Desde o início da manhã da última segunda-feira, 9, estudantes das mais diversas redes e modalidades de Educação fizeram-se presentes na 45ª Festa de Retomada das Terras do Povo Xokó. Este é o momento do ano em que os indígenas abrem sua comunidade para receber os não indígenas de diversas partes do país. A festividade acontece tradicionalmente na Aldeia Indígena Xokó, localizada na Ilha de São Pedro, às margens do rio São Francisco, no município de Porto da Folha, em Sergipe.
O estudante Kauã Rozendo, aluno do Centro de Excelência 28 de Janeiro, do município de Monte Alegre de Sergipe, comentou que essa foi a primeira vez que visitou a Ilha de São Pedro. “Mesmo morando tão perto, eu nunca tinha vindo aqui. Eu conheci a igreja, a escola, conversei com alguns alunos e achei a experiência muito produtiva”, afirma.
O aluno Gradson Ezequiel Guimarães Santos, da Escola Municipal Thomas Alves de Andrade, do município sergipano de Pedrinhas, gostou tanto da experiência que disse querer voltar. “Achei muito linda a apresentação do toré e gostei muito dos enfeites que eles vendem. Também gostei muito desse local, da mata da Caatinga e do rio São Francisco. Se um dia eu puder, quero voltar para cá”, destaca.
A aluna Izabelly Gomes, da Escola Estadual Padre Francisco Correia, de Santana do Ipanema, em Alagoas, disse se sentir muito feliz de participar da festa. “É a primeira vez que eu estou aqui neste território. Eu estou achando tudo muito interessante e diferente. É um choque cultural que vale a pena ser vivenciado. Além disso, ter que navegar pelo rio Velho Chico para chegar na aldeia é uma sensação indescritível”, acrescenta.
Na avaliação dos alunos indígenas, abrir a comunidade e a escola para pessoas de fora é importante por contribuir para dar mais visibilidade à cultura e à história do povo Xokó, além de conquistar a simpatia e o respeito dos não indígenas. “A gente não trabalha a nossa história apenas no 9 de setembro. Durante todo o ano letivo, os professores trabalham com a gente a importância de valorizarmos a nossa cultura”, frisa a aluna do ensino médio Lívia Xokó.
“Na escola, a gente trabalha a data do 9 de setembro e também o 19 de abril, enfatizando a importância dos nossos ancestrais na luta pela retomada das nossas terras. A gente trabalha histórias de vida e as imagens deles e expõe na escola cartazes para que os visitantes possam conhecer um pouco mais da nossa história. Eu acho isso importante para dar mais visibilidade às lutas do nosso povo e também para que os não indígenas saibam que os Xokó são indígenas e não indigentes”, argumenta o estudante do ensino médio Gustavo Xokó.
A diretora da Diretoria Regional de Educação do Alto Sertão Sergipano (DRE 7), Elaine Tomé, também marcou presença na festividade. Para a gestora de Educação, a festa é significativa e merece ser vivenciada, ao menos uma vez, por cada sergipano. “Hoje faz 45 anos de luta, de resistência e da independência de um povo que sempre lutou pelo seu espaço. A realização tradicional desta festa é muito importante para manter a nossa história viva. Além disso, é um momento singular, pois a comunidade se abre para receber visitantes de vários cantos do mundo, dentre eles nossos estudantes e estudantes de outros estados. Essa troca de conhecimentos e experiências é muito positiva, pois gera empatia e respeito”, finalizou.
Também marcaram presença na festividade professores e estudantes universitários da Universidade Federal de Sergipe (UFS), da Universidade Tiradentes (Unit) e da Faculdade Pio Décimo.
Sobre a festa
Ao chegar à Ilha de São Pedro – antigo aldeamento comandado pelos Capuchinhos -, os alunos são acolhidos pela comunidade com suas típicas barraquinhas de artesanato indígena, lanches e bebidas. Enquanto aguardam a chegada dos Xokó do Ouricuri (espaço sagrado na mata), os jovens não-indígenas aproveitam o tempo para percorrer a aldeia, contemplar o rio São Francisco, visitar a Igreja de São Pedro – tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) -, e conhecer o Colégio Estadual Indígena Dom José Brandão de Castro – única escola com educação indígena diferenciada no estado de Sergipe.
O Toré é considerado o ponto alto da festa. É neste momento que os guerreiros e as guerreiras Xokó cantam e dançam, num ritual de agradecimento às lutas e às conquistas de seu povo. O ritual indígena encerra-se com o convite do Pajé para que todos os visitantes que assim desejarem sejam abençoados com a Jurema (bebida consumida nos rituais indígenas). Um corredor de guerreiros e guerreiras Xokó é formado, permitindo que os não indígenas sintam a vibração do momento. Logo após, indígenas e não indígenas encaminham-se para a Igreja de São Pedro para celebrar a Santa Missa.
A edição deste ano contou também com o lançamento do documentário ‘Velho Chico, a alma do povo Xokó’.
Foto: Michele Becker