O Monumento Natural Grota do Angico, unidade de conservação de Caatinga com mais de 2.200 hectares, localizada entre os municípios sergipanos de Canindé de São Francisco e Poço Redondo, no alto sertão, recebeu, na última segunda-feira, 28, centenas de pessoas para a 28ª Missa do Cangaço.
O ato religioso é realizado em memória de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros mortos na emboscada do dia 28 de julho de 1938 naquele local. O evento, que transcende o aspecto cultural, impulsiona o turismo e a memória do sertão sergipano.
A caminhada até a Grota do Angico, uma trilha pela Caatinga, foi iniciada nas primeiras horas da manhã. Os turistas e visitantes foram acompanhados por guias de turismo, que compartilharam histórias, curiosidades e elementos culturais do cangaço, proporcionando uma verdadeira imersão, que culminou na missa celebrada por um padre. Marcada por cultura, história e reflexão no local emblemático, a celebração religiosa fortalece, também, a identidade histórica nordestina e a preservação da Caatinga, por meio de ações de educação ambiental. Além da missa, o evento incluiu apresentação de um grupo de xaxado e encenação teatral temática.
O secretário de Estado do Turismo, Marcos Franco, observa que o evento vai além de uma celebração religiosa, pois visa não apenas lembrar a morte dos cangaceiros, mas, também, humanizar os envolvidos no famoso episódio. “A Missa do Cangaço é parte do fortalecimento do turismo histórico-cultural da região, e a Grota do Angico tem um peso simbólico muito forte. Podemos ver isso a cada ano, com mais e mais pessoas que fazem a trilha não apenas para homenagear, mas, também, para entender o que foi o cangaço”, avalia.
Marcos Franco aproveita para agradecer à Prefeitura Municipal de Canindé de São Francisco e à empresa MFTur pela parceria e apoio logístico. “Por ser um evento de grande relevância turistico-cultural não somente para Canindé, mas, também, para todo o estado, as parcerias público-privadas foram fundamentais para divulgar mais fortemente esse evento da Rota do Cangaço”, explica o gestor.
Emoção e gratidão
Para a jornalista Vera Ferreira, neta de Lampião e Maria Bonita, o momento é sempre emocionante e de gratidão, pois representa uma parte da história dos avós dela. A herdeira do Rei do Cangaço destaca também que é importante a presença de turistas, historiadores e curiosos, entre eles, muitos jovens. “Essa vivência guiada e comentada é uma forma de manter viva a memória do cangaço, e isso me toca profundamente. Essa missa celebrada há 28 anos é uma forma de as pessoas conhecerem o local e de que a história seja transmitida às novas gerações, que, muitas vezes, não aprenderam essa parte da história nos livros escolares” declara.
Galileu da Silva Farias, de Porto de Folha, município do alto sertão, participou pela sétima vez do ato religioso. Segundo ele, a energia da trilha e a paisagem em todo o contexto da Caatinga são muito fortes. “Para mim, é muito importante participar da Missa do Cangaço, porque é uma história rica. Lampião foi morto em Porto da Folha, minha cidade, por isso sempre retorno aqui, embora, atualmente, a área da grota pertença à cidade de Poço Redondo. Acho muito importante a pessoa vir aqui visitar. Eu, por exemplo, sinto algo diferente, uma energia que remonta o passado”, afirma.
A professora aposentada de História, Leila Matos Oliveira, também participa há alguns anos da celebração. Ela enfatiza que, assim como outros movimentos sociais do Nordeste, é preciso as pessoas conhecerem o do cangaço, que, na opinião dela, é pouco estudado e mal interpretado. “É necessário que a gente considere a importância do cangaço na história do Nordeste brasileiro. Todo sergipano deve conhecer a própria história. Por isso, estimulo as pessoas a conhecerem esse fato histórico, afinal, resgatar esse movimento é muito importante”, frisa.
Foto: Max Carlos/Setur