Aracaju, 26 de abril de 2024
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Estupro: por que é importante debater o assunto nas escolas

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A psicóloga Jamile Teles explica o uso do termo e como a sexualização e a violência sexual tornaram-se normais na sociedade

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que 88% das vítimas de estupro são mulheres. Em 50% dos casos, elas foram ameaçadas ou forçadas à relação sexual. Crianças e adolescentes também são vítimas e, em 50% destes casos, o estupro é cometido por parentes, amigos ou conhecidos. O dado mais alarmante é que somente 10% das ocorrências são denunciadas.

No Brasil, o uso do termo cultura do estupro chama a atenção contra a normalização desse crime (artigo 213 do Código Penal Brasileiro). A expressão surgiu nos anos 70 pelo movimento mundial feminista para descrever um ambiente no qual as práticas, valores e normas culturais naturalizam e aceitam a violência sexual, principalmente contra as mulheres.

Segundo a psicóloga, doutora em Saúde e Ambiente e professora da Universidade Tiradentes (Unit) Jamile Santana Teles, a arte, a música e a dança, ainda que sejam aspectos positivos da cultura, podem despertar comportamentos negativos que são reproduzidos pelas pessoas, normalizando, por exemplo, a violência sexual e a sexualização do corpo da mulher.

“A cultura do estupro permite a objetificação dos corpos e reforça a violência sexual, pois passa a mensagem de que a mulher não é um ser humano, e sim uma coisa. São comportamentos tanto sutis quanto explícitos, que silenciam ou relativizam a violência sexual contra a mulher”, esclareceu a doutora.

Como detentora do poder de criar uma cultura, a sociedade também tem a capacidade de modificá-la. “É importante destacar que a cultura é criada pelos indivíduos; logo, ela pode ser modificada. Nesse caso, é urgente erradicar a naturalização da cultura do estupro. Falar sobre a cultura do estupro contribui para dirimir dúvidas, mas também modelar comportamentos que hoje são inaceitáveis. Não é mais concebível uma mulher, crianças ou adolescentes serem forçadas a uma relação sexual sem o seu consentimento (consciente ou inconsciente), uma vez que trata-se de violência sexual”, afirmou Jamile.

De acordo com a psicóloga, o assunto pode ser abordado nas escolas por meio de atividades lúdicas, palestras e psicoeducação. “É urgente que sejam realizadas ações com informações seguras para que esses casos não ocorram mais. Orientar desde as crianças sobre as partes do corpo que são privadas e que não podem ser tocadas (semáforo do corpo), assim como para os jovens, para uma desconstrução dos resquícios de uma sociedade machista e com base no patriarcado, que entende que o homem tem o poder sobre a mulher, inclusive na sexualidade”, destacou.

“Também é necessário debater nos veículos de comunicação, para que reflexões sejam realizadas e, assim, haja uma tomada de consciência para essa temática, pois é por conta de julgamentos e críticas que grande parte das vítimas não denuncia os estupros e outros tipos de violência que sofre. E, principalmente, ajudar a sociedade a compreender que a culpa nunca é da vítima, e sim do autor da violência. Dessa forma, o agressor precisa ser punido e à vítima precisa ser oferecida uma rede de apoio para o enfrentamento dessa dor física e emocional”, enfatizou a psicóloga Jamile.

Assessoria de Imprensa

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