‘Sem anistia, sem carestia e por mais direitos’, a classe trabalhadora de Sergipe caminhou pelas ruas do Bairro Santa Maria, em Aracaju, na manhã do dia 1º de maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.
A roda de capoeira do grupo Netos de Angola do Bairro Santa Maria abriu o protesto com o legado da cultura afrobrasileira. O som do berimbau convidou a população à reflexão sobre as condições de vida e exploração dos trabalhadores que ainda lutam por liberdade, pelo direito à vida além do trabalho, contra o retrocesso democrático e contra a perda de direitos.
“O dia do trabalhador e da trabalhadora é todo dia, mas o 1º de maio tem um significado que é um dia de luta por melhores condições de trabalho, por melhores salários, por mais direitos. Estamos hoje nesta luta sem anistia, sem carestia e por mais direitos!”, declarou a vice-presidenta da CUT/SE, Caroline Santos, no início da manifestação.
Em seguida, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) efetuou a plantação de mudas simbolizando a vida de cada companheiro e companheira assassinados na luta pela Reforma Agrária no Brasil.
“Lutamos incansavelmente por direitos iguais para que possamos avançar nas políticas públicas voltadas tanto para a agricultura familiar e para fortalecer a cidade, o pessoal que vive nas periferias e nas comunidades tradicionais. Lutamos pelo direito de se manifestar, por uma sociedade mais justa e mais solidária. Viva a classe trabalhadora, viva a reforma agrária, viva o povo organizado que luta, viva a democracia. Queremos Bolsonaro na cadeia e todos os seus aliados que tentaram derrubar a nossa democracia”, declarou Cleosvalda Maria Goes, dirigente nacional do MST.
Contra a Reforma Administrativa e pela Revogação das Reformas da Previdência e Trabalhista
Em defesa do serviço público e contra a Reforma Administrativa, o presidente do SINDISAN Sílvio Sá criticou o retrocesso representado pela entrega do saneamento, captação e tratamento de água para a iniciativa privada em Sergipe.
O presidente do SINDIPREV/SE, Deivid Christian, falou sobre o golpe milionário praticado por empresas contra aposentados e aposentadas.
“A população foi roubada por empresários espertalhões e este é um caso de polícia. É preciso que todos os ladrões sejam punidos, o dinheiro da população tem que ser devolvido urgentemente. Não podemos deixar criminalizar as entidades sérias que há muito tempo trabalha em defesa dos trabalhadores do campo e da cidade é precisa separar o joio do trigo. E reforçamos a necessidade de defender os trabalhadores do INSS assim como o Instituto. O nosso serviço não pode ser entregue para terceirizados, para militares e para estagiários. É imprescindível a realização de concurso público e a restruturação do INSS. Mudanças profundas precisam ser feitas e junto a essas mudanças é preciso enfatizar a necessidade de fortalecimento do serviço público de qualidade no INSS e em todos os setores. Por isso somos contra a Reforma Administrativa que destrói ainda mais o serviço público no Brasil”, afirmou Deivid.
A população Brasileira sofre os efeitos da Reforma da Previdência de Bolsonaro que ainda hoje impede trabalhadores de se aposentar. O SINDIMINA/SE e o SINERGIA, presentes no protesto, ressaltaram que trabalhadores que atuam em áreas de risco à vida e à saúde perderam o devido direito à Aposentadoria Especial que lhes era garantida antes da reforma, e isso precisa mudar com urgência, por isso a revogação da Reforma da Previdência foi uma das pautas do 1º de maio.
Por mais direitos para a classe trabalhadora
A revogação da reforma trabalhista foi pauta do 1º de maio porque ela permite a precarização do vínculo do trabalhador brasileiro e uma situação de exploração sem direitos que não pode ser ignorada pela população.
A Fetam/Se (Federação dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Sergipe) participou do protesto do 1º de maio junto aos dirigentes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Poço Verde (Sindserv-Poço Verde), o Sindicato dos Servidores de São Francisco (SINDSF), o Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Muribeca (SEPUMM), o Sindicato dos Servidores Municipais de Nossa Senhora do Socorro (Sindsocorro), o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Monte Alegre (SINTEGRE) e o Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde de Itabaiana (SINDACSEI).
