A Secretaria Municipal da Educação (Semed) promoveu nesta sexta-feira, 26, mais uma etapa da formação que aborda o uso de livros afrocentrados e o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). A capacitação integra o Projeto Ilé Iwé (termo iorubá que significa escola), idealizado pela Prefeitura de Aracaju, em parceria com o Ministério Público de Sergipe (MPSE). O objetivo é sensibilizar docentes da rede pública para fortalecer práticas pedagógicas de enfrentamento ao racismo.
O Ilé Iwé fomenta a aplicabilidade das leis nº 10.639/2003, nº 11.645/2008 e nº 12.796/2013, que tornaram obrigatório o ensino de História e Cultura Africana, Afro-Brasileira, Quilombola e Indígena nas escolas brasileiras, além da inclusão da diversidade como princípio educativo. A formação reuniu professores, coordenadores pedagógicos, técnicos e assessores da rede pública estadual de Sergipe, Aracaju e de outros quatro municípios: Nossa Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Laranjeiras. Representantes do Movimento Negro Unificado (MNU) também assistiram ao evento.
Os trabalhos foram conduzidos pela Coordenadoria de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped) da Semed. Foi realizada uma roda de conversa entre os professores e, em seguida, aconteceu uma palestra ministrada por Wheber Mendes, mestre e doutorando em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), que realiza pesquisas nas áreas de Raça, Educação e Subjetividade.
De acordo com a técnica referência dos projetos de Letramento Racial da Coped, Valdinete Paes, como o PNLD dá abertura para que os professores escolham os materiais que vão ser trabalhados em sala de aula, o papel da formação atual é o de aguçar o olhar crítico para a diferença entre a visão eurocêntrica e afrocêntrica. Para ela, os professores precisam estar preparados para reconhecer quando os livros valorizam mais o modelo europeu em detrimento às demais tradições.
“Quando não existe esse senso crítico, a cultura europeia acaba sendo mais valorizada do que a cultura de todas as outras tradições. E eu não estou falando somente da questão africana, mas também da questão indígena, da cultura cigana… de todas em geral. Não pode haver a supervalorização de uma cultura, é necessário conhecer todas as outras tradições”, destacou Valdinete.
Em sua fala, Wheber Mendes aprofundou as reflexões a respeito dos seus estudos em torno do afroletramento e da visão afrocêntrica dos livros didáticos. “Apresentei os resultados das minhas pesquisas realizadas durante o meu processo de mestrado e agora no doutorado, junto com a minha orientadora Acácia Anjos, em que a gente chegou a alguns processos que constituem principalmente a vivência cotidiana de pessoas negras, como o epistemicídio, a violência, o trauma racial, a generificação, que são processos que acontecem diariamente e que produzem subjetividades negras aqui no Brasil”, explicou.
Segundo o professor da rede estadual e coordenador pedagógico do MNU, Roberto Amorim, as ações do projeto são fundamentais para difundir a lei N°10.639 e fazê-la valer dentro das escolas e das salas de aula. “Essa é uma iniciativa em que a educação procura ser democrática, inclusiva e trazer o negro e a negra como sujeito do processo de construção da Educação”, avaliou o coordenador.
Foto: Mylena Santos