Aracaju, 30 de abril de 2024
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Desafios e memórias da CUT no seu aniversário de 37 anos

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Presidentes da central discutem momento atual e falam um pouco da longa jornada de luta construída pela CUT ao longo de sua história

Por: Iracema Corso

Para realizar o sonho da democracia, da igualdade de direitos e fortalecer a união dos trabalhadores do Brasil na luta de classes, nasce ousada, no fim da Ditadura Militar, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). No dia 28 de agosto de 1983, o CONCLAT – Congresso Nacional da Classe Trabalhadora fez nascer a maior central sindical da América Latina a partir de um ato ousado de desobediência civil, pois a legislação vigente proibia a existência de centrais sindicais.

Em Sergipe, o líder camponês Dionízio Cruz, os operários Rômulo Rodrigues e Edmilson Araújo fundaram a CUT Sergipe num contexto de luta em defesa dos trabalhadores da Nitrofértil/Fafen, ascensão das lutas dos servidores públicos, da organização do Pólo Sindical Rural do Baixo São Francisco, do surgimento de novos sindicatos e da proliferação das oposições sindicais.

Desde a fundação da CUT/SE até os dias atuais, a central sindical foi presidida por Rômulo Rodrigues, Edmilson Araújo, Paulo Roberto Aragão, Francisco Gualberto, Antônio Góis, Rosângela Santana, Ana Lúcia, Rubens Marques e atualmente é presidida por Roberto Silva.

O MAIOR DESAFIO

Rômulo Rodrigues, ex-presidente e co-fundador da CUT Sergipe, avalia que passados 37 anos de sua criação, a CUT enfrenta hoje um desafio maior. “Tínhamos, na fundação da CUT, o somatório de muitas experiências e vivência da luta de classes no Brasil e pegamos uma ditadura militar cambaleante, já entregando os pontos. A CUT surgiu fazendo uma ruptura muito forte, quebrando todos os modelos de sindicalismo pelego, de colaboração de classes. Esta ruptura unificou no Brasil inteiro todo o movimento combativo consequente diante de um momento extremamente rico da luta de classes que se tornava muito nítida no Brasil”, resgatou.

Segundo Rômulo, hoje há: Bolsonaro, a reorganização do patronato, um novo paradigma da luta de classes para ser estudado e a necessidade urgente de ampliar a pauta.

“Bolsonarismo é o espelho, é o porta-estandarte do fascismo que tem que ser encarado no século XXI de forma diferente e muito mais preocupante. Ele está se implementando pela via institucional das eleições. E hoje a luta de classes se dá da classe trabalhadora contra o fascismo que ganha espaço no polo institucional, dentro de igrejas pentecostais, e entra no seio das famílias, nas casas, como nunca entraram. É um governo colocado pelos fascistas para destruir todo o acúmulo de luta da classe trabalhadora no Brasil para fortalecer a democracia. A CUT vem sendo atacada, inclusive na sua manutenção econômica e financeira”, alertou Rômulo.

Co-fundador da CUT/SE, Rômulo ainda citou a pulverização do movimento sindical em várias centrais sindicais, o modo de produção capitalista sem chão da fábrica, controlado pela tecnologia, o isolamento do trabalhador e todas as iniciativas para tornar o sindicato ‘inútil’ e ‘desnecessário’ para o trabalhador. “São muitos desafios, mas isso é passageiro e eu confio nas direções da CUT . Vamos ter que achar essa forma de resistir e vencer”, garantiu Rômulo.

UMA NOVA LINGUAGEM

A ex-deputada Ana Lúcia que já presidiu interinamente a CUT Sergipe deixou um abraço nas redes sociais e afirmou que o dia é de celebração pelos 37 anos de muita luta e de uma longa caminhada.

