Aracaju, 20 de maio de 2024
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ENTIDADES E PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS FAZEM OFICINA PARA CONFECÇÃO DE MAPA

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A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) – Aracaju, o Fórum em Defesa da Grande Aracaju, o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro-Sergipe, juntamente com professores do Departamento de Geografia (DGE) e do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), da Universidade Federal de Sergipe realizaram, na tarde do último sábado, 29, uma oficina para a confecção de mapas a partir de relatos de moradores nativos, especialmente focando na cultura, na arte, na ocupação laboral de cada um. A oficina aconteceu no Salão Paroquial da Igreja Santa Terezinha (padroeira do Robalo), no bairro São José dos Náufragos.

Durante a oficina, moradores nativos – antigos e idosos – foram ouvidos, de forma que os fatos históricos das comunidades do Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca e Mosqueiro, nas últimas gerações, foram levados em conta, para a definição dos limites de cada comunidade e, principalmente para que as relações culturais e históricas não fossem desrespeitadas.

Além disso, outros elementos também foram extraídos, como o pertencimento, a afetividade, a religiosidade, as tradições, a cultura, os folguedos, conjunto de informações esse que comporá um minucioso relatório.

Muitos moradores nativos foram orientados e levaram consigo registros históricos, como fotografias, documentos, assim como objetos e fantasias (vestimentas) ligados às práticas de cada um.

Pedro Henrique Gonçalves de Freitas é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Sergipe, é também coordenador do núcleo de Sergipe do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Brasileiro e representante do Fórum ANPARQ – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Segundo ele, a ação foi importante para reconhecer, num primeiro momento, os impactos sobre essa transformação de bairros da Zona de Expansão para a cultura e identidade do Robalo. Diz que ao lado da verificação dos limites que de fato são vividos no cotidiano, algumas entrevistas também revelam importância de muitos lugares de memória ainda não reconhecidos como patrimônio cultural, no qual inventários frequentes e práticas de valorização das comunidades seriam ideias para toda Aracaju. “É preciso continuar esse trabalho e exigir um tratamento digno dos moradores antigos pelo Poder Público.” Arrematou.

Joseilton Nery Rocha, coordenador do Fórum em Defesa da Grande Aracaju nos contou que testemunhou uma tarde indescritível da afirmação da identidade de comunidades tradicionais, bem como da luta pela preservação dos seus costumes. Segundo ele, os próprios nativos descreveram precisamente os marcos naturais e históricos que delimitam cada localidade. “E, assim, sob a luz de antigos pescadores, marisqueiras, catadores de coco, brincantes de reisado, músicos e lideranças comunitárias, a construção de um mapa que reflete seus olhares e faz contraponto com a absurda decisão do prefeito e de vereadores que não ouviram os nativos na alteração da delimitação dos lugares e divisão da Zona de Expansão em bairros, afrontando legislação e desrespeitando os costumes locais”.

Entre os moradores antigos se destacaram marcadores de quadrilha junina, líderes de grupos folclóricos, como reisado e samba de coco, “chamador” de leilão (prática antiga de se gritar leilão em festas juninas, festas de padroeiros, entre outras festas, cujos prêmios são geralmente doados pelos moradores para o leilão servir para a aquisição de outros materiais ou para a organização de eventos), pescadores, marisqueiras e pequenos agricultores, aposentados.

Ubiracy Suassuna, agente de saúde e morador do Mosqueiro, saiu da oficina se dizendo satisfeito. “Momento único, onde as comunidades se reuniram e foi feito um resgate histórico da povoação e seus progressos, consolidando os avanços necessários do mundo moderno, respeitando a história, costumes, cultura e preservando a autenticidade das comunidades envolvidas.”

Respeitando os cuidados com o distanciamento, foi convidada uma quantidade de pessoas que foi distribuída dentro do salão paroquial sem causar aglomeração e todos usavam máscaras.

A ideia da oficina surgiu a partir da necessidade de se demonstrar que a Prefeitura de Aracaju e a Câmara de Vereadores, ao transformarem toda a Zona de Expansão em seis bairros, deixaram de observar uma série de elementos legais.

O mapa resultado da oficina, como também os relatórios poderão servir de documento para convencer a Prefeitura de Aracaju e a Câmara Municipal a reverem a lei que transformou a Zona de Expansão em bairros.

No encerramento da oficina, de forma espontânea, parte dos moradores improvisou uma apresentação com danças e cantos, que emocionou a todos os presentes.

Para José Firmo, presidente da Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo (ADCAR), membro da coordenação do Fórum em Defesa da Grande Aracaju e integrante da comissão de moradores e moradoras do Robalo, a oficina teve dupla importância: ouvir os moradores para a confecção dos mapas e reacender a cultura. “Esta oficina que acabamos de realizar é um tapa com luva de pelica na Prefeitura e na Câmara Municipal de Aracaju, as quais deixaram de realizar as audiências, como manda a lei e ainda resgatamos os grupos culturais da região.”.

Sobre as razões que levaram o Prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira e a maioria dos vereadores a mudarem os limites dos povoados da Zona de Expansão, transformando em seis bairros, Firmo diz ter uma tese. “O quanto mais estudamos sobre o assunto, mais entendemos que as forças que alteraram a Zona de Expansão para bairros, de forma ilegal, estão acima do Poder Executivo e do Poder Legislativo. São forças estranhas.”

Por José Firmo

Foto: ADCAR

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