Paulo Márcio Ramos Cruz*
Nem um cabo e dois soldados, nem as tropas confederadas do Raso da Catarina, nem a Corrente dos 70 Pastores. Ninguém, absolutamente ninguém ousará marchar sobre Brasília para destituir os 11 imortais que julgam, legislam e administram de acordo com os seus interesses.
O estranho sinédrio é guardado por uma força superior à que emana dos tanques e mosquetões enferrujados. Por trás daquela inexpugnável paliçada, escondem-se câmaras de tortura, porões úmidos e embolorados, galerias cobertas de limo e ignomínia.
Tudo isso tem uma singela explicação: a grossa sujidade que transborda incessantemente de todos os poderes e instituições civis e militares, em todos os níveis, escorre permanentemente para as imensas fossas que jazem sob nyemeirianas toneladas de concreto e mármore.
Logo, não é de bom alvitre que a falibilidade e finitude daquelas vestais sejam alardeadas por ímpios e desavisados. Que ninguém ouse, portanto, pronunciar a expressao “memento mori” à acústica de qualquer de suas excelências, pois, nesse caso, a sentença será de morte – onde já se viu?
O Supremo Tribunal Federal, que detém o poder inafastável e diabólico de errar por último (Deus nunca erra!), conduz o país inteiro por caminhos tortuosos. O abismo será nossa última parada. Além dele, só o inferno com todas as suas agonias.
Em seu exílio no Brasil, Themis segue de olhos vendados. Não para que se faça justiça, como creem erroneamente. Mas para que se não vejam seus seus olhos amargamente tristes e vazios.
*É delegado de polícia civil