Aracaju, 19 de abril de 2024
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ALBANO EM ARTIGO SOBRE A FAFEN SUGERE: PRIVATIZAR SEM FECHAR

Em artigo publicado na edição da última quinta-feira, do Jornal O Globo, sob o título: “Privatizar sem fechar”, o ex-governador Albano Franco voltou a criticar a decisão da Petrobras de desativar as três unidades da FAFEN.

Para Albano Franco, além de estrategicamente não ser recomendável o Brasil passa a depender 100% da importação de fertilizantes nitrogenados, Sergipe sofrerá a destruição de toda uma cadeia produtiva que vai desde as indústrias misturadoras à logística de transportes.

No entendimento de Albano Franco, a crise da FAFEN é episódica e deve ser enfrentada com gestão, inclusive com a participação dos governos estaduais. Ele voltou a alertar que se a Petrobras quer mesmo sair do negócio de fertilizantes, deve privatizar as fábricas, não fechá-las.

Integra do artigo:

Privatizar sem Fechar

Sem agricultura a recessão seria pior

por Albano Franco

O Brasil é reconhecido como uma potência agrícola. Responde por 12% da produção mundial de grãos e se destaca como o maior exportador do planeta. A safra recorde de 2017 atingiu 242 milhões de toneladas e foi 15,3% maior que a de 2015, então a maior de todas. A relação produção/área plantada vem se elevando de forma exponencial, o que atesta os contínuos ganhos de produtividade que, nos últimos anos, cresceram 229,4%. Reflexo da utilização massiva de máquinas, implementos agrícolas e insumos modernos, a agricultura brasileira, capitaneada pelo agronegócio, tem contribuído para o crescimento das exportações e para o equilíbrio das contas externas do país. Claro está que, sem o bom desempenho da agricultura, a recessão de anos recentes teria sido ainda mais severa.

A continuidade desse modelo virtuoso de expansão intensiva da agricultura e, em consequência do agronegócio, vai depender dos aumentos cada vez maiores de produtividade, e os fertilizantes nitrogenados, potássicos e fosfatados assumem papel relevante nessa busca contínua de eficiência. O Brasil produz 30% de suas necessidades de fertilizantes, com destaque para os nitrogenados, já que 95% do cloreto de potássio e uma expressiva quantidade dos fosfatados vêm do exterior.

Com a recente decisão da Petrobras de hibernar, ou seja, desativar a produção de suas três fábricas de nitrogenados de Camaçari (BA), Laranjeiras (SE) e Araucária (PR), com capacidade para, conjuntamente, produzir 1,8 milhões de toneladas de ureia e 1,270 milhões de toneladas de amônia por ano, o Brasil praticamente irá importar quase todo o fertilizante necessário ao desenvolvimento da agricultura e do agronegócio, que vêm a ser o carro-chefe da economia hoje. Dessa forma, o país ficaria completamente dependente de importações de insumos estratégicos para um conjunto de atividades produtivas decisivas para a economia nacional.

A causa para a hibernação alegada pela petroleira é a de que essas fábricas estão dando prejuízos. Ora, são unidades industriais que operam há muito tempo — a da Bahia há 47 anos; a de Sergipe, há 36 — ininterruptamente. Já a do Paraná entrou em operação em 2013. Fica claro que tais prejuízos são de anos recentes, considerando que a Petrobras não instalaria mais uma fábrica no Paraná se a de Sergipe e a da Bahia fossem cronicamente deficitárias.

Episódicos, esses prejuízos podem desaparecer com uma rigorosa reestruturação administrativa, acompanhada da redução de custos dos insumos básicos — gás natural, água e energia elétrica — perfeitamente equacionáveis num trabalho conjunto entre a Petrobras e os governos dos estados interessados em manter essas fábricas em funcionamento.

No caso de Sergipe, a hibernação ou fechamento da fábrica de fertilizantes nitrogenados (Fafen) destruirá toda uma cadeia produtiva que vai das indústrias misturadoras à logística de transportes, responsável por expressiva parcela da renda interna do estado e pelo emprego de milhares de profissionais de diversas categorias.

Em último caso, se realmente for interesse da Petrobras em sair do negócio de fertilizantes, sugere o bom senso que melhor seria privatizar essas fábricas. Fechá-las, nunca!

Albano Franco é conselheiro emérito da CNI e membro do Conselho Superior de Economia da Fiesp

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