Com delegação de mais de 60 artistas, o Nordeste leva sua cultura mais autêntica para Lille, em um movimento para buscar o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade
O ritmo que embala as festas juninas e os salões do Nordeste e de todo o Brasil chega à França para fazer história. De 11 a 14 de setembro, a cidade de Lille recebe mais de 60 artistas brasileiros para o 1º Festival Internacional do Forró de Raiz. Para além da celebração, o evento será o palco da formalização da candidatura do Forró como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
O festival é fruto da articulação da Câmara Temática de Cultura do Consórcio Nordeste, que congrega todos os secretários estaduais de Cultura da região e é coordenada pelo secretário da Paraíba, Pedro Santos, e será realizado em parceria com o Governo Federal e instituições francesas como Lille 3000, Museu de Belas Artes de Lille e Câmara Municipal de Lille. O evento, que tem produção da Associação Cultural Balaio Nordeste, integra a programação comemorativa aos 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e França.
A realização do festival internacional marca um momento chave na luta pelo reconhecimento mundial do Forró, que já é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2021.
“Buscamos consolidar a candidatura do forró e garantir que essa grande expressão cultural brasileira também seja reconhecida internacionalmente. Desde 2023, a Paraíba tem conduzido esse processo em âmbito nacional, junto aos demais estados, por meio do Consórcio Nordeste, e com o apoio do Governo Federal, por meio do Iphan. Agora temos a oportunidade”, explica João Azevedo, governador da Paraíba.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que participou ativamente de todo o processo de reconhecimento do gênero no Brasil, estará em Lille e reforça a importância da missão. “O forró é mais do que música e dança: é a alma do povo nordestino. Levar nossos artistas para a França, num festival que celebra a raiz dessa tradição, é reafirmar a força da nossa cultura e dar um passo importante para que o forró conquiste o reconhecimento mundial que merece. O Rio Grande do Norte tem orgulho de estar presente nessa luta coletiva em defesa da nossa identidade e da nossa história”, afirma a governadora.
O governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, também estará na França para participar da assinatura do protocolo de intenções da candidatura, que irá acontecer na cerimônia de abertura do evento, nesta quinta-feira (11), às 19h no horário da França, 14h no horário do Brasil.
“O forró é a alma do nosso povo nordestino, um símbolo de identidade, de diversidade e de alegria. A formalização da candidatura do forró a Patrimônio Cultural da Unesco é um passo fundamental para que o mundo reconheça a grandeza dessa expressão cultural que nasceu no Nordeste e hoje embala corações no Brasil inteiro. Em Sergipe, temos orgulho de manter viva essa tradição, fortalecida pelo nosso Arraiá do Povo e Segundona do Turista que valorizam artistas, movimentam a economia e reafirma nossas raízes. O reconhecimento internacional será também um presente para todos os sergipanos e nordestinos que fazem do forró parte da sua vida”, ressalta Fábio Mitidieri.
“A transformação do forró em patrimônio da humanidade gera um impacto positivo não só para a cadeia produtiva do forró de raiz, mas vai fortalecer cada vez mais a presença da cultura nordestina no mundo”, ressalta o secretário Pedro Santos.
A programação do festival também terá oficinas, rodas de conversa, exposições e a segunda edição do Fórum Internacional do Forró de Raiz.
Caminhos para a formalização da candidatura
Os nove estados nordestinos estarão representados, em Lille, na assinatura do Protocolo de Intenções junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Após o ato, o processo segue a tramitação interna no órgão, com a produção de um dossiê técnico que reúne todos os elementos necessários para a patrimonialização nacional.
Uma vez registrado no Livro de Registro do Patrimônio Imaterial do Iphan, no Brasil, há a criação da estratégia de salvaguarda que consiste em um conjunto de ações planejadas e articuladas para garantir a continuidade, vitalidade e transmissão do bem cultural imaterial, assegurando que ele não se perca ao longo do tempo. Após todas essas etapas, o Brasil, por meio do Iphan e do Ministério da Cultura, apresenta a candidatura oficial à Unesco.
O título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, concedido pela UNESCO, reconhece práticas, expressões, saberes e técnicas que comunidades e grupos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Esse reconhecimento ajuda a salvaguardar a diversidade cultural frente à globalização, promove o respeito à herança cultural e fortalece identidades locais e regionais.
Breve história do forró
O forró é uma expressão cultural multifacetada que inclui música, dança, festas e tradições. Sua origem remonta ao século XIX em Pernambuco, mas foi com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que o gênero ganhou projeção nacional. Em 1949, Gonzaga gravou “Forró de Mané Vito”, e a partir daí o termo “forró” passou a designar o ritmo e a dança.
Com as migrações nordestinas nas décadas de 1960 e 1970, o forró se espalhou pelo Brasil, evoluindo e incorporando novos instrumentos, mas sempre mantendo sua essência. Em 2021, após uma luta de anos encabeçada pelo Fórum Forró de Raiz – que reuniu assinaturas de 423 forrozeiros de todo o país –, o forró foi finalmente reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN.
