“O folclore é alma do povo”, sintetiza Aglaé Fontes, historiadora e folclorista. Uma alma que se manifesta na fala, nos costumes, nos folguedos e tradições, que mistura influências indígenas, dos povos africanos e da herança portuguesa e espanhola. “O folclore é um conjunto de tradições que são mantidas e atualizadas, passadas de geração a geração”, complementa a presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE).
Para Aglaé, é fundamental considerar o folclore em sua dinâmica e complexidade, não atrelando a ele um viés alegórico e estereotipado. Esse ensinamento se torna ainda mais relevante na semana em que se comemora o Dia do Folclore, celebrado em 22 de agosto. “Precisamos valorizar o folclore como uma coisa nossa, todos os dias, e não apenas nessa data”, salienta a folclorista.
A valorização e o respeito ao folclore e à cultura popular têm se consolidado como um dos pilares da política cultural do Governo de Sergipe. Ao longo do ano, diversas programações garantem visibilidade e reconhecimento aos grupos folclóricos, que sobem aos palcos e ocupam as vilas para aproximar sergipanos e turistas da riqueza, diversidade e força dos nossos folguedos.
Além de aproximar os grupos folclóricos do público, as ações também reconhecem quem mantém vivas as tradições populares. Exemplo disso é o Programa de Registro de Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana, conhecido como Lei dos Mestres, que em dois editais já selecionou dez referências do fazer cultural, como Beto Pezão, Tia Madá e Mãe Marizete. A iniciativa garante apoio financeiro mensal e reconhecimento oficial a mestres que preservam tradições e saberes, transmitindo esse legado às novas gerações.
Outro destaque é o fortalecimento das quadrilhas juninas, tradição presente em todo o estado. Neste ano, o Governo de Sergipe, por meio da execução da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), destinou investimentos recordes, ultrapassando R$ 2 milhões. Somente nos Concursos de Quadrilha Arranca Unha e Gonzagão foram mais de R$ 250 mil em apoio direto a 24 quadrilhas, além de R$ 200 mil em premiações.
Motivos para comemorar
Com essas iniciativas, os grupos e mestres têm ainda mais motivos para celebrar neste Dia do Folclore. Durante muitos anos, suas reivindicações não foram ouvidas pelo poder público e a visibilidade era limitada. Hoje, ocupam espaços de reconhecimento e protagonismo que fortalecem nossas tradições.
Para Dona Zefinha, mestra da Batucada Buscapé, de Estância, a valorização do folclore é também uma realização pessoal. “Fico muito feliz e me realizo porque adoro o que faço, sou uma véia brincante”, diz com orgulho. Aos 82 anos, ela lembra das dificuldades enfrentadas ao longo de mais de 40 anos do grupo, ressaltando a importância das políticas públicas para garantir que os brincantes continuem ativos. “Hoje em dia tudo é caro. Quando a gente faz uma apresentação, eu gratifico os meninos e guardo o resto para consertar um tambor, um tamanco, porque sempre tem despesa”, explica.
A mestra destaca ainda como a presença em eventos, feiras e cortejos fortalece a identidade cultural de Sergipe. “No começo, a batucada só saía nos festejos juninos, mas hoje é o ano inteiro, sempre levando a nossa cultura adiante”, conta.
O ceramista Beto Pezão, contemplado pela Lei dos Mestres, define seu ofício como parte essencial da própria vida. “Significa tudo para mim, porque é o que faço. Sobrevivo disso. Tenho o maior prazer em fazer o que é da nossa cultura”, afirma. Orgulhoso de representar Sergipe por meio das esculturas, ele ressalta o valor do reconhecimento recebido tanto do público quanto do Governo do Estado. “Isso é gratificante, é o que dá motivação para a gente prosseguir”.
Para ele, a força da cultura popular está em olhar para dentro, reconhecer os artistas locais e valorizar os costumes sergipanos, retratados em suas peças. “Eu trabalho em cima disso: o vaqueiro, o lenhador, o caçador, os trabalhadores da roça. É a nossa raiz”, enfatiza.
O presidente da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap), Gustavo Paixão, ressalta que o Dia do Folclore é importante para celebrar as manifestações culturais e tradições que sustentam a identidade do povo sergipano. “Valorizar o folclore significa reconhecer a importância das raízes e preservar o patrimônio imaterial que une e fortalece a sociedade”, destaca. Ainda segundo o presidente, o Governo de Sergipe mantém o compromisso de promover, proteger e difundir essas expressões culturais, garantindo que histórias, costumes e saberes sejam transmitidos às futuras gerações. “Assim, mantemos viva a essência da nossa cultura”, conclui.
Educação cultural
Na visão de Aglaé Fontes, as iniciativas de valorização da cultura do povo sergipano devem vir acompanhadas de ações nas escolas durante todo ano. Ela afirma que o folclore deve ser incorporado ao cotidiano escolar para que as tradições não se limitem a fantasiar os estudantes com as roupas dos grupos folclóricos. É necessária uma abordagem que apresente a origem, os costumes e os saberes que compõem a identidade cultural do estado. “A escola é um veículo importantíssimo para que essa cultura seja estudada e respeitada”, destaca.
A preservação do folclore passa pelo contato direto das novas gerações com as manifestações locais. Esse aprendizado garante que o conhecimento não se perca e que a cultura popular continue a se renovar. Para além de datas comemorativas, Aglaé enfatiza que a cultura popular precisa fazer parte da vida das pessoas, “para que a identidade do povo sergipano seja conhecida, respeitada e transmitida adiante”, reforça.
Foto: Igor Matias