A presidenta da Fetam/Se, Vanessa Ferreira, destacou a força da mobilização e a união das entidades. “O 1º de maio não é dia de festa, é dia de resistência. Estivemos nas ruas com coragem, dizendo não à anistia dos golpistas, não à fome e à miséria, e sim à dignidade e aos direitos. Seguiremos firmes na construção de um serviço público forte, com valorização dos servidores e políticas sociais para o povo”, expressou.
O Sindoméstico/SE participou da manifestação lutando contra a precarização das condições de trabalho, no combate ao emprego informal e pelo cumprimento em Sergipe dos direitos conquistados pelas trabalhadoras domésticas do Brasil.
Novo sindicato filiado à CUT, o Sindiscose engrossou a marcha levando a pauta unificada da classe trabalhadora. O Sindijor/SE também participou da manifestação para cobrar respeito e valorização dos jornalistas de Sergipe, pela obrigatoriedade do diploma de Jornalista para o exercício da profissão e para fortalecer a luta pelo direito à informação, que é um requisito fundamental para a democracia.
Contra a Escala 6×1 e Sem anistia para golpistas
A luta pelo direito à vida além do trabalho ganhou destaque no 1º de maio de 2025. O coordenador geral do SINTECT/SE, Jean Marcel reforçou que a classe trabalhadora não pode aceitar retrocesso democrático nem retrocesso de direitos trabalhistas. Marcel criticou a falta de atendimento no Plano de Saúde dos trabalhadores dos Correios.
“Estamos aqui para levantar a bandeira contra a escala 6×1, por uma vida digna, pelo direito à vida além do trabalho, pelo fim do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil e pela taxação dos mais ricos. Essa é a pauta que interessa à classe trabalhadora. Somos contra a anistia aos golpistas que queriam instalar uma ditadura onde a gente não teria nem o direito de estar nas ruas dizendo o que a gente pensa”, afirmou Jean Marcel.
Representando a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação), a diretora da CUT e do SINTESE, Ivonete Cruz, destacou que será preciso da união dos trabalhadores para vencer essa batalha pelo fim da escala 6×1. “É a classe trabalhadora que constrói todas as riquezas deste País e não pode continuar sendo explorada, massacrada e perdendo direitos”, afirmou Ivonete Cruz. A professora também esteve presente na Marcha da Classe Trabalhadora, em Brasília, que no dia 29 de abril entregou a pauta com 26 reivindicações ao presidente Lula.
A professora Sandra Beiju, vice-presidenta do SINDIPEMA, declarou que: “essa forma de trabalho que temos na sociedade tem acumulado consequências graves em toda a sociedade, muitas vezes é o abandono das próprias crianças. As famílias trabalham de forma absurda e desumana. O único dia livre é para lavar roupas, fazer a comida da semana e limpar a casa. Essa é a triste realidade da população trabalhadora de Sergipe. Por isso é preciso lutar contra a escala 6×1”.
Enquanto o Congresso Nacional não aceita conceder aos trabalhadores 3 dias de folga e 4 dias de trabalho semanal, os deputados e senadores só têm obrigação de trabalhar 3 dias por semana.
Desigualdade parecida foi denunciada pelo SINDIJUS no protesto do 1º de maio quando a dirigente Analice Soares alertou a população que juízes sergipanos recebem auxílios-folga de até R$ 13 mil, indenizações de férias e licenças, além dos subsídios de R$ 35 mil a R$ 41 mil – tudo isso podendo trabalhar apenas três dias por semana. No dia 27 de abril, o SINDIJUS lançou um site para pressionar o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) a acabar com o olho grande da justiça.
Contra a desigualdade social e econômica enorme que existe no Brasil, o protesto do 1º de maio lutou: por moradia digna para todos; abaixo o preço dos alimentos; contra o capitalismo que explora os trabalhadores e destrói o meio ambiente; abaixo o arcabouço fiscal, por mais recurso para a saúde, educação, moradia e políticas sociais.
Por Iracema Corso – Foto: Paulo Ribero