condomínio e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro. Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília no dia.

De acordo com o JN, o porteiro trabalhava na guarita que controla os acessos ao condomínio no dia do crime. Às 17h10 do dia em que Marielle e Anderson foram mortos, o porteiro registrou no livro de visitantes o nome de Élcio, o modelo do carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa que o visitante iria, a de número 58. Ainda segundo o JN, o porteiro contou que, depois que Élcio se identificou na portaria e disse que iria para a casa 58, ele ligou para a residência para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar. Ele afirmou ainda, em dois depoimentos, que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do “seu Jair”.

No registro geral de imóveis, consta que a casa 58 pertence a Jair Messias Bolsonaro. O presidente também é dono da casa 36, onde vive um dos filhos dele, o vereador do Rio, Carlos Bolsonaro (PSL).

O porteiro explicou que, depois que Élcio entrou, ele acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o carro tinha ido para a casa 66 do condomínio. A casa 66 era onde morava Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle e Anderson. Lessa é apontado pelo Ministério Público do Rio e pela Delegacia de Homicídios como autor dos disparos.

No depoimento, o porteiro disse que ligou de novo para a casa 58 e que o homem identificado por ele como “Seu Jair” teria dito que sabia para onde Élcio estava indo.

Estava na Câmara – Os registros da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília naquele dia. O então deputado registrou a presença em duas votações no plenário: às 14h e às 20h30. No mesmo dia, Bolsonaro também postou vídeos nas redes sociais do lado de fora e dentro do gabinete em Brasília.

Fontes disseram à equipe do Jornal Nacional que os dois criminosos saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da chegada de Élcio. Eles teriam embarcadono carro usado no crime nas proximidades do condomínio.

Segundo o Jornal Nacional, a guarita do condomínio tem equipamentos que gravam as conversas pelo interfone. A Polícia trabalha para recuperar os arquivos de áudio para saber com quem, de fato, o porteiro conversou naquele dia e quem estava na casa 58.

De acordo com a reportagem, após o depoimento do porteiro, representantes do Ministério Público do Rio foram até Brasília para fazer um consulta ao presidente do Supremo Tribunal Federal, o minisitro Dias Toffoli. Sem avisar o juiz do caso aqui no Rio, eles questionaram se podem continuar a investigação depois que apareceu o nome do presidente Bolsonaro. O encontrou ocorreu no último dia 17. O presidente do STFainda não respondeu

Defesa desmente – O advogado Frederick Wassef, que defende Bolsonaro, contestou o depoimento do porteiro e disse que é uma tentativa de atacar o presidente.

— Eu nego isso. Isso é uma mentira. Deve ser um erro de digitação, alguma coisa. É o caso de uma investigação por esse falso testemunho — disse Wassef.

O MP-RJ afirmou que as investigações estão a cargo da Delegacia de Homicídios, que é subordinada à Secretaria de Polícia Civil, e que o Grupo de Atuação Especial do MP acompanha o caso. A Polícia Civil disse que a Delegacia de Homicídios investiga o caso junto com o Grupo de Atuação Especial do Ministério Público.

As defesas de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz não responderam às tentativas de contato do jornal Nacional. Até a divulgação da reportagem, Toffoli não se pronunciou.

Bolsonaro atribui a Witzel o vazamento da informação

Em transmissão em vídeo nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) criticou fortemente a veiculação nesta terça-feira (29) de reportagem pelo Jornal Nacional, da TV Globo, que o vincula a um dos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) em 2018. Bolsonaro ainda atribuiu o vazamento de informações do inquérito ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).

“Não devo nada a ninguém. Não tenho o menor motivo para mandar matar quem quer que seja”, disse Bolsonaro. Ele disse que só soube quem era Marielle Franco no dia em que a vereadora foi executada, e chamou os responsáveis pela reportagem da TV Globo de “patifes, canalhas”.

“Por que querem me destruir? Por que essa sede de poder, seu governador Witzel?”, questionou o presidente. Ele disse que o governador teria atuado pessoalmente para o vazamento de informações do inquérito, mas não apresentou evidências. “O senhor quer destruir a minha família para chegar à presidência da República.”

Em viagem à Arábia Saudita, o presidente fez a transmissão durante a madrugada do país. Ele disse que tinha interesse em conversar com delegados do caso para mostrar que não tem envolvimento, e cobrou uma supervisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) tanto nas investigações do assassinato de Marielle quanto no atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018.

Bolsonaro citou protestos na América do Sul, que provocaram tumultos no Chile, no Equador e na Bolívia, e sugeriu que a emissora tem a intenção de criar instabilidade no País. “Será que a Globo quer criar um fato, uma narrativa, de que eu deveria me afastar?”, questionou

O presidente citou um suposto interesse da emissora em verbas de publicidade governamental, cujos contratos são renovados anualmente. Em um momento do vídeo, ele chegou a dizer que não haveria retaliação à Globo por matérias críticas a seu governo.

“Não vou perseguí-los”, disse. “Deixem eu governar o Brasil. Vocês perderam.”

Em nota, Witzel diz que não transita no terreno da ilegalidade

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), em nota enviada ao Faxaju Oline, no final da noite desta terça-feira (29) disse que não transita “no terreno da ilegalidade” e nem compactua com vazamento à imprensa. Diz que defenderá o equilíbrio e o bom senso pessoais e institucional: “Fui eleito sob a bandeira da ética, da moralidade e do combate à corrupção. E deste caminho não me afastarei.”

Nota na Integra

“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil. Em meu governo, as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas nossas ações.

Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa. Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas. Hoje [ontem], fui atacado injustamente. Ainda assim, defenderei, como fiz durante os anos em que exerci a Magistratura, o equilíbrio e o bom senso nas relações pessoais e institucionais. Fui eleito sob a bandeira da ética, da moralidade e do combate à corrupção. E deste caminho não me afastarei.”

Wilson Witzel – Governador do Estado do Rio de Janeiro”

 

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