Aracaju, 19 de abril de 2024
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CEIFEIROS DE TRÂNSITO LTDA, ESCREVE PROFESSOR LACERDA JR

*Lacerda Junior

Dona Morte ultimamente anda muito cansada, os acidentes de trânsito têm aumentado e o número de pessoas que ela precisa buscar cresceu assustadoramente. A demanda reprimida já acarretou sérios problemas, pois em Transitolândia todos os estudiosos estão investigando como um rapaz, que caiu de cima de um viaduto após empinar uma moto e foi colhido por um ônibus e arremessado a 500 metros contra um poste, ainda continua vivo.

Já se cogita até que o rapaz é imortal, mas na realidade ele só continua vivo porque Dona Morte não pode buscá-lo devido à demanda causada pelo aumento dos acidentes de trânsito.

A fim de solucionar o problema Dona Morte abriu uma agência denominada “Ceifeiros do Trânsito LTDA”, especializada apenas em buscar pessoas que se envolvem em acidentes de trânsito, e lançou um edital para contratar mão de obra para o trabalho.

– Bom dia! – Falou o primeiro candidato a vaga na empresa de Dona Morte.

– Bom dia! –Respondeu Dona Morte pegando o currículo do candidato.

– Eu tenho experiência com foices, meu pai era agricultor e aprendi a manusear com elas desde pequeno. – Falou entusiasmado o candidato a vaga.

– Vejo pelo seu currículo que você não possui habilitação na categoria “A” e nem possui habilidade com redes sociais, por isso será desclassificado por não possuir o perfil exigido para a vaga. – Falou Dona Morte franzindo a testa.

– Como assim? Sou ótimo com a foice e esta é a principal ferramenta dos ceifeiros da morte. Para que eu preciso saber dirigir moto e ter habilidade com redes sociais? – Falou o candidato indignado.

– Você acabou de dar mais um sinal de inaptidão para a vaga, pois você está desatualizado. Desde que os governos deixaram de lado às ações educativas de trânsito e facilitaram à aquisição de motocicletas e smartphones, estes passaram a ser nosso principal instrumento de trabalho e não mais a foice. – Falou Dona Morte.

– Ainda não consegui entender. – Falou o candidato.

– Amigo, a ausência de ações educativas fizeram com que as pessoas dirijam seus motociclos sem a observância dos princípios mínimos de segurança. – Explicou a morte.

– E as redes sociais? Pra que um ceifeiro tem que ter habilidade com elas? – Perguntou intrigado o candidato.

– As redes sociais transformaram as pessoas em verdadeiros “dependentes tecnológicos”, pessoas que não podem ficar nem um minuto sem consultar a tela do smartphone. Essa consulta acontece frequentemente enquanto dirigem ou enquanto atravessam uma rua. – Falou a morte já impaciente com o desconhecimento do candidato.

– Por isso solicito para a vaga habilitação na categoria “A” e conhecimento em redes sociais. – Completou dona morte.

– Entendi! – Falou o candidato desapontado já levantando da cadeira e saindo pela porta.

Ao sair da sala já era quase meio-dia e Dona Morte avisou que a seleção com os demais candidatos continuaria após o almoço.

O primeiro candidato ao sair da sala disse aos demais que tinha sido desclassificado e revelou os motivos. Ao voltar do almoço para continuar o processo seletivo Dona Morte se assustou, ao abrir a porta encontrou centenas de candidatos sobre motos e em vez de uma foice traziam um bastão de selfie na mão.

*Lacerda Junior – Jornalista, professor e escreve sobre educação para o trânsito

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