O trabalho no campo é feito através de várias mãos que, juntas, garantem que o alimento chegue à mesa das pessoas. Muitas dessas mãos atravessam gerações, dando continuidade ao trabalho e ao legado marcado pela outra. É essa continuação que mantém viva a sucessão rural, fortalece a segurança alimentar e o abastecimento local dos alimentos, como as feiras livres, frutarias e supermercados.
Para muitos, é através da agricultura familiar que o sustento da família é garantido. Isso só é possível graças às novas gerações, que dão continuidade e não permitem que o trabalho no campo deixe de existir. No povoado Rio Fundo, localizado em Lagarto, município sergipano, as dificuldades diárias do campo e os atrativos da capital não impedem que as atuais gerações da família Nascimento deem sequência ao trabalho iniciado há muitas décadas, tornando a sucessão rural uma realidade.
Seu Canísio Nascimento, 36, é produtor rural desde os oito anos de idade. Ele iniciou na área da agricultura familiar através do incentivo do pai, que deu continuidade ao trabalho iniciado pelo avô. Hoje, é muito comum ver crianças participando da lida na roça de seu Canísio. Seu filho José Natan, 6, e sua afilhada Maria Júlia, 8, participam desde a plantação e colheita até o manejo com os animais, tudo isso com supervisão de um adulto: o próprio seu Canísio.
“É um prazer ter meu filho e minha afilhada aqui na roça, porque, quando a gente não puder mais trabalhar, eles podem dar continuidade. Quando eles estão aqui é mais divertido. Eu ensino a fazer tudo: o que eu faço, eu ensino eles a fazer, digo como é que faz e eles ficam à vontade. Eu sempre penso na importância da continuidade, porque, se faltar mão de obra, vai faltar o alimento na mesa. Tem que plantar para colher”, detalhou o produtor.
Além da importância da sucessão rural, seu Canísio também ressalta o orgulho que sente em ver seu filho e sua afilhada demonstrando interesse em dar continuidade ao trabalho iniciado por suas gerações passadas. “É daqui que eu sustento a minha família e de onde meu pai sustentou a mim e aos meus dois irmãos. Sempre ensinei ao meu filho a importância da continuidade. Trouxe ele a primeira vez para ver se ele gostava, e ele gostou. Deixo claro que ele vai seguir o caminho que quiser, mas, se quiser dar continuidade ao meu legado, estou aqui para incentivar. Além disso, é um grande orgulho para mim ter minha afilhada aqui com a gente. Vejo como uma novidade por ela ser mulher e querer estar aqui, pois tem muitas meninas que querem ir para a cidade, e sempre que venho para cá ela quer estar comigo aqui e tem todo o meu incentivo”, pontua.
Novas gerações na agricultura familiar
José Natan tem apenas seis anos de idade, mas, para ele, a profissão que deseja seguir já está muito clara em sua mente: médico veterinário. Parte dessa escolha é fruto da sua rotina diária na roça do pai, onde desenvolveu a paixão pelos animais de grande porte, como vacas e cavalos. “Eu gosto da roça igual ao papai. Gosto de plantar fumo, tomate e abóbora, tirar leite da vaca, montar a cavalo, tudo isso aprendi com o meu papai. Quando eu crescer, quero ser médico que cuida dos animais e fazer tudo o que meu papai faz”, comenta.
Maria Júlia, 8 anos, tem em sua mãe uma grande representatividade feminina, como auxiliar de faturamento em um hospital localizado na cidade. Mas o desejo de seguir os caminhos traçados na roça por seus antecedentes vibrou mais forte no seu coração. Desde muito cedo ela foi familiarizada com a vida no campo e também deseja ser médica veterinária, assim como Natan. “Eu me sinto muito feliz aqui na roça. O que mais gosto de fazer é tirar leite, é muito legal. Me lembro da primeira vez que tirei: comecei com cinco anos e não parei mais. Quando eu crescer quero ser médica veterinária para cuidar dos bichos e continuar aqui na roça, como meu padrinho”, disse.
Papel da gestão municipal à sucessão rural
Devido aos atrativos das capitais, o êxodo rural tornou-se um dos grandes desafios para a agricultura familiar, pois, em algumas situações, as crianças e jovens que seriam a continuidade das produções agrícolas e rurais da família optam por se deslocar para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida e novas oportunidades de trabalho.
O secretário de Agricultura do município, Luciano Júnior, destaca a importância da sucessão rural e o empenho da gestão municipal em fazer com que os jovens sejam o futuro promissor da agricultura familiar da cidade. “A sucessão rural é um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma das maiores prioridades para garantir o futuro da nossa agricultura. Lagarto tem uma tradição forte no campo, com famílias que há gerações vivem da terra, e é essencial que os filhos se sintam motivados a continuar esse legado. A Secretaria de Agricultura trabalha para valorizar o papel dos jovens no campo, incentivando que permaneçam em suas comunidades com orgulho, esperança e perspectiva de futuro. Queremos que eles enxerguem na agricultura uma oportunidade real de crescimento e realização”, ressalta.
Foto Karol Farias/Secom Lagarto.