Aracaju, 6 de julho de 2025
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Aracaju continuará perdendo dinheiro e jogando toneladas de lixo no meio ambiente

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Apesar de Aracaju estar na lista das cidades brasileiras que contam com coleta seletiva, o serviço pode ser considerado “simbólico” por especialistas pela falta de gestão e ambição do poder público. Segundo pesquisa realizada pelo Compromisso Empresarial de Reciclagem (CEMPRE, 2018), no Brasil, apenas 22% dos municípios possuem programas de coleta seletiva, correspondendo a apenas 1227 dos mais de 5 mil municípios brasileiros. Desses, a maior parte, 45% estão localizados na região Sudeste e a menor, 1%, na região Norte. As regiões Sul e Centro-Oeste contam com, respectivamente, 42% e 4%, enquanto o Nordeste conta com apenas 8% de iniciativas de coleta seletiva, representando 97 municípios.

Ainda segundo a pesquisa, somente 30% dos aracajuanos têm acesso, de fato, à coleta seletiva. “O serviço de coleta aqui em Aracaju é insuficiente e concentrado em algumas poucas regiões. Não existe nenhum horizonte para aumentar esse número nem melhorar o cenário. A falta de planejamento sobre os resíduos sólidos ou de projetos de educação ambiental capazes de atingir a maior parte da população só demonstram que a prefeitura e o governo têm falhado na questão do lixo e nós, como sociedade, pagamos caro pra enterrar matéria-prima que poderia estar gerando emprego e renda para a população” afirmou o arquiteto especialista em urbanismo, Breno Garibalde.

Além disso, segundo Sabetai Calderoni, presidente do Instituto Brasil Ambiente e autor do livro ‘Os Bilhões Perdidos no Lixo’, o Brasil joga fora por ano cerca de US$ 10 bilhões de dólares porque não recicla seu lixo urbano. “Esse número se refere apenas ao lixo domiciliar. A economia que se consegue com a reciclagem, hoje, no país, é da ordem de US$ 1,2 bilhão. E os bilhões perdidos pela não-reciclagem do lixo estão, literalmente, enterrados nos aterros”, afirmou Sabetai em entrevista ao jornal O Tempo.

No município de Aracaju, a coleta seletiva é feita de três maneiras: por meio das cooperativas Care e Coores, em Pontos de Entrega Voluntário (PEV´s) e por meio de caminhões da Empresa Municipal de Serviços de Urbanização (Emsurb); as cooperativas recebem materiais vindos de empresas, comércios, condomínios ou mesmo entregas voluntárias da população em geral. Já os cooperados são responsáveis por separar, agrupar e encaminhar todo resíduo com potencial de reaproveitamento para as indústrias beneficiadoras.

Segundo informações da Emsurb, o trabalho de educação ambiental é feito por duas equipes que cobrem toda a cidade e são responsáveis por ordenar e remanejar os locais onde ficam as caixas coletoras de material reciclável dos Pontos de Entrega Voluntário (PEV). As caixas são, de maneira estratégica, deixadas em determinados pontos da cidade e retiradas quando a comunidade daquele local não separa os resíduos e muitas vezes descarta material orgânico nelas, o que inviabiliza a coleta seletiva. Atualmente são pouco mais de 40 pontos espalhados pela cidade.

“Isso acontece porque a população não recebe orientações sobre a real necessidade dessas caixas e o destino do seu resíduo, é preciso gerar confiança entre as pessoas e o poder público. Há uma carência muito grande de informação de qualidade, campanhas de educação ambiental e de incentivo para a população fazer sua parte, e essas são funções também dos governos em melhor orientar o comportamento dos cidadãos. Não adianta colocar um ponto de coleta seletiva sem explicar a importância dele para a sociedade e depois retirar de lá. Mudar uma cultura exige planejamento e esforço de todos os lados”, explicou Breno Garibalde.

Por que fazer a separação dos resíduos?

Breno explica ainda que para combater o excesso de plástico e de lixo no planeta é preciso, antes de tudo, reduzir o consumo, reaproveitar materiais e reciclar produtos. Entre os impactos diretos para a cidade está a redução de custos com o serviço de coleta urbana que passa a destinar menos materiais aos aterros sanitários e a geração de emprego e renda extra para uma série de trabalhadores que atuam nessa cadeia. “O ciclo virtuoso da coleta seletiva é social, econômico e também ambiental. Hoje 90% do que é reciclado no Brasil é feito através das mãos dos catadores autônomos e das cooperativas, sem dúvida nenhuma uma boa gestão de resíduos passa pela valorização dessa categoria” .

Segundo o Movimento Nacional dos Catadores, em Sergipe, são contabilizadas 28 cooperativas com profissionais que saíram dos lixões e trabalham em galpões – apesar de nem todas as cooperativas estarem equipadas adequadamente com a aparelhagem necessária para garantir a comercialização com a indústria. Estima-se que existem cerca de 1200 catadores em Aracaju atualmente, sendo que apenas 400 são registrados em cooperativas.

De acordo com a Emsurb, são coletadas cerca de 10 toneladas de resíduos recicláveis mensalmente na capital. “Se apenas 30% dos Aracajuanos têm acesso a coleta seletiva e isso já representa cerca de 10 toneladas, imagine a quantidade de material reciclável dos outros 70% da população que vai direto para o aterro sanitário quando poderia estar sendo revertido em mais riqueza para a população e menos lixo no planeta. É importante lembrar que além dos materiais que poderiam ser reciclados seria muito estratégico a prefeitura também ter uma política de pátios públicos de compostagem e incentivar também a compostagem caseira”.

O problema do vidro

Os materiais urbanos mais fáceis de reciclar são o papelão, plástico, PET e a latinha de alumínio, mas existem materiais como o vidro que são recicláveis e não são reciclados por falta de estrutura adequada que o absorva e por falta de responsabilização das empresas que não fazem suas logísticas reversas. As garrafas longnecks e qualquer vidro de construção vão direto para o aterro.

“Sem um plano robusto de gestão de resíduos urbanos, parcerias público-privadas e incentivos para a logística reversa será cada vez mais difícil combater o problema do excesso de lixo nas cidades e das emissões de gases de efeito estufa, como o metano. Além disso, quem consegue separar e destinar seus materiais precisa lembrar que é fundamental fazer a limpeza antes do descarte, senão eles também vão parar no aterro. Se nada for feito, a coleta de Aracaju continuará sendo apenas simbólica e pouco eficiente”, concluiu Breno.

Fonte e foto assessoria

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