Vitória é a palavra que determina a trajetória de Renata Capucci como mãe. Para realizar o sonho de ter dois filhos, a jornalista engravidou cinco vezes – perdeu duas das gestações em estágio avançado. Em entrevista à CRESCER, ela relembra os episódios de superação, fala da importância da parceria de casal e afirma: ‘’Não desistiria do meu sonho’’.
Você engravidou cinco vezes, perdeu dois bebês em uma fase já avançada da gestação e teve duas filhas, Lily e Diana, hoje com 11 e 3 anos, respectivamente. O que diria para quem enfrenta um desafio desses nesse momento?
Que tente sempre. O que eu aprendi com as minhas cinco gestações foi que, quando tem que acontecer, acontece – seja algo bom ou ruim. Por mais que façamos o pré-natal e tudo mais que esteja ao nosso alcance, não temos o poder de controlar tudo. Se eu não tivesse persistido, nunca teria tido a Lily e a Diana. Hoje, olhamos para trás e vemos que a tristeza ficou em um passado muito distante. Sempre vale a pena tentar.
Você e seu marido nunca desistiram de ter as meninas. Como casal, como superaram três perdas tão devastadoras?
Éramos recém-casados quando perdemos nosso primeiro filho, o Bernardo, com 33 semanas de gestação. Meu marido é médico e encara a morte de uma maneira mais científica. Mesmo assim, quando acontece com a gente é devastador. Permanecemos unidos o tempo todo. Voltar para casa sem o bebê e ter de ir ao cemitério enterrá-lo dois dias depois, recém-parida, é um trauma. É tudo muito doloroso. Perdemos uma gestação de oito semanas, que também não foi adiante. Depois, na gestação do Benjamin, já tínhamos a Lily, que estava com 5 anos. Foi uma gravidez delicada, com hemorragias, descolamento de placenta… Perdemos com 22 semanas. Passei por uma microcesárea. Tivemos que explicar para ela, que estava acompanhando o crescimento da barriga. O fato de já ter uma filha me deu mais força. Eu sabia que tinha alguém que dependia de mim, que precisava levantar e superar também por ela.
Como foi explicar para a Lily que ela tinha perdido o irmãozinho?
Foi difícil. Viajamos com ela por três semanas. Ficamos fora, eu, ela e o pai. Fomos para um lugar que a gente gosta e nos nutrimos de coisas que a gente ama neste período. Fomos nos recompondo aos poucos. Depois da viagem, viramos a página. A médica pediu que esperássemos um ano para tentar outra vez. Quando engravidamos da Diana, só contarmos para a Lily com 18 semanas. Escondi dela até fazer muitos exames e saber que estava tudo certo com o bebê.
As gestações da Lily e da Diana foram muito diferentes?
Foram completamente diferentes. Eu engravidei da Lily exatamente um ano depois de ter engravidado do Bernardo. E toda vez que ela dormia na barriga eu ficava muito preocupada. Fiz 19 ultrassons só para ver se ela estava viva. Foi um parto tenso. A Diana não! A cada vez que eu ficava tensa, ela dava uma mexidinha, como quem dizia: “Calma, mãe!”. Então, acabou sendo uma gestação muito zen. Fui para a mesa de parto da Lily supertensa e para a da Diana supertranquila. Quando entrei para o centro cirúrgico, falei para a minha médica e para a equipe que me acompanhou em todas estas gestações que eu queria aproveitar tudo porque o nascimento da Diana seria meu último parto. Ela nasceu com 37 semanas porque já era a minha quarta cesariana. Se tivesse completado 40 semanas, ela teria passado de 4 kg. Lily já tinha 7 anos. Choramos muito de alegria.

Você e seu marido nunca desistiram de dar um irmão pra Lily. Você se sentiu julgada de alguma maneira por persistir no sonho?
Se fui, não notei e não dei espaço para que alguém opinasse. Teve uma ou outra pessoa que disse que éramos loucos. As pessoas não sabiam como conseguimos passar por isso, mas também tinham admiração pela nossa força. É uma decisão que só cabe a nós, ao casal. Eu não ia desistir de dar um irmãozinho para a minha filha, assim como não desisti do sonho de ser mãe. Foi duro, mas faria tudo de novo. Quando olho para as minhas filhas felizes, vejo que tudo valeu a pena.
Depois de todos esses desafios, como ficou sua espiritualidade?
Abalada. Somos judeus. Eu levava a religião muito a sério, rezava de maneira fervorosa com a mão na barriga. Eu era muito carola antes de perder o Bernardo. Quando você tem muita fé, às vezes, tem a falsa impressão de estar blindada, que nada de ruim irá te acontecer. Eu me achava muito protegida. Quando aconteceu comigo, eu perguntava: “Por que eu, Deus?” Levei um tombo, fiquei um ano sem pisar na sinagoga. Busquei respostas no espiritismo, na cartomante, na ciência médica. Não houve nenhuma resposta, nenhuma explicação patológica, nada.
Se pudesse voltar no tempo, faria algo diferente?
Talvez tivesse me cobrando menos na primeira infância da Lily. Quando você é mãe de primeira viagem, quer fazer tudo muito certinho, é preocupada demais com horários, alimentação, regras, o que pode e o que não pode. Quer tudo perfeitinho. Teria sido mais flexível e não tido tantos atritos durante o crescimento dela. Mãe erra. Criança não vem com manual de instrução, não é eletrodoméstico. A gente vai aprendendo com o tempo.
Você é jornalista, tem uma rotina que muda de acordo com o que acontece no Brasil e no mundo. Sente culpa por ter que trabalhar fora?
Sim. Sinto culpa o tempo inteiro por trabalhar fora. A professora me manda os horários que tem para me atender com vinte dias de antecedência e eu nem sempre posso ir. Não sei qual horário posso marcar porque a minha agenda profissional não é determinada por mim. Isso me consome. Festa na escola, por exemplo, apresentação das meninas, rola aquela ansiedade quando não sei se poderei estar presente.

Consegue dar atenção para as meninas de forma equilibrada?
A caçula demanda mais. Na verdade são demandas completamente diferentes. Enquanto a menor quer sentar no chão e brincar de boneca, a maior já quer mostrar um aplicativo musical na internet. A gente se desdobra para atender às necessidades de cada uma. Com uma, sou uma mãe. Com a outra, sou completamente diferente. Uma, eu já levo ao ginecologista, com a outra, monto quebra-cabeças. É um exercício diário de se virar nos trinta.
Em quais momentos você tem certeza de que todas as provações valeram a pena?
Quando olho para as minhas filhas. Fico impressionada quando as vejo dormindo. Olho a Lily com 11 anos deitada na cama e penso: “Gente, quem é essa mulher, tão grande?” Ela está entrando na puberdade. É tão incrível fazer parte de todas essas fases. Olhar para trás e ver tudo o que passei, acompanhar a alegria delas a cada dia, o crescimento, os pequenos momentos… Tudo isso faz a gente ver que vale a pena!
Você dá bronca nas meninas?
Dou bastante bronca. A Diana ontem cortou o próprio cabelo pela terceira vez. Na frente e bem curtinho. Tomou bronca, claro.
Algum conselho da sua mãe que tenha te marcado?
Seja independente. Pague suas próprias contas e nunca se humilhe por ninguém. Quem gostar de você vai gostar pelo jeito como você é. Certamente, devo usar com as minhas filhas.
O que você diria para outras mães?
Ser mãe cansa, mas não há nada na vida que traga mais felicidade e realização do que a maternidade.
Fonte/Foto: globo.com