Aracaju, 29 de março de 2024

A Cuca Racha, escreve o professor Lacerda Junior (Foto ilustração)

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índicecarro

 

*Lacerda Junior

Dedico este texto ao asfalto que consumiu boa parte das carnes de minha coxa e ao meio fio que abriu minha testa naquele acidente que ceifou minha vida.

Meu nome é Valentino Trocamurro’s, levei a vida da pior maneira possível, me envolvi em muitas confusões, sendo que a maioria delas se deu devido aos rachas nos quais me envolvi durante minha curta vida.

As linhas abaixo contém a história de minha morte:

– Pai! Pai! – Gritou Valentino enfurecido

– O que foi filho? – Respondeu Seu Temeroso pai do jovem

– Cadê as chaves de minha moto? – Esturrava Valentino

– Não vou te dar as chaves filho, você nos últimos meses já se envolveu em quatro acidentes, todos por causa de bebida e alta velocidade naqueles rachas malditos. – Falou o pai aumentando o tom da voz.

Então eu parti para cima do meu pai e tomei a chave que estava no seu bolso.

– A moto é minha e eu ando com ela a hora que eu quiser – Gritou novamente o jovem Trocamurros.

Após a discussão peguei minha moto, uma Daytona 675 cilindradas e sai em alta velocidade, pois já tinha marcado com alguns amigos um racha na Zona Suburbana de Transitolândia.

Antes de chegar ao local combinado passei num boteco e tomei três doses de vodka, para esquecer o desaforo de meu pai.

– Quem ele pensa que é para querer me impedir de usar minha moto?  – Resmungava o jovem Trocamurros enquanto engolia a vodka.

Alguns minutos depois:

– E aí Trocamurros! Vai correr hoje ou vai amarelar? – Disse Pidão, um jovem irresponsável que já havia se envolvido em vários acidentes de trânsito por conta de imprudência.

– Amarelar o quê seu infeliz? – Disse o jovem Trocamurros já partindo pra cima de Pidão.

– Calma Trocamurros! Deixa pra lá! – Disse Lelé um amigo do jovem já o segurando

– Esse miserável só vive me insultando, me solte e eu vou quebrar a cara dele. – Gritou Valentino muito irritado.

– Eu tenho uma forma de vocês resolverem esse problema sem ter que se esmurrarem. – Falou Lelé.

– Qual é a ideia? – Perguntou Pidão

– Um racha, o carro do Pidão contra sua moto Valentino – Falou Lelé.

– Só se for agora – Exclamou Valentino

Peguei minha moto e Pidão o carro e fomos à esquina da rua, Lelé ficou responsável de dar o sinal de partida.

– Um, dois, três e vai! – Falou Lelé.

Pidão saiu em alta velocidade e eu parti após ele, deixei ele ganhar distância para depois passar por ele e humilhá-lo. Percebi que ele estava bem distante de mim apertei o punho da moto e fiz o ponteiro do velocímetro dar KM.

De repente:

Screeeech!!!! Iééé!!!!! – Freou o carro de pidão.

– Essa não! Não vai dar pra parar – Pensou Valentino

Boooooommm!!!!!

Pidão parou o carro de forma repentina pra não atropelar uma criança que atravessava na faixa de pedestres, mas eu não consegui parar a moto a tempo e acabei colidindo no carro. O impacto foi tão grande que a moto foi arremessada sobre a criança que graças a Deus não teve maiores danos, apenas alguns arranhões.

Mas o acidente não ficou só por aí, o carro de Pidão, não se sabe qual foi motivo, após a colisão explodiu, mas o desgraçado é sortudo, conseguiu sair do carro antes da explosão e teve apenas o braço cortado pelos estilhaços do para-brisa, quanto a mim… eu quando bati no carro do pidão fui arremessado a muitos metros de distância, sai rolando pelo asfalto e bati a cabeça no meio-fio, a equipe do SAMU chegou rápido, mas não teve mais jeito, eu já estava morto.

Meu corpo foi recolhido pelo IML e meu pai recebeu apenas a notícia de minha morte e a chave da moto. Agora compreendo a preocupação dele para comigo.

*Lacerda Junior é jornalista, professor e pesquisador da área de Educação para o Trânsito

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