Aracaju, 8 de julho de 2025
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COMITÊ SERGIPANO POPULAR PELA VIDA REALIZA ABRAÇO SIMBÓLICO ÀS FAMÍLIAS

Nesta quarta-feira, 18 de agosto, às 9h30, entidades que integram o Comitê Sergipano Popular pela Vida (COPVIDA) realizarão abraço simbólico às famílias às mangabeiras que têm sofrido com o avanço das máquinas e de agentes públicos na área de preservação das mangabas, desde que a área que era da União e se situa nas proximidades do conjunto 17 de março, no bairro Santa Maria, foi doada em 20 de maio deste ano à Prefeitura Municipal de Aracaju. A concentração do ato será em frente ao segundo campo de futebol da área de extrativismo de mangaba, no bairro Santa Maria, próximo ao 17 de março.

Devido ao momento da pandemia da Covid 19, o abraço será simbólico e representará um clamor coletivo de apoio à natureza, ao meio ambiente e ao fazer de quem vive a mais de 60 anos da atividade extrativista de cultivo da mangaba – patrimônio cultural da sociedade sergipana.

Infelizmente desde 1960 muitos dos cultivos dessa região (mangaba, ouricuri, cajueiros) foram diminuindo ao longo dos anos, mas a resistência por sua preservação continua representada, agora somente pelas 11 famílias que restaram, reconhecidas pela Assembleia Legislativa de Sergipe como comunidade tradicional extrativista e, por isso protegida internacionalmente.

De acordo com Uilson, Presidente da Associação de Catadoras e Catadores de Mangaba Padre Luis Lenper, “a preservação desta área e a nossa atividade e memória, está muito comprometida com o avanço de máquinas na área, além da inserção de agentes públicos na parte interna de preservação extrativista. Temos receio de perdermos ainda mais mangabas, pois todas as investidas para que o Prefeito de Aracaju nos ouvisse não tiveram êxito. Como acreditar em projeto que afirma que irão preservar nossa área sem a ouvida de quem vive nela a mais de 60 anos?”, desabafa e lamenta.

No sábado, 7 de agosto de 2020 as famílias encontraram a área com mais de 60 árvores derrubadas (entre cajueiros, ouricuris e mangabeiras), além da derrubada de toda a cerca que protegia a área de posse dos/as extrativistas e a destruição do barraco de um dos extrativistas.

Para Lídia Anjos, do Movimento Nacional de Direitos Humanos de Sergipe, integrante do COPVIDA, grande parte da crise sanitária que vivemos hoje se deve também a forma agressiva de como a humanidade tem se relacionado com o meio ambiente. “É preciso refletir sobre a pandemia no sentido de melhorarmos nossas relações “no e com” o mundo, compreendendo urgentemente que isso passa pela preservação da natureza e de nossas comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, povos de terreiro, marisqueiras, pesqueiras, ciganas).

Para Ana Lúcia, do Coletivo Paulo Freire, integrante do COPVIDA, o abraço simbólico é um gesto significativo de demonstração  de respeito ao meio ambiente e a resistência destas famílias que são a memória viva daquela área de preservação ambiental, que ao longo desses anos respeitaram a única orientação que receberam da União, de nunca construírem casas de alvenaria e, assim, seguiram com autorização da posse da terra para viverem do extrativismo da mangaba, mesmo sem terem a propriedade dela”.

As famílias extrativistas de mangabas apoiam a luta pela moradia e a construção de casas populares, desde que esta área que neste momento chora as agressões que vem sofrendo por parte da PMA, seja preservada, tanto quanto suas vidas, que também está sob ataques e ameaças. Em Carta Aberta os/as extrativistas clamam para que parem e não avancem na área de extrativismo das famílias extrativistas de mangaba, pois consideram as mangabeiras vidas que salvam outras vidas.

Confira a íntegra da Carta.

PAREM: NÃO AVANCEM NA ÁREA DE EXTRATIVISMO DAS NOSSAS FAMÍLIAS!