“A CUT tem o desafio de enfrentar um governo nazi-fascista que desmonta todos os direitos da classe trabalhadora; que agride os movimentos sociais e reforça todo tipo de preconceito. O desafio é entendermos que nesta nova caminhada não podemos perder os nossos princípios e os nossos projetos estratégicos de transformação social. Precisamos entender a subjetividade humana e utilizar uma nova linguagem para que de fato exista uma interação entre os trabalhadores: aqueles que estão no trabalho formal, aqueles que estão no trabalho informal e os desvalidos que estão desempregados e já perderam a esperança. Cabe à CUT aceitar este desafio e redefinir o seu caminho e os seus novos rumos”, apontou Ana Lúcia.

Em sintonia com Ana Lúcia, o co-fundador e ex-presidente da CUT Sergipe, Edmilson Araújo registrou em vídeo, publicado nas redes sociais da CUT, a importante data do aniversário de 37 anos de fundação da Central Única dos Trabalhadores. Ele também destacou o papel da comunicação, da interação entre trabalhadores e da necessidade de disputar a narrativa e construir a hegemonia (Acesse o Instagram @cutsergipe confira os vídeos).

NOVAS PAUTAS

A ex-presidenta interina da CUT/SE, Rosângela Santana, destacou que as transformações no mundo do trabalho impõem mudanças no formato de organização da central.

“São muitos os desafios, vou citar três: 1 – flexibilizar sua forma de organização para contemplar este novo trabalhador que não está ligado em estruturas como os sindicatos estavam no século passado. 2 – Ampliar a pauta: neste momento em que o fascismo avança, está em jogo a nossa seguridade social. Com o aprofundamento de pobreza no país, precisamos lutar contra a fome, contra a pobreza extrema, pela defesa dos povos tradicionais, a CUT precisa atuar nesta área com muito mais intensidade. 3- criar novas estruturas para a formação de trabalhadores, e não necessariamente estes que estão filiados a um sindicato”, ressaltou Rosângela Santana.

MUITA LUTA e MUITAS CONQUISTAS

Apesar dos muitos desafios, não foram poucas as conquistas da CUT ao longo dos 37 anos de existência. O atual secretário de Formação e ex-presidente da CUT/SE, Rubens Marques, o professor Dudu – que presidiu a CUT nos últimos 10 anos – fez um resgate histórico recente, no momento em que deixou a presidência da central (Acesse o link e confira na íntegra o texto A CUT FOI UMA GRANDE ESCOLA PARA MIM do professor Dudu https://se.cut.org.br/artigos/a-cut-foi-uma-grande-escola-para-mim-9005).

“Faço questão de cravar alguns poucos registros, como o da fundação da Federação dos Servidores Municipais de Sergipe (FETAM), que só foi possível porque o presidente da CUT Antônio Góis priorizou a empreitada e no início eu e Ivônia e viajamos pelo estado para organizar os servidores em sindicatos, num segundo momento eu, Ivônia e Zé Carlos, no terceiro momento eu, Ivônia e Josuel e até o fim eu e Ivônia. Fundamos mais de 50 entidades fazendo formação teórica e também prática, e a CUT introduzindo-os no calendário de lutas de todas as categorias em Aracaju, mas também nos próprios municípios, porque somente os manuais não formam os militantes para a luta de classes”, registrou Dudu.

O sucessor de Dudu, atual presidente da CUT/SE, professor Roberto Silva (Vice-presidente do SINTESE), tem uma história de militância sindical construída, toda ela, dentro da militância CUTista. Diante de todos os desafios postos por ex-presidentes da CUT/SE, no dia de aniversário da central, ele destacou a importância da unidade na luta.

“Nesses 37 anos da CUT, venho reforçar a necessidade de unidade da classe no sentido de combater nossos inimigos. Os trabalhadores estão sob ataque e a Central Única dos Trabalhadores tem um papel crucial que é defender a classe em todos os espaços, em todos os momentos, em todas as situações. Parabéns à Central Única dos Trabalhadores e a todos aqueles que lutam pelo bom e pelo justo sempre”, afirmou Roberto Silva.

 

 

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