Cerca de 50 toneladas de alimentos do campo foram distribuídas para movimentos sociais e entidades no município de Aracaju
No dia 24 de julho, em celebração ao Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural, as organizações que atuam no campo sergipano promoveram um grande ato de solidariedade com a doação de cerca de 50 toneladas de alimentos oriundas de assentamentos de reforma agrária e comunidades camponesas. O ato tem o objetivo de ajudar as diversas famílias em situação de vulnerabilidade na grande Aracaju. A ação aconteceu na praça do Mercado Central, em Aracaju, e foi também um protesto a favor do acesso aos alimentos para todos, do auxílio emergencial e da vacina, e contra a fome, o desemprego, as reformas e o genocídio promovidos pelo governo Bolsonaro diante da pandemia da COVID-19.
De acordo com José Roberto, da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, o dia 24 de julho é um grande ato de solidariedade pela vida. “Nós fizemos esse ato porque acreditamos que a solidariedade é muito importante para aqueles que precisam, para aqueles que lutam, e que são aniquilados pela política desse governo. É por isso que estamos aqui. O governo não garantiu o auxílio emergencial para a população, não tem política técnica para os agricultores, nós, do campo, sofremos também com a política desse governo, portanto, é muito importante prestar solidariedade às pessoas que mais precisam e que são nossas parceiras nessa batalha por vacina, por comida, por emprego, por educação, e nós acreditamos que é possível garantir essas políticas para o nosso povo”, afirmou.
A vereadora de Aracaju, professora Ângela Melo, esteve no ato prestando apoio e destacou que esse é um dos momentos mais difíceis vivenciados pelo povo brasileiro. “Quando nós falamos em genocida, nós falamos de quem mata, de quem assassina porque não há política, porque em vez de vacina, priorizou a burguesia desse país. É por isso que precisamos estar sempre dialogando com os movimentos sociais e mostrar que o produtor e produtora rural é quem faz a partilha, não vem da burguesia o partilhar, pois a burguesia não entende quem é solidário. Esse ato de partilha, de produzir no campo e trazer para a cidade o alimento que dá a vida é motivo de muita celebração e esperança de dias melhores”, disse.
Além de autoridades municipais, estiveram presentes representantes de 12 entidades, entre movimentos de ocupações urbanas, comunidades religiosas e povos de terreiro. Felipe Caetano, do Movimento Camponês Popular – MCP, ressaltou a resistência dos povos do campo diante da situação alarmante em que se encontra o Brasil. “As organizações do campo historicamente têm o papel de produzir o alimento, digno e saudável, e esse papel a cada dia tem sido aniquilado por esse desgoverno, que tenta nos subjugar para ceder aos interesses do agronegócio e grandes corporações, mas seguimos resistindo, garantindo o alimento na mesa do povo. São mais de 20 milhões de pessoas passando fome, e 50 % da população brasileira que se alimenta, se alimenta mal, então as organizações do campo estão fazendo esse ato de solidariedade trazendo o alimento para ser distribuído para aqueles que mais precisam em uma ação solidária, a partir da doação dos povos do campo”.
Segundo dados de dezembro de 2020 do Indicador de Prevalência de Subalimentação, da FAO-ONU, a insegurança alimentar atingiu 59,4% dos domicílios brasileiros, sendo 15% em situação de insegurança alimentar grave. “Nos últimos tempos, as políticas públicas para a produção de alimentos acabaram, assim como na cidade, que também foram retirados os direitos das classes trabalhadoras, mas no campo é muito pior, porque o trabalhador do campo depende não só das políticas públicas, como também do clima para produzir o alimento. A fome está presente em todas as partes do Brasil e é nosso papel, dos camponeses e camponesas, de produzir o alimento, mesmo em meio a tanta dificuldade, e mesmo com toda a dificuldade, esses camponeses e camponesas trouxeram o melhor presente para doar diante desse cenário de fome que assola a população, que é o alimento”, concluiu Mauro Cibulsku, do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA.
Durante a ocasião, 5 mil mudas foram distribuídas para as comunidades e entidades presentes. As mudas foram doadas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco- Chesf, uma ação que faz parte da campanha nacional: Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. Além disso, houve também a bênção dos alimentos feita pelo Padre Soares, Padre Givanildo e Pastor André Bender. “Esse é um projeto que carrega a palavra de Deus, feito com muito suor por trabalhadores e trabalhadoras que com muito esforço estão trazendo o alimento para alimentar o povo, e nós temos a obrigação de nos somar a essa proposta de preservação da vida, através do ato de matar a fome daqueles que mais necessitam”, declarou o Padre Soares.
Por Díjna Torres
Foto Marcio Garcez