Aracaju, 9 de julho de 2025
Search

Esta cidade acabou-se, escreve o advogado e feirante Thieryson Santos

ARTIGO

Na obra intitulada a Boca do Inferno escrita por Ana Miranda chamou-me a atenção o pensamento de Gregório de Matos ao observar a cidade pela janela do sobrado o qual diz: “Não é mais a Bahia. Antigamente havia muito respeito”. E em outro trecho pensou o poeta e conclui, “”Ah, Gregório, porque em culis mundi te mestestes?””.

Uma situação preocupante, bastante atual, e não menos importante em tempos de pandemia é a questão da educação dos alunos da escola da rede pública na cidade de Aracaju. É certo que o covid-19 atingiu em cheio a capital e por medidas sanitárias impostas na tentativa de evitar aglomerações e controlar a disseminação da doença nas escolas, optou-se através do decreto municipal que as mesmas permaneceriam fechadas. Lógico que as aulas presenciais ainda são uma incerteza. Ninguém sabe ao certo onde vamos parar caso inexista uma vacina eficaz para a cura da peste.

Mas o fato que incomoda e que precisa ser discutida na cidade com urgência é como será tratada a educação pública pelo poder público municipal quando vemos, por exemplo, as escolas de rede particular movimentando todo tipo de estratégias para que seus alunos não tenham déficit educativo, baixem o nível aprendizagem e também não percam o ano letivo.

As dificuldades dos alunos da rede municipal são inúmeras neste período a começar pela falta de livros. Agora com as escolas fechadas, não temos perspectiva alguma sobre retorno das aulas e muito menos do cumprimento de conteúdos programáticos. O que está a perguntar é qual a estratégia o município vai adotar ou não para que esses alunos não percam o ano letivo e muito menos não sofra prejuízos quando inexistente um plano de retomada?.

Percebe-se ainda a atuação quase imperceptível, para não dizer inexistente, da Secretaria Municipal de Educação com algum plano específico de retomada. Aliás, não custa lembrar que no Brasil se quer temos ainda um ministro da educação para direcionar as políticas públicas voltadas para diminuir os prejuízos na educação nesse sentido.

Enquanto isso persistir os alunos da rede municipal de ensino continuarão em suas casas sem aulas, sem livros, sem conteúdo, sem planejamento e ninguém sabe ao certo como será tratada o retorno das atividades. Tampouco o atual prefeito Edvaldo. A cidade acabou-se.

Por outro lado, as escolas da rede privada seguem firmes e se debruçam com os alunos fazendo malabarismos com as aulas online, a fim de cumprirem todo o cronograma de conteúdos.

Pergunto:  ¬- Quem sairá no prejuízo? Os alunos da rede pública ou da rede privada?

Outra coisa, se caso o gestor público da cidade de Aracaju faça a opção por aulas online, esses alunos da rede pública que em sua maioria são de famílias humildes terão disponíveis em casa computadores, ou tabletes e Internet para assistirem as aulas?

Talvez ousaria parafrasear o pensamento gregoriano citado no início na obra a Boca do Inferno. Não é mais Aracaju. Antigamente havia muito respeito. Ah, Thieryson, porque em culis mundi te metestes?

A realidade dos mais desfavorecidos é cruel. Não podemos aceitar calados e muitos menos nos curvar aos poderosos que só pensam nas eleições vindouras deste ano. Dessa forma, socorro-me das lições do poeta baiano Gregório de Matos que teceu críticas ás autoridades políticas da sua época em suas obras sátiras.

“Que falta nesta cidade?……….Verdade

Que mais por sua desonra?……….Honra

Falta mais que lhe ponha………….Vergonha.

O demo a viver se exponha,

por mais que a fama a exalta,

numa cidade, onde falta

Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?……….Negócio

Quem causa tal perdição?………….Ambição

E o maior desta loucura?……………Usura”.

Assim sendo, precisamos de igualdade material, de mais ações concretas do poder público uma vez que o problema é grave e pode piorar se o Estado não intervir para dirimir os prejuízos na educação sergipana. Enquanto isso não acontece os alunos continuarão a ficar sem estudar, sem perspectiva de mudança de padrão de vida, sem um futuro melhor e com certeza terão prejuízos.

Thieryson Santos, feirante e advogado

Bibliografia

MIRANDA, Ana. Boca do Inferno: Romance. 2ª reimpressão. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008. p. 8.

 

Leia também