Por Carlos Morais Vila-Nova*
As subidas e descidas da ladeira do bairro Porto D’Areia são mais literais do que as ditas em cantos e versos. A visão da natureza imponente, embora não lapidada, tem particularidades atraentes de visitação em razão da área bela inclinada, beira de maré e pelos resquícios de mata atlântica. Os restos de construção com paredes de espessura exagerada e um velho trapiche à frente das águas do rio Piauí misturadas com as do oceano são marcas duma área portuária de outrora, com chegada e saída de embarcações marítimas, recebimento e armazenamento de mercadorias.
De verdade, o bairro já recebeu significativas melhorias em gestão passada com a edificação da estátua do Cristo Redentor e urbanização. Mas, o projeto da nova orla do Porto D´Areia, que foi anunciada pelo prefeito André Graça como mais uma iminente obra da sua gestão, constitui-se num empreendimento de grande importância para o progresso do bairro e população.
Relembrando, sendo saudosista ou não; mas, em décadas passadas presentear cartões-postais de pontos turísticos, vendidos em bancas e lojas, era muito usual como forma de lembrança e compartilhamento de viagens. Desse modo, para ilustrar, imaginando um cenário à frente, o Porto de Estância poderá ser o melhor cartão-postal.
Além da beleza natural e da robusta história, até por ter sido reduto dos quilombos, que fazia forte resistência à escravidão; a grandeza do bairro vem dessas raízes africanas, que foram transmitidas de geração em geração, como alicerce para as festas juninas de Estância.
Registros escritos fazem chegar a essa conclusão, que sobressaiu nos festejos de junho, comprovando a relevância do bairro. Para isso, basta citar a caminhada em homenagem ao ilustre Chico Surdo, criador do barco de fogo, em ritmo de batucada, saindo do Porto D’Areia, numa visível e contagiante energia entre os presentes; e mais à frente, nesta mesma linha, a festa dos fogueteiros no início deste mês de julho.
Deveras, a tradição dos fogos, das batucadas e das festas de rua, que são os maiores atrativos da enraizada cultura estanciana, provém de longas datas, sob as formas de ritual e coletiva, com a participação da comunidade do Porto D’Areia. Assim, os buscapés, as espadas e os barcos de fogo são feitos pelos mestres fogueteiros, barqueiros e trovadores; cujos ensinamentos vêm de longe e chegaram aos dias atuais.
Por conseguinte, meio à tradição pujante e potencialidade turística do bairro, a notícia desse empreendimento de grande valia, anunciado pela administração municipal, que além do embelezamento trará mais geração de rendas e melhoria às condições de vida da população; consiste num passo robusto para uma Estância mais paritária em saneamento básico, calçamento e iluminação; vislumbrando padrão mais igualitário, via construção da nova orla, aproximando com mais igualdade as praças e ruas contíguas, que vão do bairro Alagoas, Centro até chegar ao bairro Porto D’Areia.
Desse modo, mesmo não voltando os velhos cartões-postais, o importante é que venham turistas, fazendo selfies, fotos, vídeos, de melhores imagens da orla do Porto D’areia; e que se espalhem pelo Brasil afora.
*Carlos Morais Vila-Nova é advogado de Estância, bancário aposentado