Por Professor Dudu
O SINDISA – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Sucos, Amidos, Cervejarias, Refrigerantes e Afins do Estado de Sergipe completou no último dia 12 de fevereiro 33 anos de existência.
Foi exatamente em um domingo de carnaval que a cidade de Estância viu nascer mais um instrumento de luta da classe trabalhadora.
A assembleia de fundação ocorreu na sede do SINDTÊXTIL, que na época era presidido por Cristóvão Freire – hoje advogado e vereador – que deu toda a orientação e encaminhamento da parte burocrática junto ao cartório e ao Ministério do Trabalho.
Foi também Cristóvão Freire quem encaminhou a defesa de alguns membros da chapa que foram demitidos pela empresa mesmo gozando de estabilidade em função do cargo de representação dos trabalhadores e trabalhadoras.
O contato de Cristóvão foi o seu professor de direito Cézar Brito que fez a defesa de Artur Oliveira Nascimento, José Domingos dos Santos (Domingão) e tantos outros porque a perseguição não parou nesses dois.
Como eu já conhecia Artur como colega de escola e também do futebol acompanhei de perto o nascimento do SINDISA e lembro das primeiras reuniões para articular a fundação e algumas delas aconteceram na sede social do Cruzeiro em frente a casa dos meus pais.
Pode parecer estranho que um grupo de operários tenha conseguido fazer reunião para se organizar em sindicato em um espaço da classe média. A resposta é que as portas do clube se abriram por conta do seu presidente que era exatamente Cristóvão Freire.
Através de Artur eu conheci todos os dirigentes do SINDISA e passei a conviver com eles o que para mim foi uma experiência importante, porque apesar do meu primeiro emprego com carteira registrada ter sido em uma indústria têxtil eu fui demitido antes de compreender como a classe operária enxergava a relação capital e trabalho e foi somente no SINDISA que eu tive essa oportunidade.
Um certo dia Artur me convidou para acompanhar uma greve na Indústria de Sucos FRUTENE durante a noite e eu vi de perto os operários fazendo piquete na porta da fábrica e os gerentes cuspindo fogo.
Lembro-me da presença da CUT na greve através do seu dirigente Edmilson Araújo e mais dois companheiros que não lembro o nome agora.
Com o pátio lotado de caminhões carregados de frutas e outros chegando para descarregar, a direção da empresa abriu negociação e a primeira reivindicação da categoria aconteceu.
A inflação era galopante e para recuperar o poder de compra o sindicato arrancou dos patrões quase 85% de reajuste e em seguida conquistou o transporte 100% gratuito e a adequação nos turnos de trabalho dentre outros avanços.
O SINDISA tinha na época uma organização no local de trabalho muito forte e esses dirigentes eram os interlocutores junto aos operários porque os dirigentes afastados não podiam entrar na fábrica. A organização se assemelhava ao que já acontecia no ABC paulista.
Um deles era Erivonaldo Barbosa que além da interlocução entre os operários e a direção do sindicato informando a demanda, ao mesmo tempo fazia as reivindicações imediatas junto aos encarregados e gerentes, como cobrança do EPI – Equipamento de Proteção Individual, denunciava quando a alimentação era ruim, cobrava pontualidade no transporte da categoria, denunciava assédio moral etc.
Essas e outras pautas a direção encaminhava para a direção da fábrica e quando não era atendida denunciava na Justiça do Trabalho, como revisão salarial e melhoria nas condições de trabalho.
Durante eleições para a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes havia uma disputa aberta entre os gerentes e o sindicato e em todas o sindicato venceu. A empresa indicava (sem voto) parte dos cipeiros e ainda tentava eleger no voto os representantes dos trabalhadores.
A CIPA é fundamental para cuidar da saúde física e mental dos trabalhadores e trabalhadoras. É ela quem denuncia o assédio moral e quem cobra os EPIs – Equipamentos de Proteção Individual e EPC – Equipamentos de Proteção Coletiva etc.
O barulho permanente de uma máquina acima dos decibéis permitidos causa surdez; a falta de dispositivo de segurança nos equipamentos causa amputação de dedo, mão, braço etc.
O SINDISA foi uma espécie de laboratório para as minhas teses marxistas que eu aprendera na universidade, por exemplo eu estimulei o sindicato a organizar manifestações no Dia do Trabalhador (1º de Maio).
Na programação do primeiro de maio nós colocavamos palestras e uma das palestrantes mais frequentes era a professora Alexandrina Luz (UFS) que eu conheci através de Ana Lúcia.
Alexandrina lembrou recentemente de uma dessas palestras que aconteceu no Cinema Guarani (extinto).
Ela traduziu para os operários o conceito de Mais-Valia e de luta de classes. Era marxismo na veia.
Lembro com nostalgia das manifestações com pouca gente é verdade, mas foi ali que Estância começou a perceber que algo de novo estava nascendo: O Partido dos Trabalhadores.
Um grupo que fundou o PT vinha da classe operária (SINDISA), o outro formado por professores recém-saídos da Universidade e um terceiro muito ligado a cultura, especialmente o teatro.
Esses três grupo atraíram militantes das diversas áreas como estudantil e profissionais liberais que engrossaram as fileiras do Partido dos Trabalhadores.
Acho engraçado que na época nós éramos chamados de “Os meninos do PT” porque na verdade o grupo era majoritariamente de gente jovem, todos neófitos na política.
Quando eu for escrever sobre o PT darei centralidade às reuniões na garagem de Zé Paulo de Araujo, ao Álibi (bar), ao SINDISA e não me refiro ao prédio atual da entidade, mas uma pequena casa alugada na Avenida Raimundo Silveira Souza) e citarei também a casa de Beto Pessoa em frente a Maçonaria (ali nasceu o núcleo da Maçonaria).
Na época a pegada do movimento sindical era outra e lembro que eu transcrevia para os panfletos do 1º de maio, textos do Manifesto Comunista de Marx. Todos eles encerravam com a frase: “A libertação da classe trabalhadora será obra da própria classe trabalhadora”.
A unidade camponesa e operária não tardou e após uma desocupação da Fazenda Priapu (Santa Luzia do Itanhi) nós dirigentes do PT fizemos um protesto em frente ao Poder Judiciário que na época funcionava no andar superior do prédio da prefeitura.
O SINDISA se fez presente no protesto e em seguida deu guarida ao pessoal do MST que não havia sido acolhido no Sindicato Rural nem para guardar os instrumentos de trabalho.
O bate bola entre mim e Artur saiu dos gramados e das quadras de futsal e entrou na luta de classes e em sintonia ajudamos a fundar o próprio SINDISA, o SINTEME – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de Estância; o SINDSEME – Sindicato dos Servidores do Município de Estância; O SINDCOM – Sindicato dos Comerciários e outras entidades da sociedade civil.
Domingos dos Santos (Domingão) foi outro dirigente do SINDISA que contribuiu com a organização de outros sindicatos e foi além ajudando a organizar associações de moradores juntamente com Wellington Elesbão.
É impossível esquecer dos primeiros dirigentes a exemplo do próprio Artur, Zé Reis, José Domingos dos Santos (Domingão), Erivonaldo Barbosa, Evertone, Heldo Prado, Tonho Bocão, Aparecido, Neilson Carlos etc.
É natural que em um texto breve como esse muita gente que contribuiu com a organização do SINDISA tenha ficado de fora da lista, mas isso não anula sua importância para a classe operária estanciana e para a chegada de uma nova consciência crítica.
Parabéns para todos e todas que passaram pelo SINDISA e para quem continua representando a entidade.