Quando se imaginava que o PT aprenderia com as lições do golpe contra Dilma em 2016, parece que não, e ainda piorou.
Estou me referindo as alianças com partidos e políticos golpistas para viabilizarem projetos pessoais à revelia do que pensa a gigantesca massa de filiados e filiadas, que só tomam conhecimento das aberrações pela imprensa.
Recentemente parte dos petistas da cidade de Capela (Sergipe) ficou atônita com a possibilidade de uma figura pública da direita local, o ex-prefeito Manuel Sukita, que recentemente despachava diretamente do presídio, se filiar ao PT a convite de lideranças estaduais.
Eu disse “parte dos petistas” porque tinha também aqueles que eram favoráveis, inclusive dirigentes, os chamados “Sukiteiros”, petistas que não estão preocupados com a imagem do partido. A reação dos filiados contrários à filiação melou o convite, pelo menos até aqui.
Circulou nos meios de comunicação e redes sociais no mesmo período que o ex-governador Jackson Barreto também havia sido convidado para se filiar e vestir a camisa vermelha, mas depois da reação da tendência petista Articulação de Esquerda, o debate perdeu força. Ainda bem.
Com a aproximação do processo eleitoral essa migração de políticos de direita para o PT deve se intensificar, prova é que na cidade de Estância, um quadro da direita, já em segundo mandato no parlamento municipal foi convidado para se filiar com direito a presença do staff estadual do partido para fazer a foto e entregar a estrelinha ao neopetista.
O Jornal do Dia publicou na edição do dia 12 de março, página 3, uma nota dando conta de que o apelo para que a direção do PT em Estância acatasse a filiação veio do senador Rogério Carvalho.
Estou me referindo ao vereador Pedro Benjamin, que tem a sua gênese política ligada visceralmente ao grupo do ex-deputado e ex-prefeito Ivan Leite, empresário do ramo de distribuição de energia elétrica na região centro sul e parte da Bahia, reconhecidamente um homem de direita, ultraconservador, eleitor de Bolsonaro e fã incondicional de Fernando Henrique Cardoso. Pedro atualmente é aliado também do Senador Alessandro Vieira.
Não há divergência no campo pessoal contra Pedro Benjamin, mas politicamente sim. É sabido de todos que a sua urbanidade é uma virtude que está acima da média dos políticos da cidade, ele é um gentleman, o problema é que o PT não precisa de candidato para dar aulas de etiqueta, mas de político que enfrente essa onda fascista, que enfrente a própria direita de onde ele saiu e sempre deu sustentação.
Eu sinceramente não vejo em Pedro o perfil de quem vai defender a pauta da classe trabalhadora, porta voz das camadas vulneráveis, alguém que vai defender e acompanhar as lutas do movimento sindical, do MST, dos movimentos de juventude, etc.
As informações de bastidores são de que o passaporte para se filiar ao PT foi o fato de Pedro Benjamin ter votado no Senador Rogério Carvalho. Ora, se isso é critério, então vamos abrir as portas para todos os prefeitos e vereadores de direita que votaram no senador, vamos convidar Paulo Maluf, Sarney, Roberto Jefferson, Renan Calheiros, Michel Temer etc. porque eles já votaram no PT.
Caso a filiação se concretize, é possível que ele se eleja em primeiro na chapa e a segunda vaga será disputada pelos petistas históricos.
Na eleição de 2016 Pedro Benjamin obteve 1.415 votos e foi eleito na quarta colocação geral, e Artur (PT) que também foi eleito obteve 931 votos ficando na penúltima colocação, o Dominguinhos (PT) obteve 899 votos e por isso não se reelegeu, já a professora Ivonia (PT) obteve 759 votos e também ficou de fora.
Vale destacar que Dominguinhos não será candidato a vereador, mas ao cargo majoritário, fato que complica ainda mais a situação dos nossos pré-candidatos ao parlamento.
Nesse caso ou os nossos candidatos têm um bom desempenho, porque mais ou menos não serve, ou seremos utilizados como escada para um quadro da direita, e aí o PT em Estância crescerá como rabo de cavalo, pra baixo.
Se há receio de que uma chapa petista sem a inclusão de Benjamin não eleja ninguém (acho muito improvável) pior será eleger quem chegou agora, dará no mesmo. Sem Pedro o PT elege um com certeza, com Pedro elege dois, ou seja, um petista apenas.
O PT sempre se negou a ser barriga de aluguel. Quem quisesse ser candidato teria que se filiar e ajudar a construir o partido, e somente depois conquistar o direito de disputar uma eleição, por isso me causaram incômodo os convites feitos a Sukita, JB e Benjamin.
Esse tipo de filiação desmoraliza as regras partidária que definem que pra alguém se filiar, é necessário participar de formação para conhecer o partido.
Como em porteira que passa um boi passa uma boiada, outros políticos da direita tradicional da cidade de Gumercindo Bessa, gente que perseguiu e persegue trabalhadores, já pode ingressar no PT.
No momento em que eu concluía esse texto recebi um telefonema da cidade de Cristinápolis informando que por lá a coisa tá feia também. Filiações de políticos que já perambularam pelo submundo da política. Lamentável.
Se nas esferas nacional e estadual o PT tem dificuldade para assimilar as derrotas e os motivos que os levaram a elas, em Estância (SE) também.
Na cidade berço da cultura sergipana, em todas as eleições municipais sempre tivemos quadros dispostos a enfrentar o desafio de disputar a prefeitura, o problema é que a maioria que dirige o partido nunca priorizou a disputa majoritária, por isso as nossas candidaturas a prefeito sempre
foram intermitentes. Uma eleição com candidatura própria, outra não, e assim o povo passou a desconfiar da nossa política, se era pra ver ou não.
Enquanto a maioria que dirige o partido vacilava, o ex-petista Márcio Souza (PSOL) marcou posição em todas as eleições municipais, e isso fez com que a população o visse sempre como uma alternativa. Se não insistir não cria liga, que diga o ex-presidente Lula.
Enfim, se o PT se esforçar mais um pouquinho logrará êxito no desejo de ser “mais do mesmo”.
Tenho dito!
Observação: esse texto reflete exclusivamente a minha opinião.
Por Rubens Marques de Sousa (Dudu)