Aracaju, 20 de abril de 2024
Search

Laércio Oliveira diz: “A hora é de preservar a saúde, mas sem permitir destruir a economia”

laercio oliveira

O presidente da Confederação do Comércio em Sergipe (Fecomércio), deputado federal Laércio Oliveira (PP) se mostra preocupado com a chegada e possibilidade rápida de expansão do coronavírus. Mas, como representante de um segmento empresarial, também está fixado nas dificuldades do setor comercial, em razão de medidas adotadas para fechamento de lojas, supermercados, shoppings e todos os demais setores da área.

Mira, naturalmente, numa recessão na economia, com a paralisação do comércio, o que atinge áreas de expressão, como pequenas lojas e a informalidade que sempre presente nesse segmento. Laércio defende que “empresas e empregos não sejam destruídos durante o período que durar essa crise. Não podemos deixar de também começar a planejar uma retomada gradual das atividades econômicas, visando, inclusive, dar suporte à manutenção dos serviços essenciais, que não conseguem funcionar de forma isolada”.

Para Laércio Oliveira, “não adianta esperar que um comércio que está praticamente sem receitas continue pagando aluguel, salários, encargos e outros impostos. Será necessário fazer negociações na busca de um grande entendimento, que tenha como foco a manutenção das empresas e dos empregos”.

Entrevista:

Faxaju OnlineComo o senhor vê a situação do País nesse momento de Pandemia?

Laércio Oliveira – Acho que o desafio do momento de qualquer Governo é equilibrar o trabalho do combate ao vírus e os impactos econômicos. A Câmara dos Deputados estava analisando reformas importantes para que o Brasil voltasse a crescer.  Mas essa crise mundial fez que parássemos tudo. Agora é hora de medidas fortes e urgentes de forma a preservar a saúde da população e ao mesmo tempo não permitir a destruição da economia.
O primeiro foco é preservar a saúde e a vida das pessoas com olhar especial aos idosos e imunodeficientes, além de procurar melhorar as estruturas de atendimento aos que serão infectados.
Outro ponto fundamental é a preservação da economia, para que empresas e os empregos não sejam destruídos durante o período que durar essa crise. Não podemos deixar de também começar a planejar uma retomada gradual das atividades econômicas, visando, inclusive, dar suporte à manutenção dos serviços essenciais, que não conseguem funcionar de forma isolada. Como exemplo, vi que está faltando embalagem para a distribuição do álcool 70º e do álcool gel e estrutura de apoio para o setor de transporte que atende às necessidades básicas da população.
Estamos em um momento de guerra contra um inimigo que nunca nos preparamos para enfrentar. Isso exige medidas econômicas diferentes das de tempo de paz.

Faxaju – As medidas econômicas que vêm sendo adotadas em todos os países levam à possibilidade de uma recessão mundial. O Brasil tem condições de enfrentar essa crise?

Laércio – O governo apresentou uma boa proposta para os cerca de 15 a 20 milhões de autônomos, que estão com sua renda bastante comprometida com o valor de R$ 600 a R$ 1.200 por família. Mas a proposta para as empresas é muito insuficiente. Acredito que se não tivermos medidas mais fortes como as apresentadas pelos países de primeiro mundo, vamos ter empresas fechando e milhões vão ficar desempregados, vão receber seguro desemprego e centenas de bilhões vão deixar de ser arrecadados.

Faxaju – Os segmentos comercial e de Serviços parecem que são os mais atingidos pelas medidas para conter a expansão do Coronavírus, como fazer para recuperar tanto prejuízo?

Laércio – Sem dúvidas. Reunir-me na semana passada com representantes do comércio e serviços do nosso Estado para discutirmos as propostas que atendem o setor.
Discutimos a proposta do Governo para preservar as empresas e empregos, como a que permite que as empresas do Simples possam pagar os impostos devidos após 90 dias e também os empréstimos para ajudar as empresas a pagar os salários. Em seguida o governo anunciou sua proposta de empréstimo para micro e pequenas empresas para o pagamento de salários. Mas isso é insuficiente para esse momento de guerra.
Não adianta esperar que um comércio que está praticamente sem receitas continui pagando aluguel, salários, encargos e outros impostos. Será necessário fazer negociações na busca de um grande entendimento, que tenha como foco a manutenção das empresas e dos empregos.
As medidas têm que ser fortes, como outros países estão fazendo para segurar os empregos. Tem que agir nas seguintes direções:
O Governo dá renda para que o trabalhador não fique desamparado. E também dá fôlego às empresas. Para isso, tem duas ações:
Disponibilizar capital de giro e aumentar o prazo de pagamento de impostos.
No caso de Estados e Municípios, que tem mais dificuldades, o Governo Federal precisa emprestar recursos para que eles também possam aumentar seus prazos de recebimento e manter os pagamentos em dia de forma a não desencadear um movimento de inadimplência generalizada.
O custo fiscal disso será grande. Por isso, acredito que nesse momento todos os poderes precisam contribuir com redução temporária de salários. O legislativo, a começar por nós deputados, mas também o executivo e o judiciário de servidores com salários mais altos, excluindo-se os valorosos profissionais da área de saúde que estão trabalhando no combate ao coronavírus. Estes são verdadeiros heróis dessa guerra, na medida em que se expõem pessoalmente no trabalho de cuidar dos infectados.

Faxaju – “O empresário teme que a crise se expanda e promova o crescimento do risco Brasil?

Laércio – A preocupação é grande. As ações da área econômica para reduzir os danos provocados pela crise do coronavírus totalizam R$ 700 bilhões, entre antecipações de recursos, liberação de linhas de crédito e aumento de gastos públicos, segundo informações passadas pelo ministro Paulo Guedes na última sexta-feira.
O ministro não especificou o quanto desse total corresponde a recursos novos, decorrente de aumento de gastos públicos e o quanto decorre de antecipação de benefícios ou do adiamento de pagamento de tributos, mas disse que o dinheiro ajudará o Brasil a enfrentar o que chamou de “primeira onda”, caracterizada pela pressão sobre o sistema de saúde.
Segundo o ministro, nos próximos três, quatro meses, esses R$ 700 bilhões vão entrar na economia brasileira para nos proteger contra esse choque da saúde. Antes dessa crise nós tínhamos grandes perspectivas de crescimento com as reformas que estavam sendo construídas entre o Congresso e o Governo. Agora tudo mudou. Teremos uma retração da economia e desemprego.
Mas para que a situação não seja tão drástica é preciso pensar numa retomada gradual da atividade econômica, sempre embasada em orientações técnicas do Ministério da Saúde.  O colapso do abastecimento provocado por eventuais interrupções de atividades essenciais pode inclusive prejudicar a sobrevivência das pessoas.

Faxaju – O senhor acha que as eleições municipais devem ser adiadas?

Laércio – Esse debate tem também um pano de fundo econômico. Muitas pessoas nas redes sociais pedem a doação do fundo partidário para o combate ao coronavírus, o que sou favorável, mas devemos ir além disso. Você sabia que o dia da eleição custa R$ 2 bilhões, o mesmo valor que se gasta com fundo partidário no Brasil? E que a Justiça Eleitoral custa R$ 8 bilhões por ano? O presidente do meu partido (Progressistas), Ciro Nogueira, chamou a atenção para o adiamento da eleição em dois anos, para acontecer em conjunto com a de Governo do Estado e Presidência da República para economizar pelo menos R$ 8 bilhões. Existem outras propostas sobre o tema, mas acho que ainda é muito cedo para debater esse assunto. Acredito que o foco deva ser o enfrentamento da crise provocada pelo Covid-19.

Leia também