Aracaju, 1 de maio de 2024
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Regiane Alves celebra a volta ao ar de duas de suas personagens mais polêmicas, Clara e Dóris: ‘Nunca as julguei’. Tranquila nos últimos cinco meses, cuidando da casa

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Tranquila nos últimos cinco meses, cuidando da casa e acompanhando de perto o desenvolvimento dos filhos João Gabriel, de 6 anos, e Antônio, de 5, a atriz vai agitar o cotidiano dos telespectadores em dose dupla. Enquanto “Mulheres apaixonadas” (2003) está sendo reprisada no canal Viva há duas semanas, no horário das 23h, “Laços de família” (2000) entra no “Vale a pena ver de novo”, da Globo, nesta segunda-feira (dia 7) à tarde. Em ambas as novelas de Manoel Carlos ela interpretou personagens tinhosas, que marcaram para sempre sua carreira: Dóris, garota mimada que humilha os avós que moram com ela, e Clara, mulher insegura e chata, que perde o marido para uma garota de programa.

— E ainda teve a Alice, de “Páginas da vida” (2006), formando a trilogia polêmica com que Maneco me presenteou (nesta trama, o noivo a troca por uma amiga de sua ex). Acho que o autor teve uma confiança muito grande em mim ao me oferecer esses papéis. Em nenhum momento eu julguei minhas personagens, se era correto ou não o que elas aprontavam. Eu fazia o que ele propunha. Às vezes, o artista envelhece e fica: “Isso eu não faço, isso eu não falo”, tentando proteger sua própria imagem. Eu só queria interpretar da melhor maneira possível. A vontade de fazer bem feito era maior do que qualquer variação de ego — analisa a paulista, que completou 42 anos na última segunda-feira e estreou na Globo aos 21, na minissérie “A muralha”.

No mesmo ano 2000, Regiane emendou “Laços de família”, sua primeira novela na emissora. De cara, no horário nobre.

— Para mim, era um universo muito novo: novela das oito, elenco enorme, expectativa lá em cima. “Que horas eu vou entrar?”, “Que horas eu vou dar o texto?”… Eram várias questões para eu entender. Além disso, havia o fato de a minha personagem ser a chata. Clara queria ser aceita pela família do marido, embora o achasse um fracassado. Eu tinha que ser o contraponto da Capitu (Govanna Antonelli), que as pessoas adoravam. Era difícil entender que eu estava no caminho certo, se ninguém gostava da Clara. Eu me sentia muito sozinha ali naquela estrutura toda. Mas contei com o apoio do Maneco e do Ricardo Waddington (diretor), que foi quem me levou para a Globo. Eu era pupila dele, mas é aquilo: você pode ser apadrinhado por quem for; se não souber fazer, não fica. Ao mesmo tempo, se não tiver quem acredite no seu trabalho, o ator não acontece — afirma, lembrando que a primeira reação que sentiu do público foi a antipatia: — Nas ruas, as pessoas viravam a cara pra mim, acreditavam que eu era a própria personagem. E eu era um rosto novo na TV, então confundiam mesmo.

O ápice de Clara na história foi o barraco que ela armou no casamento da cunhada Camila (Carolina Dieckmann) com Edu (Reynaldo Gianecchini): ao microfone, anunciou para todos os convidados que Capitu, por quem seu marido Fred (Luigi Baricelli) se apaixonara, levava vida dupla, trabalhando como garota de programa.

— Fazer essa cena na frente de grande parte do elenco, com as atenções voltadas pra mim, foi superdifícil. E teve muita repercussão! Lembro que, logo após o capítulo, entrou o “Casseta & Planeta, urgente!”, com Maria Paula fazendo uma sátira (“Esculachos de família”). O humorístico equivalia aos memes atuais.

Discretíssima em sua vida pessoal, Regiane garante que seria incapaz de protagonizar situação parecida.

— Barraqueira, eu? Jamais (risos)! Sou aquela que condena quando alguém se expõe demais ou faz um escândalo. Gosto de passar despercebida nos lugares. Aconteça o que acontecer, deixo para brigar dentro de casa — conta, completando: — Uma pergunta que me faço sempre é: “Por que será que os autores me dão essas personagens que falam tudo na cara, fazem e acontecem, se sou tão o oposto disso?”. É bom porque aproveito para extravasar em cena tudo o que não libero na vida.