CARTA ABERTA DAS FAMÍLIAS DE EXTRATIVISMO DA MANGABA ÀS AUTORIDADES PÚBLICAS, AMBIENTALISTAS, MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM GERAL E SOCIEDADE SERGIPANA

Nós, famílias que vivemos da atividade da preservação e cultivo da mangaba, na região da comunidade 17 de março, no bairro Santa Maria, vimos por meio desta Carta Aberta CLAMAR por apoio à nossa invisível luta que em resumo significa: Salvar nossas mangabeiras, nossa lagoa, nosso lençol freático, enfim, salvar a mãe terra e as nossas vidas. Nesse sentido, é preciso que de um modo geral, a sociedade sergipana saiba:

– Que esta área de cultivo da mangaba era composta, por volta de 1960 por mangabeiras, uma lagoa natural, um lençol freático, outros cultivos importantes como o cajueiro e ouricuri, além de uma nascente de rio;

– Que a luta dos/as mangabeiros/as sempre se deu dentro de área específica da União, preservadas por famílias tradicionais, que na atualidade restam e se mantêm na resistência apenas 11 famílias, que lá trabalham até os dias atuais, a mais de 60 anos, vivendo do extrativismo predominante da mangaba, de sua preservação e a do meio ambiente;

– Que nossas famílias, em razão da atividade que desenvolve, são consideradas famílias de comunidade tradicional e, portanto, patrimônio cultural e histórico da humanidade, reconhecida pela Assembleia Legislativa de Sergipe e protegida pela Convenção Internacional nº 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT;

– Que a única orientação que recebemos ao logo destes anos, nessas terras, por parte da União, foi nunca construir casas de alvenaria e, assim, seguimos com autorização da posse da terra para vivermos do extrativismo da mangaba e dos demais cultivos, mesmo sem termos a propriedade da terra;

– Que o trabalho atualmente de preservação desses cultivos, em especial, as mangabas estão comprometidas, com a destruição de grande parte de uma das onze (11) áreas protegidas pelos/as mangabeiros/as;

– Que desde que a União doou as terras que vivemos à Prefeitura Municipal de Aracaju, em 20 de maio de 2020, a preservação desta área e a nossa atividade que inclui também nossa memória, ficou ainda mais comprometida com o avanço de máquinas na área, além da inserção de agentes da guarda municipal na parte interna específica de preservação extrativista, área que as pessoas que entendem a dimensão da atividade de proteção, para adentrarem sempre solicitaram autorização às nossas famílias antes de fazê-lo;

– Que no sábado, 7 de agosto de 2020 nos deparamos com mais um crime ambiental de grande impacto, ao encontrarmos derrubadas mais de 60 árvores (entre cajueiros, ouricuris e mangabeiras), a derrubada de toda a cerca que protegia a área de posse dos/as extrativistas e, ainda a destruição do barraco de uma das famílias, levantada como instrumento importante de apoio para a preservação da área;

– Que as famílias de mangabeiras apoiam a luta pela moradia e a construção de casas populares, desde que esta área que neste momento chora as agressões que vem sofrendo por parte da PMA, seja preservada, tanto quanto nossas vidas, que também está sob ataque e ameaças.

– Que nós extrativistas protocolamos pedido de audiência com o Prefeito e tentamos ser ouvidos por meio de várias outras fontes sem sucesso.

– Que temos a consciência de que na correlação de forças, o poder estatal é infinitamente maior, mas vamos seguir na luta, na certeza de que lutamos do lado justo da história, daqueles que fazem de suas vidas, lutas coletivas em defesa da vida, da dignidade e da preservação da natureza. E sem perder a fé na força destes processos de resistência e ainda na esperança de apoio por mais uma vez clamamos,

PAREM: NÃO AVANCEM NA ÁREA DE EXTRATIVISMO DAS NOSSAS FAMÍLIAS, POIS AS MANGABEIRAS SÃO VIDAS QUE SALVAM OUTRAS VIDAS!

Aracaju, 18 de agosto de 2020.