Rede de cooperação em defesa do forró
O festival é resultado de uma ampla rede de cooperação entre instituições brasileiras e francesas: como parceiros brasileiros, o Instituto Guimarães Rosa, a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, programa de fomento do Ministério da Cultura – Governo Federal e a Associação Cultural Balaio Nordeste. O Consórcio Nordeste, composto pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) – Governo da Bahia, pela Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) – Governo de Pernambuco, pela Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap) – Governo de Sergipe, pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas (Secult-AL) – Governo de Alagoas, pela Fundação José Augusto (FJA) – Governo do Rio Grande do Norte, pela Secretaria de Estado da Cultura do Piauí (Secult-PI) – Governo do Piauí, pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma) – Governo do Maranhão e pela Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba (Secult-PB).
Como parceiras francesas, Lille 3000, République Française, Ville de Lille, Métropole Européenne de Lille, Préfet de la région Hauts-de-France, Institut Français, Ministère de la Culture, Ministère du Tourisme, Ministère des Affaires Étrangères, AG2R La Mondiale, Caisse d’Epargne Hauts de France, Auchan/Retail, EDF, Hood Des Lifux, Ceetrus Fonciérement Vivant, companhia Cie Biscoitinho e grupo francês Messiê Forró.
Confira a programação completa:
11/09 – QUINTA-FEIRA | Palais de Beaux-Arts de Lille
18h-18h45 | Cortejo de sanfonas
19h-20h | Cerimônia de abertura e assinatura do Plano de Ação para Submissão da Candidatura do Forró a Patrimônio Imaterial da Humanidade
20h-21h | Coquetel e baile de forró
12/09 – SEXTA-FEIRA | Le Grand Sud
Sala Jackson do Pandeiro
10h-10h30 | Abertura do Fórum Internacional do Forró de Raiz, com Joana Alves e Henrique Sampaio
10h30-12h30 | Discussão sobre a carta de Diretrizes de Salvaguarda das Matrizes Tradicionais do Forró como Patrimônio Mundial
17h-18h | Vernissage: Exposição “Por Amor ao Forró” com João Batista
Sala Luiz Gonzaga
15h-16h | Mostra audiovisual – Parceria com a CineArts Brasilis
* São João é coisa nossa (Brasil-França | 2024 | DOC | 15 min)
* No tom dos oito baixos (Brasil | 2019 | DOC | 20 min)
* Família Calixto (Brasil | 2012 | DOC | 25 min)
16h-17h | Debate sobre os filmes com Karim Soumaila, Henrique Sampaio, Luizinho Calixto e Denise Barreto
Palco Principal
19h30-20h20 | Show – Del Feliz (Bahia)
20h30-21h20 | Écore Nascimento e Sandrinho do Acordeon (Piauí)
21h30-22h30 | Show – Mestrinho (Sergipe) – participação de Antônia Amorosa
13/09 – SÁBADO | Le Grand Sud
Sala Marinês
10h-11h30 | Oficina “Sanfona Nordestina” com Natan Nunes e Karol Benigno
15h-16h30 | Oficina “Literatura de Cordel” com Anne Karolyne
16h45-18h30 | Oficina “Xilogravura” com Josafá de Orós
Sala Jackson do Pandeiro
10h-11h16 | Palestra “Produzindo tradição: O papel do produtor no forró tradicional” com Thiago Gomes
11h30-13h | Roda de conversa “Contribuições dos festivais de dança na Europa para o forró tradicional” com Henrique Sampaio e Antônia Amorosa
Sala Anastácia
15h-16h30 | Oficina “A dança do forró pé de serra” com Karla Oliveira e Leneeton de Oliveira (Paraíba)
16h30-17h | Performance de dança com Cacau Moutinho e Lydie Fruleux
Palco Principal
18h30-19h | Apresentação de quadrilha junina com Wesley Falcão (Brasil) e Lydie Fruleux (França)
19h-19h50 | Show – Anderson Fidélis e Giseldo Romeiro (Alagoas)
20h-20h50 | Show – Santanna, o Cantador (Pernambuco)
21h-22h30 | Show – Elba Ramalho e Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste (Paraíba)
14/09 – DOMINGO | Le Grand Sud
Sala Marinês
10h-11h30 | Oficina “Sanfona Nordestina” com Natan Nunes e Karol Benigno
14h-15h30 | Oficina “Xilogravura de Cordel” com Josafá de Orós
15h50-17h30 | Oficina “Exploração Musical e Dança dos Gêneros do Forró Pé de Serra” com Salatiel Camarão e Tereza Accioly
Sala Luiz Gonzaga
15h30-17h | Oficina “Literatura de Cordel” com Anne Karolyne
Sala Anastácia
14h-15h30 | Oficina “Forró de Salão” com Cie Biscoitinho
15h50-17h30 | Oficina “A dança do forró pé de serra” com Karla Oliveira e Leneeton de Oliveira
Sala Jackson do Pandeiro
10h-12h | Plenária final do Fórum Internacional do Forró de Raiz
12h-13h30 | Palestra “O ensino coletivo e o universo do forró: a prática das Orquestras Sanfônicas no Rio Grande do Norte” com Cláudio Araújo
Palco Principal
17h-17h45 | Performance “Luizinho Calixto é o Fole de 8 Baixos” – participação de Bira Delgado (Paraíba)
18h-18h45 | Show – Alexandra Nícolas (Maranhão)
19h-19h45 | Show – Messiê Forró (França)
20h-21h30 | Show – Deusa Nordestina do Forró, Jarbas do Acordeon e Cláudio Araújo (Rio Grande do Norte)
Fonte Consorcio do Nordeste