Três anos depois, o castigo veio com a Dóris de “Mulheres apaixonadas”. Exausto de presenciar a filha maltratando seus pais idosos, Carlão (Marcos Caruso) lhe deu um corretivo daqueles! E o Brasil lavou a alma com o feito, tão aguardado.

— Gravamos a cena com um cinto cenográfico, numa quinta-feira, para ir ao ar na segunda. Aí, no domingo à noite, Ricardo Waddington ligou para mim e para Caruso dizendo que a gente ia ter que regravar com um cinto de verdade, porque não tinha ficado convincente. Chegamos tensos na Globo, na segunda-feira, e ensaiamos todos os movimentos. O pessoal da produção e da maquiagem entrou no set para acompanhar tudo, tamanha a expectativa. Na hora do “Gravando!”, uma cintada saiu da mira, pegou no meu braço e ficou aquele vermelhão. Eu saí chorando de dor, direto para o camarim. Vieram Caruso, Ricardo, todo mundo falar comigo, preocupados — recorda-se a atriz, contando que também levou uma “jornalada” de uma senhora, que a reconheceu dentro de um elevador: — Ela bateu no meu braço, mandando eu ser mais educada com meus avós (risos).

A cintada que levou de Caruso, Regiane revela, não foi a primeira de sua vida:

— Quando criança, eu não era fácil; e minha mãe, super-rígida… Sou de uma geração que ainda apanhava. Hoje em dia, não se bate mais em filho. Com os meus, rolou, no máximo, uma sacudida com uma mão só. Quando me irritam, eu coloco de castigo, tiro alguma coisa que eles gostam.

Na época em que a novela foi ao ar pela primeira vez, os maus-tratos fictícios a Leopoldo (Oswaldo Louzada) e Flora (Carmem Silva) causaram tamanha comoção nacional que o Estatuto do Idoso foi aprovado mais rapidamente pelo Senado Federal.

— Eu fui a Brasília com Daniel Zettel, que interpretava o meu irmão na trama, e tivemos um encontro com (senador) Sarney para reivindicar. É ótimo ver a parte social do nosso trabalho acontecer, para além do entretenimento — orgulha-se a atriz: — Duro era falar aquelas barbaridades para Carmem e Louzadinha. Mas eles entendiam a importância daquilo. Ao final das cenas pesadas, a gente se dava um abraço coletivo para recobrar as boas energias.

Fora dos estúdios de gravação, é na ioga, na meditação e na terapia que Regiane recupera a sanidade, há décadas.

— Acho que todo ator tem que ter uma “casa”, seja ela espiritual ou física. Cada um precisa achar o seu centro de equilíbrio, porque a gente lida com muitas pessoas e emoções diferentes — explica ela, que não deixou as práticas de lado durante a pandemia da Covid-19.

Em breve, Regiane inverterá os papéis e assumirá o posto da psicóloga. É essa a formação de Izabella, sua próxima personagem, em “Malhação — Transformação”.

— Já conheci o ator que vai fazer o meu filho na trama. O nome dele é João Gabriel, igual ao do meu mais velho. E foi muito bonitinho, na ocasião, porque ele me disse assim: “Olha, eu não te conheço, mas minha mãe falou que você é muito boa atriz e que eu posso confiar em você (gargalhadas)”. Ela deve ter me acompanhado como Clara e Dóris. Já se passaram vinte anos, né?! Essa geração jovem, que curte “Malhação”, não conhece o meu trabalho. Vai ser uma troca muito produtiva — empolga-se a atriz, que fará par com Marcello Novaes na história: — O curioso é que, na vida real, somos sócios na pizzaria Ella. Aí, na ficção, seremos marido e mulher. Quero só ver como vai ficar essa partilha de bens (risos).

E se fosse dada à terapeuta Iza a responsabilidade de cuidar das mentes de Clara e Dóris, quais conselhos ela lhes daria?

— A Clara, ela diria para cultivar o amor-próprio e não jogar suas frustrações no colo do marido. Somos responsáveis pela nossa própria felicidade, nunca o outro. E a Dóris, que ela precisa trabalhar para dar valor às coisas. O que falta a essa garota é uma direção na vida. Que ela faça o que estiver a fim, mas que seja com o seu próprio dinheiro, e não roubando os avós, ora!

Fonte/Foto: globo.com

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