Associação de Catadoras e Catadores de Mangaba Padre Luis Lenper

Apoiam A LUTA PARA NÃO AVANÇAR NAS ÁREAS DE EXTRATIVISMO DAS FAMÍLIAS MANGABEIRAS DO BAIRRO SANTA MARIA:

  1. Comitê Sergipano Popular pela Vida e todas as suas entidades filiadas
  2. ABRAPPS – Associação Brasileira de Pesquisadoras e Pesquisadores pela Justiça Social
  3. Afronte – Juventude sem Medo
  4. Advogados em Defesa da Saúde Pública
  5. Advogadas e Advogados pela Democracia
  6. ADUFS – Associação de Docentes da Universidade Federal de Sergipe
  7. Articulação Popular São Francisco Vivo
  8. Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde – ANEPS
  9. ASA – Articulação Semiárido Brasileiro
  10. Ásè Égbè Sergipano-Coletivo de Terreiros
  11. Associação Brasileira Trabalhista Profissionalizante de Artesanatos
  12. Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – Núcleo Sergipe
  13. Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária Sergipe
  14. Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba do Município de Barra dos Coqueiros (ACMBC)
  15. Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba de Indiaroba – ASCAMI
  16. Associação das Catadoras de Mangaba do Povoado Porteiras Município de Japaratuba – (ACMPJ)
  17. Associação Renascer dos Catadores de Mangaba do Povoado Baixa Grande – Pirambu
  18. Associação De Pescadores São José (Povoado Bolivar/Ilha das Flores)
  19. Associação de Pós-graduandos da UFS
  20. Associação Quilombola do Povoado Patioba
  21. Associação Sergipana de Hip Hop Aliados Pelo Verso – ALPV
  22. Associação Sergipana de Turismólogos (ASSERTUR)
  23. Cáritas Brasileira
  24. Cáritas Diocesana de Propriá
  25. Casa de Mar – Espaço de Arte, Cultura e Educação Omiró
  26. CEAGEO – Centro Acadêmico de Geografia Alexandrina Luz/UFS Itabaiana
  27. Central Única dos Trabalhadores – CUT
  28. Centro Dom José Brandão de Castro – CDJBC
  29. Coletivo Paulo Freire
  30. Coletivo de Assistentes Sociais Resistência e Luta
  31. CONAL – Conselho Nacional do Laicato na Arquidiocese de Aracaju
  32. Conselho Estadual de Saúde – CES
  33. Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional
  34. Coordenação Quilombola de Sergipe
  35. CRILIBER – Quilombo da Maloca de Sergipe
  36. Federação dos Trabalhadores da agricultura de Sergipe – FETASE
  37. Fórum de Entidades Negras
  38. Fórum de Mulheres de Sergipe
  39. Frente Popular de Luta pelos Pequenos Empreendimentos Solidários de Sergipe
  40. Grupo de Capoeira Mandingueiro
  41. Grupo de Estudos e Pesquisas Sobre Trabalho, Questão Social e Movimentos Sociais
  42. Instituto Amigos da Inclusão Social – IAIS
  43. Instituto Braços – Centro de Direitos Humanos de Sergipe
  44. Instituto de Estudos e Pesquisas Sócio Étnico Raciais Comunidade OJú Ifá
  45. Instituto Nacional de Inclusão Social – INIS
  46. Instituto Pangea: Meio Ambiente, Cultura e Educação (IPan)
  47. Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
  48. Movimento de Pequenos Agricultores – MPA
  49. Movimento de Catadoras de Mangaba – MCM
  50. Movimento dos/as Trabalhadores/as Sem Teto – MTST
  51. Movimento Humaniza Cidade
  52. Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB
  53. Movimento de Marisqueiras de Sergipe – MMS
  54. Movimento da Mulher Trabalhadora Rural de Sergipe – MMTR
  55. Movimento De Mulheres Camponesa – MMC
  56. Movimento Nacional de Direitos Humanos de Sergipe – MNDH Sergipe
  57. Movimento Popular de Saúde do Estado de Sergipe- MOPS
  58. Movimento Sem Terra – MST
  59. Movimento Tudo para Todos
  60. Observatório Popular de Violências e Pela Vida das Mulheres de Povos e Comunidades Tradicionais
  61. Organização Nacional de População em Situação de Rua
  62. Pastoral Carcerária
  63. Pastoral da Criança
  64. Rede Nacional Advogadas e Advogados Populares – RENAP (Articulação de Sergipe e Bahia)
  65. RENAFRO Saúde núcleo – Sergipe
  66. Sociedade de Apoio Sócio Ambientalista e Cultural – SASAC
  67. União Nacional de Indigenistas – UNAI

Por Débora Melo

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