“Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena,
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.”
Ferreira Gullar (1930-2016)
Era pleno inverno no agreste pernambucano, na cidade de Bonito, quando o casal Herotides José dos Santos (in memoriam) e Irinete Barbosa dos Santos (in memoriam) celebrou, no dia 31 de agosto de 1965, a chegada de Erivonaldo Barbosa dos Santos, o quinto e último filho.
Seu pai era servidor público do DETRAN de Pernambuco, um homem devotado à família, que enfrentou com coragem e disposição várias pedras ao longo do caminho. Sua mãe, professora de formação e de ofício, tornou-se uma referência para a educação da cidade.
Alfabetizado em casa e na Escolinha Santa Rosa de Lima, Erivonaldo estudou o primário (ensino fundamental I) na Escola Artur Tavares de Melo, o ginásio (ensino fundamental II) na Escola Presidente Médici e o curso técnico em Contabilidade no Colégio Cenecista Paulo Viana de Queiroz.
Ao lado dos irmãos Evandro José dos Santos, Evertone Barbosa dos Santos, Rosa de Lima Barbosa Nascimento e Rosiclere Barbosa Maldonado dos Santos, teve uma infância saudável e divertida: jogou futebol, banhou-se em cachoeiras e rios e viveu as primeiras paqueras.
Naquele tempo, quem “dava as cartas” era a famigerada Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Logo o jovem começou a compreender e discordar do governo autoritário de plantão, canalizando sua rebeldia para a defesa, ainda ingênua, da democracia e da liberdade.
Seu coração advogava pela agenda democrática do MDB de Marcos Freire (1931-1987), adquirindo convicções políticas. No entanto, era necessário cautela e discrição, para evitar constrangimentos e embaraços na vida pessoal.
Com 19 anos, ingressou na fábrica de Sucos Maguary, onde trabalhou por cerca de três anos, até que a empresa encerrou suas atividades no município. Os trabalhadores foram demitidos ou transferidos para outra unidade, em Aracati (CE).
Demitido da Maguary, foi convidado pelo gerente Fernando Bezerra a vir para Sergipe. Chegou a Estância no dia 4 de maio de 1987 (data do aniversário da cidade) para trabalhar na Indústria de Sucos Frutos Tropicais (onde atualmente funciona a Maratá).
O chão da fábrica o fez assumir uma postura contundente em defesa da classe trabalhadora estanciana, engajando-se na construção do SINDISA, em 12 de fevereiro de 1989. Era o período do “novo sindicalismo” — independente, democrático e combativo — liderado nacionalmente por Luiz Inácio Lula da Silva.
Nessa época, participou também da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em Estância, tendo sido o primeiro candidato a vice-prefeito do partido no município, em chapa encabeçada pelo professor e sindicalista Paulo César de Oliveira, em 1992.
Trabalhou na Coimbra Frutesp (sucessora da Frutos Tropicais), entre 1996 e 1998. Foi servidor da Prefeitura Municipal de Estância de 1999 a 2008 e, desde então, atua no SINTESE (Sindicato dos Professores de Sergipe).
Em Estância fez amigos, constituiu família de acordo com sua fé católica e casou-se, há cerca de 32 anos, com a educadora baiana Urandy da Rocha Santos. Dessa união nasceram Clara Cecília da Rocha Barbosa Santos, Maria Yasmin da Rocha Barbosa Santos e Kaio José da Rocha Barbosa Santos. Hoje, com a chegada da neta Jade Barbosa Santos, a descendência está assegurada.
Nesses tempos difíceis, ao contemplar da janela da história a biografia do militante humanista Erivonaldo Barbosa dos Santos, é “imprescindível” — como diria Bertolt Brecht (1898-1956) — registrar sua contribuição cotidiana para a construção da cidadania, da democracia e da liberdade.
Um brinde aos seus 60 anos de vida honrada e decente!
José Domingos Machado Soares (Dominguinhos)
Professor e radialista