Aracaju, 20 de junho de 2025
Search

Período junino exige cuidado com relação aos riscos de queimaduras

slide_c799f1fe105907ab2323a43fcde05c78

Comemorar os festejos juninos é uma tradição que tem maior potencial, sobretudo, no Nordeste, mas sem cuidados essa celebração pode terminar em tragédia. Fogos de artifício, fogueiras e líquidos inflamáveis são os protagonistas de dezenas de acidentes que, todos os anos, chegam à Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital de Urgências de Sergipe (Huse). Com a intensificação dos festejos juninos e a proximidade das celebrações de São João e São Pedro, o hospital reforça o alerta sobre o risco que pode deixar marcas para a vida inteira.

A Unidade de Queimados do Huse é a única especializada do estado de Sergipe. Destinada, exclusivamente, a pacientes em estado grave, segue critérios rígidos para internação, como queimaduras de terceiro grau, áreas corporais extensas ou lesões em regiões sensíveis como rosto, mãos e genitais.

Coordenada pelo cirurgião plástico Bruno Cintra, a unidade funciona com equipe multidisciplinar composta por cerca de cem profissionais, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e técnicos. O atendimento é voltado exclusivamente para casos graves, conforme critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. “A gente atende apenas os casos graves. O paciente passa por triagem no pronto-socorro, é avaliado pelo cirurgião plástico e, se necessário, encaminhado para internação. Queimaduras de terceiro grau, que não cicatrizam sozinhas, ou que atingem áreas nobres do corpo, como mãos, rosto, pés e genitais, são os principais motivos de internação”, explica Bruno.

A média de internação na unidade é de 11 dias, um tempo considerado curto diante da gravidade das lesões e da média nacional, que gira em torno de 21 dias. “Estamos conseguindo uma recuperação mais rápida, mas isso não elimina os impactos físicos, emocionais e sociais para os pacientes e suas famílias. Por isso, o ideal é prevenir”, reforça.

De acordo com dados do Huse, no ano passado, na primeira quinzena de junho, foram realizados 12 atendimentos por queimadura no pronto-socorro, e cinco por fogos. Já em 2025, no mesmo período, já foram 16 atendimentos de queimadura em geral, sete  por fogos de artifício. Na UTQ, no ano de 2024, também nos primeiros 15 dias de junho, foram realizadas 11 internações, sendo quatro por fogos de artifício. Em 2025, no mesmo período, já foram seis admissões, duas delas por fogos de artifício.

Entre os pacientes internados na Unidade de Queimados está Marcos Antônio Wellandau Neto, de 28 anos, vítima de um busca-pé durante tradicional festa em Estância. Mesmo sem estar participando diretamente da guerra de busca-pé, foi atingido no rosto ao sair da casa de um amigo. “Faltou muito pouco para eu ficar cego. Vi tudo preto na hora. Só penso no meu filho pequeno, que está me esperando em casa. É muito arrependimento. A gente precisa ter mais cuidado. É uma brincadeira que pode custar muito caro”, desabafa Marcos.

Uso inadequado

Segundo o médico, o mês de junho concentra um aumento expressivo de acidentes, muitos deles envolvendo crianças. A combinação entre fogos de artifício, fogueiras, uso de álcool e falta de supervisão tem sido fatal em alguns casos. “Só no dia 17 de junho já tivemos dois pacientes internados: um ferido com fogos de artifício conhecido como busca-pé, e outro por bomba. Isso sem contar as queimaduras com álcool líquido, que ainda é usado de forma irregular para acender fogueiras e churrasqueiras. Um dos pacientes chegou com 35% do corpo queimado”, relata o coordenador.

A reincidência do uso de álcool 70, liberado durante a pandemia, mas atualmente proibido, é um agravante. Além disso, há relatos de pessoas que armazenam combustível em garrafas PET, prática proibida e extremamente perigosa.

Primeiros socorros

Diante de uma queimadura, o médico orienta que a primeira atitude deve ser apagar o fogo, resfriar a área com água corrente em temperatura ambiente, cobrir com um pano limpo e buscar atendimento em uma unidade de saúde. Ele ainda alerta que não se deve aplicar manteiga, pasta de dente, borra de café ou qualquer produto caseiro na área afetada. “Essas práticas populares só pioram o quadro e podem provocar infecções. E nada de procurar ajuda em farmácias. Queimadura é caso médico e deve ser avaliada por profissionais capacitados”, frisa o cirurgião.

O médico faz alerta maior em relação às crianças. “Quem dá fogos para uma criança está assumindo um risco enorme. O ideal é não dar. Mas, se der, que esteja junto, use luvas, calça jeans, esteja sóbrio. Um segundo de descuido pode mudar a vida da criança para sempre”, pontua.

Prevenção

O São João é festa, é cultura, é memória, mas é, também, um momento de atenção. Por isso, a recomendação é celebrar com responsabilidade e cuidado. “Nosso trabalho aqui é salvar, mas prevenir é sempre melhor. As pessoas precisam entender que fogo não é brinquedo. E fogos de artifício muito menos. Uma queimadura grave pode deixar sequelas para o resto da vida. O que a gente mais quer é ver as pessoas voltando para casa com saúde. Mas, para isso, precisamos que todos façam sua parte. Porque queimadura grave não é só dor física. É trauma, é sequela, é vida interrompida”, conclui Bruno.

Foto: Thiago Santos

 

Leia também