Aracaju, 27 de outubro de 2025
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A Rua Domingos Gordo (II), escreve o escritor e pesquisador Acrísio Gonçalves

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Por Acrísio Gonçalves de Oliveira*

…Não temos conhecimento do ano da morte de Domingos Gordo, soldado da Guerra do Paraguai, se ocorreu em fins de 1860 ou nos inícios de 1870. Também não sabemos se foi seu ferimento no conflito que o levou à morte. Certamente, por conta de ter sido um Voluntário da Pátria é que Estância o homenageou (o que era praxe), dando seu nome à rua. Há indícios de que já tivesse morrido em 1872, pois o jornal local “O Mosaico”, surgido nos últimos meses do referido ano, estava instalado na “Rua Domingos Gordo”.

O segundo Domingos Gordo a que nos referimos anteriormente era jornalista, poeta, filólogo e dramaturgo. Acreditamos que tivesse algum grau de parentesco com o primeiro, podendo até mesmo ser sobrinho. É de admirar não ser ele um dos patronos da Academia Sergipana de Letras. O historiador Armindo Guaraná (1848-1924) diz que Domingos Gordo nasceu no ano 1882, mas é um equívoco. No inventário da morte de seu pai, Pedro Gordo da Cruz, disse sua mãe, Inez Cardoso da Cruz, em 1899, que ele tinha doze anos, o que nos faz concluir que tenha nascido em 1887, e não em 1882. Era sobrinho do também estanciano o renomado escritor, jornalista e professor Brício Cardoso (1844-1924).

Não se sabe muito de sua vida acadêmica. Segundo Armindo Guaraná, em Aracaju ele estudou humanidades e depois “foi sócio fundador do Clube Literário ‘Tobias Barreto’” e do ‘Clube Literário e Recreativo Comercial”, de Estância.

Em 1904, publicou, conjuntamente com seu irmão, Joaquim Maurício Cardoso, o livro “Alvoradas”, versando sobre contos e poemas. Sempre atuando incessantemente na imprensa, escreveu no jornal “Descanso” e depois no jornal “A Razão”, ambos da sua terra natal. No ano 1905, fundou em Aracaju o jornal “O Crisântemo”. Também escreveu nos diversos jornais dali, a exemplo do “Estado de Sergipe”, do “Correio de Aracaju” e do “A Primavera”. Admirador do poeta português Guerra Junqueiro (1850-1923), escreveu na A Razão o artigo “Em prol do Junqueiro”, se contrapondo ao que disse o também poeta e jornalista carioca Carlos de Laet, num escrito intitulado “Guerra ao Junqueiro”, quando censurou a possível vinda daquele poeta libertário ao Brasil.

Escreveu ainda monólogo, crônica, comédia e novela.

Tinha uma vida social ativa e foi adjunto de orador da Loja Cotinguiba, da capital, hoje ainda em atividade. Ajudou financeiramente e fez campanha em defesa do Asilo Santo Antônio, da sua cidade. Demonstrava interesse em práticas esportivas, pois em 1910, foi reeleito presidente do Clube Futebol Sergipano, também na capital. No ano seguinte, 1911, já era um empregado dos Correios, quando nesse período foi nomeado telegrafista de quarta classe.

O nosso poeta passou a viver fora do estado, indo residir no Espírito Santo, onde atuava como telegrafista, mas sem nunca se afastar da imprensa. Em 1932, assume nesse  estado a direção dos telégrafos. Quando morava em Niterói (RJ), no ano 1935 lançou junto de colegas jornalistas o “Brasil Telegráphico”, uma revista, tida como moderna, que era editada no Rio de Janeiro, capital do país. Para o biênio 1936-1937, foi eleito secretário do Clube dos Telegrafistas do Brasil. Tudo leva a crer que se aposentou dos telégrafos nos anos 1940.

Quando faleceu, a imprensa carioca lamentou, dizendo, dentre outras coisas, que ele era “dotado de qualidades de inteligência e coração”. O jornalista sergipano Zózimo Lima (1889-1974), na mesma época se referiu à morte dele, chegando a dizer que “Domingos amava Sergipe do passado”. Que chegou a ter dias áureos em seu Estado e ali foi admirado.

O dramaturgo estanciano morreu na cidade de Niterói em 1951 e “com grande acompanhamento”, foi sepultado no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro.

Quanto à rua, a estreita artéria, ainda nos anos 1970 se instalaria o histórico jornal “A Estância”, para ali, infelizmente, finalizar suas atividades.

Domingos Gordo foi mais uma das importantes mentes que a Cidade Jardim brotou. Todavia, como tantos outros renomados da sua literatura, ele é mais um que em sua terra natal é ignorado. A Rua Domingos Gordo em questão, abrigo de tendas jornalísticas estancianas, é uma homenagem a um homem da guerra. Em que pese as circunstâncias em que nela entrou. Em que pese a forma como dela saiu. Não é uma homenagem a um jornalista. Nem muito menos a um  poeta!

*Acrísio Gonçalves de Oliveira  é escritor e pesquisador, professor do Estado e da Rede Pública de Estância

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