Aracaju, 6 de maio de 2024
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Valmir de Francisquinho e a justiça tardia, escreve delegado Paulo Márcio

ARTIGO

*Paulo Márcio Ramos Cruz

Nenhum sergipano minimamente antenado com as questões políticas ficou indiferente à decisão do TSE, que restituiu, na manhã desta quinta-feira, 13, os direitos políticos de Valmir de Francisquinho.

Os embargos infringentes, acolhidos por 6 votos a 1, eram a última bala na agulha da assessoria jurídica do ex-prefeito de Itabaiana e seu filho Talyson, condenados pelo TRE por suposto abuso de poder político e econômico na eleição de 2018, em que Talyson foi eleito para uma cadeira na Assembleia Legislativa.

Todavia, por ter ocorrido após a realização do primeiro turno, a decisão de hoje não tem o condão de alterar o curso da eleição, vale dizer, não confere a Valmir o direito ao cômputo dos votos nele depositados no último dia 02, que permanecem nulos por efeito da decisão do TSE que indeferiu o registro de sua candidatura às vésperas do pleito.

Trocando em miúdos, o segundo turno para governador será disputado entre os candidatos Rogério Carvalho (PT) e Fábio Mitidieri (PSD), primeiro e segundo colocados, respectivamente, no primeiro turno.

Rui Barbosa dizia que “justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta.” Nenhuma frase pode definir com tanta precisão e clareza o sentimento que se apossa de Valmir neste momento. Sem embargo – e com perdão pelo trocadilho infame -, seus direitos políticos podem ter sido restituídos, mas seu sonho de conquistar legítima e democraticamente o governo do Estado foi roubado de maneira escandalosa. E contra essa injustiça não há o que se fazer.

Fábio Mitidieri, que só passou para o segundo turno graças à desastrosa intervenção do TSE no processo eleitoral, tentou, sem sucesso, colocar no colo de Rogério Carvalho a responsabilidade pelas lambanças da corte, ainda que as suas digitais, segundo o próprio Valmir, estejam presentes nos autos processuais.

“Bastou Valmir se aliar a Rogério para voltar a ser elegível. Isso só comprova o que eu vinha falando sobre o acordão existente entre eles. Lamento pelos sergipanos que acreditaram em Valmir sem saber da estratégia rasteira já traçada”, escreveu o candidato de Belivaldo em suas redes sociais.

As acusações de Fábio contra Valmir e Rogério, além de despropositadas, são um atentado à inteligência do eleitor, que conhece bem os atores da cena política sergipana. Mesmo assim, nunca é demais recorrer à sagacidade de Clarice Lispector para lembrar a alguns nefelibatas que “o óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar.”

*Paulo Márcio Ramos Cruz é Delegado de Polícia e foi candidato a prefeito de Aracaju em 2020

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