O Dia Mundial do Orgulho Autista, celebrado nesta quarta-feira, 18, é um momento para rememorar conquistas históricas e refletir sobre a importância da inclusão e aceitação do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em todo o mundo.
Segundo a Academia do Autismo, o TEA é “uma condição neurológica do desenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento, sendo complexa e variável, pois engloba diferentes perfis e níveis”.
Estabelecida pela primeira vez em 2005 pela organização Aspies for Freedom, a data ainda aponta para a necessidade de falar sobre o assunto e desmistificar preconceitos mesmo 20 anos após a sua criação.
Voz do Autismo em Sergipe
Ainda era manhã no Centro Cultural de Aracaju, na Praça General Valadão, quando Emmanuel Moraes, de 13 anos, já se preparava para o lançamento do seu livro. Pensando nos mínimos detalhes do espaço que, na noite desta terça-feira, 17, recebeu admiradores, amigos, familiares e a comunidade, o adolescente esperava ansioso o momento de apresentar seu mais novo projeto à capital sergipana: “A Voz do Autismo em Sergipe”.
Na obra que tem em média 60 páginas, o adolescente relata experiências pessoais vividas antes e a partir do diagnóstico, além de dar dicas para mães e familiares de pessoas autistas. O escritor foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e altas habilidades ainda quando criança e considerou a importância do assunto não apenas para a sua história pessoal, mas para a esfera pública e órgãos governamentais de Aracaju.
“Esse lançamento com apoio de instituições públicas mostra que até nós, que somos excluídos por praticamente todos, podemos, sim, chegar muito longe. Precisa ter esforço, precisa ter incentivo, porque se for depender dos estereótipos que a sociedade coloca na gente, desses limites que as pessoas colocam, a gente não vai chegar em lugar nenhum”, afirma Emmanuel.
Foi a partir da história de Emmanuel e das histórias das mães atípicas que a prefeita Emília Corrêa despertou para a causa. Ela relatou ter conhecido muitas mães que sofrem de forma isolada para cuidar dos seus filhos ou que, ainda, descobrem o autismo a partir do diagnóstico dos filhos.
“O garoto Emmanuel é de uma inteligência e de uma sensibilidade que muitas vezes a gente se impressiona. É um marco esse livro, de um menino de 13 anos que já conta e mostra o compromisso que ele tem com o autismo em Sergipe, com uma obra literária que certamente vai nortear muita coisa”, disse a prefeita.
“Eu penso que o Emanuel vai ser um grande político, um político comprometido, não só com essa causa, mas com o país, com o estado, com o município. Eu torço por isso, porque ele carrega essa verdade e um sentimento muito forte em relação a tudo isso. Parabéns ao Emanuel e também à Conceição, que é a mãezona dele e que é também uma mulher incrível porque defende essa causa e sabe da importância dela”, refletiu Emília.
Maria da Conceição Souza, mãe de Emmanuel, conta que o livro lançado pelo filho é fruto do investimento solidário de duas empresárias que enxergaram seu talento muito cedo. ”O sentimento é de gratidão”, define Maria, que é funcionária pública e revelou não ter nenhuma formação relacionada ao autismo. Ela falou sobre a exclusão ainda persistente.
“Quando eu tive o diagnóstico do meu filho, eu via como a sociedade classificava o autista como alguém incapaz e limitado. Falar sobre o assunto é uma forma de fazer com que essas crianças, esses jovens e, mais tarde, adultos, eles possam crescer mais ainda. Se investir olhando as qualidades deles, investir olhando o potencial que cada um tem, eles vão além. Eu tenho certeza que a prefeita tem esse amor, esse carinho, e ela vai investir na neurodiversidade”.
A Prefeitura de Aracaju abraçou a causa
Desde o começo da nova gestão, em janeiro deste ano, a Prefeitura de Aracaju tem se comprometido com a inclusão e a discussão de assuntos que envolvem a neurodivergência. O primeiro semestre de 2025 foi marcado pela criação da Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Semdef) e da Secretaria Municipal do Respeito às Políticas para as Mulheres (Sermulher) a realização de ações com a comunidade em parceria com outras secretarias municipais.
Com um acolhimento lúdico e humanizado para autistas, a Secretaria Municipal da Família e da Assistência Social (Semfas) realizou um encontro com mães atípicas, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) de Aracaju promoveu ações inclusivas durante solicitação do Passe Livre e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Semed), ampliou o acolhimento e o acesso das mais de 2 mil crianças que precisam de apoio ou mediação na aprendizagem e convivência.
Em abril deste ano, na 87ª reunião geral da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) que aconteceu em Brasília, Aracaju passou a integrar a vice-presidência temática da FNP voltada à pauta que trata da inclusão de pessoas com autismo, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e outras condições cognitivas. “É uma pauta muito cara para nossa gestão. Estar nesse espaço reforça, mais uma vez, o compromisso do nosso município com políticas públicas inclusivas”, disse a prefeita na ocasião.
Já no mês de maio, a prefeita Emília Corrêa assinou o decreto 8.124/2025, que institui a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA). O documento vai assegurar prioridade no atendimento e no acesso a serviços públicos e privados.
Ainda como vereadora, Emília foi autora da Lei Municipal nº 5.762/2023, que criou o Programa de Atenção Integral ao Autismo no Município de Aracaju.
Foto: Karla Tavares/Secom PMA